27 de março de 2015

Sobre spoilers | Vida de Leitora #11


Esta semana concluí a leitura de Razão e Sensibilidade, de Jane Austen, e fui correndo para a internet procurar opiniões de outras pessoas sobre o livro. Um dos vídeos que mais gostei de assistir foi o da booktuber canadense Ariel Bissett (para assistir, clique aqui), que aborda os principais temas tratados na obra clássica e comenta também sobre suas partes preferidas. Porém, enquanto assistia Ariel falando sobre as suas impressões de leitura deparei com uma indagação de minha parte e, creio, da parte de muita gente.

Em certo ponto do vídeo, Ariel fala sobre uma descoberta realizada pela heroína Elinor Dashwood apenas na metade do livro, revelando um trecho essencial do enredo. Assim, não pude deixar de pensar "pera, mas assim estraga a experiência de quem não leu o livro ainda". E aí, me pergunto: o que é um spoiler? Até quando a revelação dos acontecimentos de um livro pode ser considerada um spoiler?

Aos que não estão familiarizados com o termo, spoiler deriva da expressão de língua inglesa to spoil, que em uma tradução livre seria algo como estragar, e não diz respeito apenas ao universo literário; filmes e séries de televisão também podem ser estragados pela revelação de spoilers. Assim, se você não quer saber o que vai acontecer com o seu personagem preferido de um seriado, por exemplo, é muito importante ter cuidado por onde anda nesta terra de ninguém chamada internet. Vivemos em uma era muito ágil e é apenas uma questão de minutos até que uma informação caia da rede. Mesmo assim, com todo o cuidado do mundo, você ainda corre o risco de descobrir o desfecho de um livro antes de lê-lo. E aí, novamente, questionamos o que é, de fato, um spoiler.

Por exemplo, O sangue do Olimpo, desfecho da série Os heróis do Olimpo, foi lançado no final do ano passado e tem muita gente que ainda não o leu (tudo bem que estamos em março, mas livros demandam mais tempo que filmes, certo?). Então, se em uma conversa entre dois amigos, um revela ao outro o que acontece no final, penso que a revelação é um spoiler, visto que estragou a experiência daquele que ainda não leu. Por outro lado, temos os clássicos, como o citado Razão e sensibilidade, escrito há mais de 200 anos. Seria a revelação de um aspecto do enredo um spoiler? Tendo em vista que estamos falando de uma obra que sobreviveu a dois séculos, já foi adaptada para cinema e televisão e é encontrada em diversas referências na cultura pop, é de imaginar que muita gente já saiba o que acontece na história e, por isso, falar sobre fatos reveladores da trama não necessariamente é considerado um spoiler, certo? Não sei.

Há quem diga que qualquer informação que entregue muita coisa do enredo é um spoiler, não importa há quantos anos a obra exista. Há aqueles que entendem como spoiler qualquer revelação de acontecimentos de obras recentes e não se importam se descobrirem o final de um clássico, por exemplo. Eu, particularmente, evito buscar qualquer tipo de informações relacionadas aos livros que estou lendo ou tenho a intenção de ler. Faço isso porque gosto que meu contato com uma obra não sofra interferências externas e eu possa formar as minhas impressões com base no que eu, de fato, consegui capturar da leitura. Da mesma forma, evito comentar acontecimentos que considero reveladores - mesmo em clássicos - em minhas resenhas; se por alguma razão precisar falar o que acontece, aviso que spoilers virão. Assim, a pessoa decide se quer continuar a ler a resenha ou a assistir ao vídeo.

Esta é uma discussão na qual creio que não exista um certo e um errado, mas sim diferentes pontos de vista. Por isso, não consigo encontrar uma solução para o meu dilema.

Texto originalmente publicado na coluna Literalmente Falando, do blog Literature-se. 

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