31 de julho de 2015

O Gigante Enterrado (Kazuo Ishiguro)

Quando comecei a fazer parte da comunidade booktuber vários autores se tornaram de meu conhecimento, ainda que nunca tivesse lido nada que tivessem escrito. Um destes autores era o japonês Kazuo Ishiguro, famoso pelo livro Não me abandone jamais (2005). Finalmente pude ter contato com a sua obra e o livro escolhido foi O gigante enterrado, primeiro lançamento do autor em dez anos e publicado recentemente pela Companhia das Letras.


Em O gigante enterrado - uma mistura de fábula e épico de fantasia - somos transportados para um passado mítico e lendário, na Idade Média de poucos anos após a morte do rei Arthur, em um contexto marcado pelos povos bretão e saxão, ogros, pássaros gigantes e fadas. Quando a história tem início, é um momento de paz entre os povos e o leitor é apresentado a Axl e Beatrice, um casal de idosos bretões que decidem abandonar a aldeia em que vivem para ir ao encontro de seu filho - de quem não se lembram muito bem e com quem já não têm contato - em uma aldeia vizinha.

A região foi afetada por uma misteriosa névoa que faz com que a população sofra de um tipo de amnésia coletiva. Pessoas desaparecem e ninguém parece notar; discussões ocorrem e ninguém entende o porquê. Ao se sentirem negligenciados na comunidade da qual fazem parte e com um objetivo em mente, Axl e Beatrice saem em sua nova jornada e têm seus caminhos cruzados por uma série de personagens - incluindo um guerreiro saxão e um cavaleiro arthuriano - e acabam se envolvendo em uma missão que inclui monges malignos e a destruição de uma grande ameaça: um dragão.

O livro é dividido em cinco partes, com capítulos narrados - em sua maioria - em terceira pessoa e que apresentam as perspectivas de diferentes personagens. Apesar de bem escrito, trazer metáforas e fluir com facilidade, confesso que tive problemas com o texto de Ishiguro, que durante as primeiras 200 páginas me manteve presa à leitura, mas que depois começou a me incomodar por conta de uma narrativa que se tornou arrastada e repetitiva. Houve um momento em que não aguentava mais ler os diálogos entre Axl e Beatrice afirmando que iam encontrar seu filho na aldeia vizinha, ou que não se lembravam de uma determinada discussão que tiveram. O mesmo vale para os devaneios enfadonhos de Sir Gawain acerca de seu tempo como cavaleiro do rei Arthur.

Quanto aos personagens, não sei até que ponto gostei deles, porque todos me pareceram bastante unilaterais e sem profundidade, de forma que, mesmo em um universo fantasioso, não consegui acreditar neles. Ainda assim, torci por Axl e Beatrice e fiquei intrigada com Winstan (meu personagem preferido) e Edwin; o mesmo não digo em relação a Sir Gawain, que de uma forma geral, achei bastante irritante. 

Apesar de meu descontentamento com alguns aspectos, acho importante ressaltar que o livro trata de temas universais - como a perda da memória (tanto no aspecto literal, quanto de forma mais simbólica, como quando o tempo passa a parte da história é esquecida), a guerra e suas consequências, a morte e o arrependimento - e deixa margem para diversas reflexões. E ainda levanta uma questão interessante:

O que é melhor: apagar/esquecer o passado e viver feliz ou saber a verdade, recobrando lembranças dolorosas, e ter que viver com as consequências desta decisão?

Por fim, gostei da leitura de O gigante enterrado, mas não sei se foi uma escolha sábia para iniciar o meu contato com o autor, já que esta foi a sua estreia no gênero de fantasia. Ainda que com ressalvas, recomendo a leitura para aqueles que gostam de histórias de fantasia à la O Hobbit, mas com uma pitada de melancolia.

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