15 de dezembro de 2014

Frankenstein (Mary Shelley)

Frankenstein, livro clássico do terror e marco da ficção científica, surgiu de uma forma interessante. Durante uma temporada chuvosa e entediante de férias, Mary Shelley, seu futuro marido e um grupo de amigos - entre eles, Lord Byron - resolveram contar histórias de terror e chegaram ao acordo de que, até o fim da viagem, todos deveriam escrever uma história a ser compartilhada. E foi a partir deste desafio que nasceu Frankenstein ou o moderno Prometeu (título original).

O romance, que traz elementos da literatura de terror gótica e do romantismo, foi publicado pela primeira vez em 1818, quando Mary Shelley tinha apenas 19 anos. No entanto, ao longo de sua vida, a autora fez algumas alterações em sua obra, de forma que a versão que temos hoje e que é considerada como a edição definitiva é a terceira edição, de 1931.

Logo no início da leitura, somos apresentados à Robert Walton, comandante de uma expedição ao Polo Norte que se corresponde com sua irmã, a quem conta o que ocorre durante a viagem. É a partir das cartas de Walton que o leitor tem conhecimento de Victor Frankenstein, um homem que foi encontrado à deriva no oceano pela tripulação de Walton. Após recobrar a consciência, o sobrevivente passa a narrar a sua história.

Nascido em uma família abastada, Victor Frankenstein sempre teve tudo do bom e do melhor, fazendo parte dos círculos sociais influentes de sua comunidade e tendo acesso à melhor educação. Ao completar 17 anos, ingressa na universidade e passa a se interessar por ciência, filosofia, alquimia e pela questão da origem da vida. Depois de muito estudar sobre tais assuntos, ele descobre o segredo para criar um ser humano e resolve fazer um experimento. Bem sucedido, se assusta e foge, abandonando sua criatura.

Anos se passam e Frankenstein retoma a sua vida em sua cidade natal, se aproximando de sua família, amigos e da moça com quem sonha casar algum dia. Porém, coisas estranhas passam a acontecer nas redondezas e ele desconfia de que tenham relação com o que fez no passado. Em determinado momento, Victor e sua criatura se reencontram e, a partir deste ponto, temos conhecimento do que veio a acontecer com a criatura, que ao longo dos anos conseguiu sobreviver, aprendeu a se comunicar e até a desenvolver pensamentos filosóficos e sociais.

Há anos queria ler Frankenstein e, depois de muita enrolação, finalmente o fiz! Sinceramente, esperava gostar mais; considero a experiência de leitura bastante válida e, de certa forma, enriquecedora, mas não vou mentir: não a achei prazerosa. Acredito que essa sensação tenha resultado da forma como a narrativa é estruturada e dos personagens - com os quais pouco me identifiquei.

É um pouco complicado explicar como a história é estruturada, mas vamos tentar. A narrativa tem início com as cartas que Robert Walton escreve para sua irmã; nelas ele explica como conheceu Victor Frankenstein e anexa o relato do mesmo. Neste momento, temos um segundo narrador que conta a história de sua vida e anexa ao seu relato aquele feito pela criatura, narrando os acontecimentos de sua recente existência durante o período em que esteve distante de seu criador. Logo, o que temos é uma história dentro de outra história, que por sua vez, está dentro de outra. Por se tratar de narrativas em primeira pessoa, é difícil para o leitor conferir a credibilidade de tudo o que é dito. Não é possível saber, por exemplo, se tudo que a criatura diz que fez é verdade, porque quem narra o relato dela é Victor Frankenstein.

Sobre o protagonista, pouco tenho a dizer, exceto que não gostei dele. A impressão que ficou é que Victor Frankenstein é um ser mimado e covarde que não sabe lidar com as consequências de seus atos. Em sua narrativa fica o tempo todo tentando se justificar, se fazendo de vítima - como se não tivesse culpa alguma em relação aos acontecimentos ruins na história - quando, na verdade, tudo o que ocorre resulta de suas decisões. Durante boa parte da leitura, me questionei sobre quem seria o verdadeiro monstro na história: a criatura - que não pediu para existir e que, por conta de ter sido abandonada, comete atrocidades - ou Frankenstein. Por outro lado, a criatura não é de todo inocente; principalmente quando fica obcecada por vingança.

Na narrativa, me incomodei com as repetições e também com o excesso de sentimentos. Este último, reconheço que seja um recurso da literatura da época, do Romantismo que fazia uso dos sentimentos e também das descrições da natureza. Porém, não encontro explicação para os personagens se repetirem o tempo todo, deixando a leitura enfadonha em algumas partes. Há também o fato de que é difícil acreditar em alguns fatos, como, por exemplo, uma criatura recém-nascida já ser capaz de andar e, aos três anos, já conseguir ler e filosofar. Mas, uma vez que o leitor aceita esses acontecimentos como uma verdade, a leitura flui melhor.

Como já expliquei, mesmo não achando a leitura prazerosa, estou feliz por tê-la realizado. O que mais me fascinou em Frankenstein é a atualidade de sua história. Ainda que, para mim, o livro se aproxime mais da ficção científica, não há como negar que o avanço da ciência e a sua utilização de forma descontrolada, sem pesar suas consequências, pode gerar enredos aterrorizantes. E é justamente aí que está a beleza da obra de Mary Shelley, que levanta questões que continuam a fazer sentido dois séculos depois de sua publicação. Assim, a leitura de Frankenstein é importante, válida e recomendada à todos os que gostam de clássicos ou de ficção científica.

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