22 de maio de 2015

A casa assombrada (John Boyne)

Londres, Inglaterra, 1867. 

Eliza Caine é uma jovem professora que culpa Charles Dickens pela morte de seu pai e, consequentemente, por torná-la uma pessoa sozinha no mundo. Afinal, foi após a decisão de sair de casa em uma noite chuvosa e fria para assistir a uma leitura que Dickens faria na galeria Knightsbridge, que seu pai, um entomologista fascinado pela obra do famoso romancista, ficou ainda mais doente e faleceu. 

Sozinha e sem condições de pagar o aluguel da confortável casa em que vivia com o pai, Eliza responde a um misterioso anúncio em um jornal e se torna a nova governanta de Gaudlin Hall, propriedade localizada no condado de Norfolk. Ao chegar à mansão, ela nota, ao ser recebida pelas crianças das quais deverá cuidar, que há algo de estranho no local. Isabella se comporta de maneira muito formal e séria para uma garota de 12 anos e Eustace parece assustado; ambos escondem algo. E, aparentemente, não há nenhum adulto na casa. 

Sem muitas informações sobre quem fez o anúncio, ou sobre as crianças, Eliza resolve fazer perguntas às pessoas que vivem na região, mas todos se mostram bastante incomodados com a menção do nome Gaudlin Hall, se tornam frios e se distanciam. De volta à mansão, uma série de acontecimentos inexplicáveis se apresenta a ela: janelas impossíveis de serem abertas, cortinas que se movem sozinhas, uma estranha sensação de estar sendo observada. E seu desespero aumenta quando descobre que é a sexta governanta que a propriedade teve em menos de um ano. 

De uma forma geral, gostei da leitura de A casa assombrada. O terror em si não foi o que mais me impressionou – tendo em vista que já li outros livros do gênero -, mas sim a forma como John Boyne conduz a história, com a criação de mistérios e a constante atmosfera de suspense. Durante a leitura fiquei o tempo todo com a sensação de que algo estava prestes a acontecer.

A narrativa, envolvente e fluida, é feita em primeira pessoa pela própria Eliza Caine, que com suas impressões dos acontecimentos faz com que o leitor se sinta inserido na história. Gostei de como ela se mostra determinada a entender o que está acontecendo e não se importa com até onde tenha que ir para chegar à verdade (mesmo que tenha que ferir a etiqueta e “se intrometer” na vida alheia). Mesmo que as pessoas fujam de suas perguntas e mudem de assunto, ela sabe que precisa proteger as crianças e não quer ter o mesmo destino das governantas anteriores. 

Além da clara referência a Charles Dickens, o livro me fez pensar em outros dois romances do século XIX. O enredo me lembrou bastante o de A outra volta do parafuso, de Henry James, tanto pelo fato de que ambos trazem governantas como as protagonistas e narradoras, quanto pelo fato de que as mansões em que as histórias acontecem parecem ser habitadas por espíritos. Acredito que a semelhança com o clássico de Henry James seja intencional. Em alguns trechos, a história também me fez pensar em Jane Eyre, de Charlotte Brontë; não tanto pelo enredo, mas pelo elemento casa-antiga-que-guarda-um-segredo. 

Por ser ambientado no século XIX e narrado por uma mulher, o livro apresenta ao leitor um pouco de como era a realidade feminina daquela época, quando uma jovem de 21 anos podia trabalhar, mas o ideal mesmo era ter um marido. Eliza nunca se preocupou com namorados e, depois de terminar os estudos, se tornou professora. Em vários momentos ela é indagada por outras mulheres a respeito de casamento e se ela não pensa em ter filhos, apesar de não ser tão atraente. Mesmo constrangida com as perguntas, ela se mantém firme em sua decisão de ser independente, mesmo que isso desagrade algumas pessoas ao seu redor. Gosto do fato de a protagonista pensar de forma à frente de seu tempo.

No que diz respeito ao desenvolvimento da história, não vou mentir: achei bastante previsível. E talvez isso tenha acontecido justamente por já ter lido a obra de Henry James. Porém, vale a pena mencionar que as duas histórias trazem desfechos diferentes. Enquanto acho o final de A outra volta do parafuso muito bom, o mesmo não posso dizer do que ocorre nos últimos capítulos do livro de John Boyne. Achei tudo muito absurdo e, ouso dizer, mirabolante. Ainda assim, não acho que o final tenha ofuscado a obra como um todo. O livro é bem escrito e sua experiência de leitura é agradável, pois prende a atenção do leitor. Recomendo principalmente para dias frios.

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