9 de março de 2021

Helter Skelter (Vincent Bugliosi & Curt Gentry)

Helter Skelter
 entrou para a minha lista de leituras há anos e depois de muito esperar uma edição brasileira, desisti e resolvi ler em inglês. Foi uma leitura longa e desafiadora - tanto pelo tema, quanto pelos trechos recheados de termos e conceitos jurídicos. Ainda assim, gostei bastante.

Publicado em 1974, o livro foi escrito por Vincent Bugliosi, o promotor do caso Tate-LaBianca, em parceria com Curt Gentry, e apresenta as investigações dos crimes cometidos por Charles Manson e sua "Família" em agosto de 1969, assim como a construção do caso da promotoria e, posteriormente, o julgamento de todos os criminosos. Ao longo dos anos, o livro recebeu algumas atualizações e a mais recente é de 1994. Mesmo já datada, creio que essa versão ainda seja a fonte mais completa sobre o caso que temos até o momento. E aqui acho importante frisar que o foco principal do livro é mantido nos acontecimentos posteriores aos crimes, ainda que os autores apresentem um pouco da história das vítimas, dos assassinos e da Família Manson, assim como sua dinâmica, para que o leitor possa compreender melhor o contexto em que tudo aconteceu.

It was so quiet, one of the killers would later say, you could almost hear the sound of ice rattling in cocktail shakers in the homes way down the canyon.


O início do livro se tornou um dos meus favoritos. Gostei muito de como as primeiras páginas constroem um cenário e é possível sentir a atmosfera de tensão. O leitor sabe que algo horrível vai acontecer e só resta aguardar para saber como tudo vai se desenrolar. Mesmo sabendo que é uma história real, os primeiros capítulos parecem ficção, tanto pela maneira quase cinematográfica como as cenas são apresentadas, quanto pelo aspecto surreal que tudo parece ter. As descrições das cenas dos crimes parecem retiradas de um filme de terror e as fotografias que acompanham o livro (devidamente censuradas) só comprovam isso.

Gostei de acompanhar as investigações e os comentários de Bugliosi expõem os diversos erros cometidos pela polícia, as diferenças de abordagem entre as duas equipes - no início, acharam que os crimes não estavam relacionados - e, de certa forma, a má vontade que algumas pessoas pareciam ter para simplesmente fazer o trabalho. Uma vez que é uma narrativa em primeira pessoa, fica difícil saber se a falta de profissionalismo da polícia é 100% real ou se há um pouco de ranço por parte do narrador. Contudo, não dá para não simpatizar com ele em alguns pontos, já que a negligência nas investigações trouxe empecilhos para construir o caso, que por si só já era complicado. Achei particularmente interessantes os capítulos em que o autor fala sobre a dificuldade de encontrar um motivo para os crimes e, uma vez que encontrou, a dificuldade ainda maior de explicar o Helter Skelter (a filosofia de vida de Manson, as "mensagens subliminares" nas músicas dos Beatles, a guerra racial nos EUA, etc. ) para o juri de forma convincente.

Apesar de começar com um ritmo acelerado, o livro se torna lento e até um pouco cansativo depois da metade. Isso ocorre porque o autor relata de forma bem completa e específica todos os acontecimentos até o momento da condenação dos assassinos. Ainda assim, não deixa de ser interessante, principalmente porque senti que foram nesses trechos que o autor conseguiu deixar bem clara a influência que Manson exercia sobre seus seguidores. Mesmo preso e sendo julgado, ele deu muita dor de cabeça para a promotoria e atrapalhou o julgamento até onde conseguiu.

Por fim, outro ponto que me surpreendeu veio já nos capítulos finais quando o autor começa a listar crimes relacionados à Família Manson. São mais de trinta e alguns seguiam sem solução até a época da publicação do livro. Helter Skelter foi, sem sombra de dúvidas, uma das leituras mais marcantes que fiz, será provavelmente um dos favoritos do ano e, apesar de exaustivo em alguns momentos e irritante também (principalmente quando o autor começa a falar de um jeito pedante sobre os advogados da defesa), recomendo para quem se interessa por true crime, histórias de tribunal, o fim dos anos 1960, histórias bizarras de Hollywood e pela Família Manson.

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