21 de março de 2014

O Ladrão do Tempo (John Boyne)

Matthiew Zéla nasceu em Paris no século XVIII e tinha 15 anos quando viu sua mãe ser brutalmente assassinada por seu padrasto. Após o julgamento e condenação do culpado, Matthiew resolve ir embora da França junto com Tomas, seu meio-irmão de seis anos. Em um navio para a Inglaterra, os dois conhecem Dominique Sauvet, uma jovem muito bela por quem Matthiew logo se apaixona. Juntos, eles formam uma família e buscam melhorias para o futuro.

Ao final do século XVIII, Matthiew percebe algo peculiar a seu respeito: ele parou de envelhecer e, consequentemente, não pode morrer. Em suas próprias palavras: Eu não morro. Apenas fico mais e mais velho. Se você me visse hoje, com certeza diria que sou um homem perto dos cinquenta anos. Sem compreender os motivos que levaram isto a acontecer, ele apenas aproveita o tempo extra que lhe foi concedido. Ao contrário da maioria dos personagens imortais encontrados na literatura, na televisão e no cinema, Matthiew gosta de viver, gosta de saber que os anos passarão e que ele continuará por aqui. Com o decorrer dos séculos, o protagonista não deixa de perceber um padrão relacionado à Tomas e seus descendentes; todos parecem morrer de forma trágica por volta dos vinte e poucos anos, após terem engravidado alguma mulher.

Utilizando uma narrativa em primeira pessoa e dividida em três partes que se intercalam, John Boyne apresenta ao leitor um panorama geral dos principais acontecimentos que marcaram o mundo nos últimos dois séculos, como a Revolução Francesa, o renascimento das Olimpíadas, o início da Revolução Industrial, a Hollywood dos anos 1920, a quebra da bolsa de valores de Nova York, entre outros. O livro tem início com Matthiew contando os acontecimentos atuais de sua vida no ano de 1999, quando trabalha como acionista em uma emissora de televisão e toma conta de Tommy, um dos descendentes de seu irmão que, aos vinte e poucos anos, é o maior astro da televisão britânica, vive sendo perseguido por paparazzi nas ruas e tem um sério problema com drogas. Paralelamente a essa narrativa, o leitor acompanha a vida do jovem Matthiew vivendo no século XVIII após chegar à Inglaterra e também outros acontecimentos aleatórios ao longo dos anos na vida do protagonista.


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Em seu romance de estreia, John Boyne deixa claro que gosta de História e também já mostra a sua habilidade para construir narrativas que se relacionem a acontecimentos marcantes do mundo. Com um enredo bem desenvolvido e sem fazer uso de muita linearidade para contar a vida de Matthiew, O Ladrão do Tempo exige um pouco mais de atenção do leitor disperso, já que, além de conter saltos temporais, traz muitas referências históricas à locais, personalidades e livros (!) que marcaram determinada época. Entre as obras citadas estão O Conde de Monte CristoA Letra EscarlateUm Estudo em VermelhoO Grande Gatsby e Adeus às Armas.

É interessante ressaltar que apesar do título sugestivo, não estamos falando de um livro de ficção-científica ou fantasia, cheio de explicações para os acontecimentos. Tudo é muito sutil e desenvolvido de uma forma mais lenta, o que pode ser encarado como algo negativo por algumas pessoas; principalmente se levarmos em consideração as 568 páginas do livro. Eu, particularmente, me incomodei em alguns momentos; não porque estivesse esperando algo mais rápido, mas por imaginar que seria um livro mais instigante e com um clímax cheio de tensão, como o de O Palácio de Inverno, do mesmo autor.

Ainda assim, O Ladrão do Tempo não é, de forma alguma, um livro ruim. Durante todo o tempo, a narrativa de Matthiew prende a atenção do leitor, que começa a se apegar a alguns personagens e a detestar outros, assim como ficar curioso para saber qual será o próximo acontecimento histórico presenciado pelo protagonista. Gostei principalmente das partes em que Matthiew conta a sua experiência com a indústria cinematográfica na Hollywood dos anos 1920, incluindo o próprio Charlie Chaplin como personagem, além de citar muitos atores, atrizes e diretores famosos. Tommy também é um personagem muito cativante, sempre rendendo momentos de risada com seus comentários extremamente realistas e sarcásticos acerca do mundo do show business. Por fim, recomendo a leitura à todos os que gostam de uma boa viagem pela História e/ou já conhecem o trabalho do autor.✦

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