31 de julho de 2018

Letra & Música: As Garotas

 

Já faz quase um mês desde que concluí a leitura de As Garotas, de Emma Cline, porém sinto como se tivesse me despedido ontem. A minha experiência com o livro foi tão imersiva que ao longo de semanas me sentia meio deslocada da realidade, tentando conciliar os pensamentos do mundo real com todas as sensações proporcionadas pela história. As Garotas é um livro que consegue ser suave e tenso ao mesmo tempo, envolvendo o leitor em uma atmosfera muito particular. Ao virar as páginas, era como se estivesse assistindo a um filme com fotografia meio onírica. 

Fortemente inspirado no culto de Charles Manson, o livro tem início no tempo presente e nos apresenta à Evie Boyd, que narra os acontecimentos de sua adolescência durante o verão de 1969, nos Estados Unidos. Após o divórcio dos pais e um desentendimento com uma amiga, Evie acaba conhecendo um grupo de garotas que lhe despertam fascínio e com as quais passa a conviver. Elas fazem parte de um culto e desde o início, o leitor já sabe que a história não irá acabar bem. Durante toda a leitura, é possível sentir um misto de angústia e melancolia e o que prevalece é uma sensação de perda. A perda do tempo. A perda do que foi. A perda do que poderia ter sido.

Como a leitura foi uma experiência bastante visual, não demorou muito para que o meu cérebro começasse a associar os elementos deste sentido com outros, criando cenas e adicionando trilhas sonoras. Logo percebi que a estética do livro combina muito com a da Lana Del Rey, uma das minhas cantoras preferidas. Não só porque os vídeos de suas músicas costumam trazer a tal da fotografia onírica que mencionei no início do texto, mas também porque algumas de suas letras também tocam em temas que me remetem ao livro de Emma Cline. Assim, quando decidi trazer esta coluna de volta, sabia que teria que escolher uma das músicas de Lana e, por fim, acabei me decidindo: Gods & Monsters, do disco Born To Die: Paradise Edition, de 2012.

Na letra, o eu-lírico poderia ser Evie Boyd falando de seu passado, da sua experiência com o culto, de Suzanne, dos possíveis rumos que sua vida poderia ter seguido. Lana faz menção à uma terra de deuses e monstros e é possível imaginar o culto como este lugar, onde Evie, ainda cega por sua inocência, não é capaz de enxergar a real e monstruosa natureza de quem ali está e, por conta disso, os coloca em uma posição superior. É uma música sobre sentir um alerta, mas mesmo assim embarcar no perigo. Sobre perda da inocência, mas não necessariamente a perda de si.

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