17 de abril de 2015

Sobre expectativas | Vida de Leitora #12

Hoje vamos conversar sobre expectativas, as grandes culpadas por - na maioria das vezes - não gostarmos de uma leitura, ou gostarmos mais do que esperávamos. Penso que muitas de nossas impressões em relação a um livro dependem muito do que pensávamos ou esperávamos deles antes da leitura; e estes fatores estão relacionados à expectativa.

Recentemente, li o bastante comentado Americanah, de Chimamanda Ngozi Adichie. Confesso que logo que o livro foi lançado não tive interesse em lê-lo, porém, minha curiosidade surgiu e cresceu muito conforme eu lia ou assistia as impressões de muita gente que acompanho. A opinião que me pareceu geral é a de que o livro é maravilhoso e provavelmente se transformará em um clássico contemporâneo. Assim, concluí que a leitura seria, no mínimo, interessante e resolvi encarar suas mais de 500 páginas.

Gostei? Sim, mas não tanto quanto imaginei gostar. Tive alguns problemas com a leitura e com a escrita da autora que não convém mencionar no momento. A questão é que meu interesse pela leitura de Americanah surgiu depois de ver as opiniões de outras pessoas e por alguma razão inexplicável aceitei sem margem para erro que o livro é uma obra-prima da literatura contemporânea, sem defeitos, a definição da perfeição. E, obviamente, me frustrei, porque não achei nada disso do livro da Chimamanda. Isso quer dizer que os outros leitores estavam mentindo ao dizerem que o livro é bom? 
Claro que não, estavam apenas expressando as opiniões deles, oras. Errada fui eu que, a partir destas opiniões, passei a enxergar o livro como algo de outro mundo sem sequer ter lido uma página do mesmo, entendem?

Não estou dizendo que é errado esperar algo de uma leitura ou levar em consideração a opinião de outros leitores. Mas prefiro acreditar que, inicialmente, um livro é apenas um livro que poderá, ou não, me agradar; e esta decisão deve ser feita tendo como base apenas a minha experiência com a leitura, sem interferências externas resultantes de expectativas.

Quando leio um livro e não gosto de alguns aspectos, fico incomodada, mas aceito razoavelmente bem os problemas. Porém, quando decido acreditar que a leitura é a nova obra-prima do mundo e encontro nesta algum “defeito”, fico extremamente irritada, me sinto enganada e revoltada. E isso não faz sentido algum, porque ninguém pode garantir com 100% de certeza que qualquer livro publicado é a melhor coisa que já foi escrita. E vale lembrar que o que é bom para mim, pode não ser bom para outra pessoa, certo? Logo, é realmente impossível afirmar de forma objetiva que um livro é horrível ou incrível, porque é tudo uma questão de perspectiva.

Sabendo de tudo isso, evito ao máximo me deixar influenciar por resenhas, sejam estas positivas ou negativas, a respeito de um livro que tenho interesse em ler. Porém, confesso que esta é uma missão difícil quando se trata de um livro bastante popular e comentado, porque sempre sou levada a crer que as páginas em questão irão me encantar ou decepcionar. Porque, sim, há também a possibilidade de as expectativas serem negativas; mas neste caso, acho que a experiência de leitura não é tão afetada e o resultado é agradável. Ano passado, quando comecei a ler Mentirosos, de E. Lockhart, já havia visto tantas opiniões sobre o livro que estava esperando me decepcionar e me culpar por ter perdido tempo com um livro ruim. No entanto, o que aconteceu foi justamente o oposto e me surpreendi.

Ou seja, expectativas podem ajudar ou atrapalhar muito. Ainda assim, prefiro que elas não existam. Prefiro me entregar a uma leitura sem esperar nada – nada mesmo, nem bom e nem ruim – e deixar que a história e a narrativa me mostrem se fiz uma boa escolha ou se apenas perdi o meu tempo. É difícil agir dessa forma e, como ficou claro pelo primeiro exemplo, nem sempre dá certo; mas, quando funciona, é ótimo e me poupa do estresse que é terminar um calhamaço com um sentimento de frustração. Digo isso porque se não tivesse esperado muito de Americanah, poderia até ter gostado mais dele.

Assim, meu conselho como leitora para vocês, também leitores é: não criem expectativas, nunca. 

Texto publicado originalmente na coluna Literalmente Falando, do blog Literature-se.

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