28 de fevereiro de 2014

Sobre ter mais livros do que posso ler | Vida de Leitora #01

Meu nome é Michelle, tenho 23 anos e sofro de um problema sério.

Desde meus 16 anos um fato tornou-se recorrente em minha vida: sempre tenho mais livros do que consigo ler. Nunca foi um número muito alto, normalmente uns cinco ou seis livros. Mas vou confessar que de uns anos para cá as coisas começaram a ficar um pouco descontroladas. Principalmente depois que criei o blog, em 2012, e o canal, um ano depois. Estimo que, no momento, devo ter mais de 50 livros não lidos na minha estante.

Não que eu ache ruim gastar dinheiro em livros; muito pelo contrário, no mundo de hoje, acho que quem lê é privilegiado, certo? O problema é a completa falta de controle na hora de comprar livros. Um exemplo: entro em uma livraria dizendo que comprarei, no máximo, um livro e só se tiver com um preço justo e se for algo que eu realmente quero ler. Mas aí, depois de alguns minutos observando as estantes e conferindo as novidades, saio da loja com dois ou três livros. Normalmente, com preços bons, mas ainda assim, não cumpri a minha palavra. Com as lojas online as coisas ficam ainda piores: ofertas toda semana, cinco livros pelo preço de dois, coleções completas por metade do preço, e por aí vai. Compras em sebos ocorrem de forma parecida, mas com menos gastos. Quando me dou conta, tenho uns dez livros novos no fim do mês, e só costumo ler a metade do número no mesmo período de tempo.

Confesso que, a principio, não me incomodei. Achei que fosse normal, já que havia acabado de entrar nesse mundo de blogs e canais literários. Pensei que seria uma fase e que, em breve, as coisas voltariam ao normal. Mas não voltaram. Em alguns meses compro mais, em outros compro menos, mas isso não importa, já que a pilha de livros não lidos continua a aumentar de uma forma que não é proporcional à quantidade de livros lidos. É assustador. Muitos livros, pouco tempo.

Pensando nessa situação que estou vivendo e sabendo que não sou a única, gostaria de saber quem aí sofre deste mesmo mal (?) e o que fazem nessas horas. Também adoraria ler a opinião de quem é um pouco mais controlado e de quem nunca parou para pensar nisso. Dicas serão muito bem-vindas. ✦

Texto originalmente publicado no blog Literature-se.

12 de fevereiro de 2014

Alice, de Lewis Carroll

Originada em 1862 - mas publicada apenas em 1865 - a história de As aventuras de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, nos apresenta a garotinha Alice que, entediada pelos estudos, acaba adormecendo. Em seu sonho, ela enxerga um coelho branco - vestido de forma elegante e carregando um relógio de bolso - que grita, desesperado, que está atrasado para um compromisso. Decidida a saber o que está acontecendo, Alice resolve seguir o coelho e cai em sua toca, que é, na verdade, a entrada para o País das Maravilhas.

Lá ela conhece uma série de personagens inusitados e vive diversas situações inexplicáveis, como encontrar animais falantes, um bebê que vira porco e um gato que sorri. Além, de tentar decifrar o enigma da diferença entre um corvo e uma escrivaninha e fugir da Rainha de Copas, que nutre uma estranha obsessão por mandar cortar as cabeças de seus súditos.

Já em Alice Através do Espelho e o que Alice encontrou por lá, publicado em 1871, Lewis Carroll nos apresenta ao mundo dentro do espelho. Mais uma vez adormecida, Alice atravessa o espelho da sala de sua casa e vai parar em um mundo completamente absurdo e estruturado na forma de um tabuleiro de xadrez. Nesta história, a garota desempenha a função de peão e, como quer se tornar uma rainha, terá que atravessar todo o tabuleiro.

Durante a sua jornada pelas casas até chegar à casa da rainha, Alice encontra mais uma vez personagens bastante inusitados: Humpty Dumpty - com quem tem um diálogo sobre "desaniversários" -, os irmãos Tweedle-Dee e Tweedle-Dum - que lhe recitam poesias - e a Rainha Vermelha, personagem bastante interessante e que diz coisas bem absurdas.

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É engraçado observar como cada leitura pode ter o seu momento certo e se for realizada no momento errado pode passar uma impressão completamente diferente. Aqueles que me acompanham desde que comecei o blog/canal devem se lembrar de como sofri para tentar ler este livro no ano passado e de como detestei a narrativa de Lewis Carroll.

Mas dessa vez foi diferente. Adorei a leitura do começo ao fim e, juro, é impossível pensar em algo negativo para dizer. O aspecto nonsense da história - e objeto das críticas mais ferrenhas à obra de Lewis Carroll - foi justamente o que mais me agradou e me fez morrer de amores pelo livro. Acho que a graça em nas aventuras de Alice é justamente essa, o fato de que nada faz sentido e de que está tudo bem assim, afinal de contas, estamos falando de um sonho, certo? Uma vez que você abraça a causa do absurdo, tudo faz sentido e é só se jogar de cabeça na brincadeira.

Polêmicas sobre o autor à parte, gosto de pensar que Lewis Carroll criou personagens interessantíssimos que, ao mesmo tempo são capazes de divertir e incomodar com suas personalidades marcantes, cômicas e absurdas. Gostaria de destacar o Gato de Cheshire que até agora não sei se me agradou ou me incomodou; o mesmo vale para a Lagarta Azul. Outro aspecto na narrativa que me chamou a atenção é o quanto é complicado se lembrar em detalhes de alguns trechos do livro. É realmente como acontece quando sonhamos. Agora, enquanto escrevo este texto, estou confusa em relação à várias partes, principalmente as de Através do Espelho.

Sobre a segunda história, direi que a achei muito mais absurda do que Alice no País das Maravilhas, se é que isso faz algum sentido. É como se no primeiro livro pudéssemos encontrar uma certa linearidade nos acontecimentos, já em Através do Espelho, as mudanças de cenário e personagens são muito mais abruptas. É tudo muito mais bizarro e mais próximo de um sonho mesmo.

O único "problema" que encontrei foi o fato de que o livro faz muitas referências ao contexto histórico vivido pela Inglaterra na época em que Carroll escreveu a obra, o século XIX. Tais referências aparecem na forma de trocadilhos - mais fáceis de compreender na língua original - nas poesias e cantigas e também em alguns diálogos entre os personagens. Esse "problema" nem é algo que atrapalhe muito a leitura, apenas impede que tenhamos uma compreensão maior (ou não) da obra. Acredito que mesmo realizando a leitura em inglês, poderia encontrar dificuldades para compreender as referências, tendo em vista que estão relacionadas à história de outro país e de outra cultura

De uma forma geral, recomendo a leitura de Alice à todos, adultos e crianças. O segredo é se deixar levar pelo nonsense e não tentar procurar explicações lógicas e plausíveis para tudo o que acontece na história. Feito isso, é só deixar a narrativa te levar. Boa leitura!✦

4 de fevereiro de 2014

Fahrenheit 451 (Ray Bradbury)

Considerado uma das distopias mais importantes do século XX - ao lado de 1984 e Admirável Mundo Novo -, Fahrenheit 451 , de Ray Bradbury, nos apresenta a um futuro incerto no qual a humanidade vive sob o domínio de um governo totalitário. Nessa distopia, a sociedade vive em um estado de alienação, no qual tudo é controlado e a única forma de obter informação é por meio de enormes televisões instaladas dentro das casas. Os livros e a leitura são proibidos, como uma forma de impedir que a sociedade se rebele contra o governo. Neste mundo, os Bombeiros são os responsáveis por atear fogo nos livros sempre que descobrem que alguém os está escondendo. Se for preciso, incendeiam a casa e todos os que se colocarem no caminho de sua missão.

O protagonista da história é Guy Montag, um Bombeiro satisfeito com sua profissão e com a vida que tem, até o momento em que conhece Clarisse McClellan, uma menina de 17 anos que reflete sobre o mundo e lhe faz perguntas que lhe soam estranhas. Ao conviver com Clarisse, Montag aos poucos vai percebendo o quanto se sente infeliz em relação à sua profissão e seu casamento. Após o desaparecimento da garota, Montag começa a se questionar a respeito da sociedade em que vive , sobre as autoridades a que obedece e, mais importante, sobre o quão poderosos e perigosos os livros podem, de fato, ser.

Vou ser sincera: escolhi muito mal o momento para ler este livro. Como a primeira escolha para 2014, Fahrenheit 451 não funcionou muito bem e eu culpo o começo de ano e o ritmo de festa por isso. Não estou falando de um livro para você ler na beira da praia ou enquanto toma sol na piscina; este é um livro para ser lido com calma, absorvendo cada ideia ali apresentada. Por isso, acabei deixando ele de lado até o fim de janeiro, quando as coisas começaram a se acalmar e pude me dedicar melhor ao livro.

Outro fator que me incomodou um pouco durante a leitura foi a narrativa, que em alguns momentos chega a ser meio poética, com bastante uso de metáforas. Não que eu ache isso ruim, mas em determinas partes começou a me irritar um pouco porque me pareceu um tanto excessivo. Com os aspectos negativos da minha experiência devidamente apontados, vamos ao que me agradou.

Gostei de perceber que a situação extrema apresentada por Bradbury não está tão distante da nossa realidade. Há exageros nos livros? Claro que sim! Mas o que é mostrado ali pode sim ser percebido em uma escala bem menor nos dias de hoje. Um exemplo disso são aquelas pessoas que não sabem absolutamente nada sobre os acontecimentos mais recentes do país ou do mundo, mas se você perguntar sobre o que aconteceu na novela ou no BBB, a pessoa sabe te dizer tudo em detalhes. Quando li sobre Mildred e sua obsessão pela Família, não pude deixar de pensar nessas pessoas. Não estou aqui para julgar ninguém, quer assistir novela, assista, oras! Eu assisto também! Mas acho que é importante manter um equilíbrio.

Outro aspecto que me interessou bastante foi saber que antes de os livros serem proibidos, eles foram abandonados. Aos poucos, as pessoas foram parando de ler e de se interessar pelos livros e pelas suas palavras; dessa forma, o pontapé inicial para a proibição dos livros partiu da própria sociedade. Novamente, impossível não encontrar semelhanças com a sociedade atual. É só dar uma olhada na média de livros lidos pelo brasileiro a cada ano (os dados são de 2012, mas pouca coisa mudou). Claro que há uma minoria (nós estamos inclusos nela, certo?) que gosta de ler e encontra nos livros, além de uma fonte para o conhecimento, uma forma de se divertir; mas de uma forma geral, infelizmente, a realidade do brasileiro é aquela em que livros são objetos de repulsa. Mais uma vez, Bradbury não exagerou tanto em suas "previsões".

Por fim, o que mais me agradou foi o fato de que, mesmo mostrando este mundo distorcido em um futuro assustador, Ray Bradbury ainda conseguiu pensar de forma positiva e nos entregar um final otimista. Gosto dos ares de esperança que ficam quando a leitura é concluída. Com isso dito, fica aqui a minha recomendação de uma leitura ótima leitura.✦