7 de agosto de 2015

Sobre o preconceito em relação ao Brasil | Vida de Leitora #13

Esta semana concluí a leitura de Til, clássico do Romantismo Brasileiro escrito por José de Alencar. A decisão de realizar a leitura surgiu depois de assistir ao vídeo da Tatiana Feltrin, que me convenceu a dar uma chance para uma obra que, provavelmente, jamais atrairia o meu interesse de outra forma. Digo isso porque José de Alencar figurava na minha lista de autores mais detestados, decisão que resultava diretamente dos anos de Ensino Médio. Odiei tanto Iracema que até hoje, só de pensar no livro, sinto um tipo de arrepio sinistro. Assim, não só me surpreendi por ter decidido ler outra obra de Alencar, mas também por ter adorado a leitura a ponto de considerá-la uma das favoritas do ano! 

Esta experiência reveladora me fez perceber o quão receosa ainda sou em relação aos clássicos brasileiros. Não, a melhor palavra é preconceituosa. É, isso aí, eu, Michelle, tenho preconceito com os clássicos nacionais e isso não faz o menor sentido porque eu adoro ler clássicos, principalmente aqueles escritos no século XIX. Ainda não sei apontar a origem do meu preconceito, mas tudo me leva a crer que boa parte dele surgiu por conta daquela história de leituras obrigatórias (que já discutimos aqui) e daquele hábito horroroso que quase todos nós, brasileiros, temos de sempre olhar para as nossas produções culturais com cara feia e nariz torcido, sempre esperando o pior. 

Ao ler Til, percebi que clássicos brasileiros são clássicos como quaisquer outros; têm a sua importância e o seu valor por representarem um povo e um período, sobrevivendo aos séculos até chegarem a nós. É importante saber sobre o passado para que possamos compreender o porquê de sermos como somos e aprender com nossos erros e acertos. Dito isto, através da leitura dos clássicos podemos enxergar o ser humano de outro tempo e analisar as diferenças que sua sociedade tem em relação à nossa. É muito legal perceber que sei um pouco sobre as sociedades inglesa, americana e francesa do passado; mas por que não penso o mesmo quando penso na minha, na sua, na nossa sociedade brasileira?

A Isabella Lubrano, do canal Ler Antes de Morrer, fez um vídeo ótimo questionando o fato de, na maioria dos casos, priorizarmos os livros estrangeiros e apresentando motivos para também lermos literatura nacional. E de todas as muito válidas razões, a que mais dialogou comigo foi a de que quando lemos livros nacionais estamos lendo sobre a nossa realidade, sobre nós, sobre o nosso país. E aí, comecei a pensar com meus botões: de que me adianta entender diferentes sociedades do mundo se não compreendo nem a minha? Isso mesmo, sou brasileira há 25 anos e o que sei do meu país é a realidade de classe média privilegiada de São Paulo. E, obviamente, o Brasil é bem mais que isso. 

Por favor, entendam que com isso não quero dizer que todos devem ler todos os clássicos; falo deles porque estão de acordo com o que eu gosto de ler, mas tudo isso se aplica à literatura brasileira em geral. Percebo que hoje - na verdade, acho que sempre foi assim - há um grande prazer geral em falar mal do Brasil e dos milhares de defeitos que este país tem, sempre comparando com a realidade de países de primeiro mundo. Não, nosso país não é perfeito; aliás, está muito longe disso e muita coisa precisa mudar para que consiga chegar perto de outros países. Penso assim: se vamos criticar algo, precisamos tentar conhecer melhor o objeto de nossas críticas. Não basta se basear apenas em algum conteúdo jornalístico tendencioso, ou em correntes mentirosas compartilhadas pelo Facebook e pelo Whatsapp. É necessário se informar e exercer o pensamento crítico.

Não é segredo para ninguém que a literatura ajuda muito no desenvolvimento do pensamento crítico; e mais que entretenimento, ela nos permite acessar o conhecimento. Assim, por meio da leitura dos clássicos nacionais – e dos livros contemporâneos também! -, não só podemos encontrar histórias interessantes e divertidas, mais também entender a História do Brasil e os acontecimentos que levaram ao momento que vivemos.

Escrevi este texto enorme (se você conseguiu chegar até aqui, muito obrigada e meus parabéns!) para tentar explicar que quero valorizar mais a produção cultural brasileira (em especial, a literatura) porque ela é um retrato do país e dos cidadãos que nele vivem. Isso significa que vou adorar tudo o que eu ler? Não, afinal de contas não sou obrigada a isso. Mas será muito mais fácil encontrar coisas de que eu goste se me livrar do preconceito e encarar tudo com uma mente mais aberta. Se eu não fizesse isso, jamais saberia que José de Alencar escreveu um livro que me agradaria e quem sairia perdendo seria eu, certo?

Texto originalmente publicado na coluna Literalmente Falando, do blog Literature-se.

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