14 de abril de 2014

As Virgens Suicidas (Jeffrey Eugenides)

Ambientado na década de 1970, em um típico subúrbio dos Estados Unidos, As Virgens Suicidas, traz a história das cinco garotas Lisbon que, inexplicavelmente, resolveram se matar em sequência. A narrativa é feita pela voz coletiva dos garotos que viviam na vizinhança e que, anos após a tragédia, ainda não conseguiram compreender tudo o que aconteceu e, por isso, decidem recordar os acontecimentos daqueles anos, na tentativa de reconstruir os últimos meses de vida das garotas Lisbon e, quem sabe, encontrar um motivo para a sua decisão final de abandonar este mundo.

Por meio da visão destes garotos - agora homens adultos, com seus 40, 50 anos -, o leitor é apresentado às cinco irmãs Lisbon - Cecilia (13 anos), Lux (14), Bonnie (15), Mary (16) e Therese (17) -, moças muito bonitas e que vivem de forma, aparentemente, normal. Filhas de uma católica bastante devota e de um professor de matemática, as meninas Lisbon parecem viver em um mundo distante e só delas, despertando o fascínio dos adolescentes que frequentam a mesma escola e que vivem nos arredores. 

Quando a mais jovem das meninas, Cecília, comete suicídio, começa a ficar evidente para os narradores - e também para o leitor- que algo não está bem com a família Lisbon. Após a primeira tragédia, as meninas, que já viviam bastante isoladas, passam a ser ainda mais protegidas pelos pais e tudo piora depois de alguns imprevistos decorrentes de um baile no colégio.

***

Antes de tudo: a palavra "virgens" no título não tem absolutamente nenhum teor sexual. Desde a primeira página, o leitor já sabe o destino das meninas Lisbon e isso não é problema algum, porque a "graça" é descobrir como tudo aconteceu. E ainda assim, foi impossível não ficar com uma sensação estranha no momento em que a narrativa chega aos suicídios. A forma como Jeffrey Eugenides construiu a história e a contou sob a perspectiva coletiva dos garotos que conheciam as meninas é muito envolvente, o que torna quase impossível abandonar a leitura. Confesso que tive que me controlar para não devorar o livro, porque esta é uma leitura que precisa ser sentida aos poucos.

A atmosfera da história é bastante melancólica e angustiante, de forma que consegui imergir na história e sentir o desespero dos narradores. É como se, enquanto viviam aqueles momentos, os garotos não pudessem enxergar o que estava por vir e, anos depois, reconstruindo aqueles dias, tudo começasse a ficar óbvio. Gostei da forma como a narrativa mexe com os sentidos, principalmente, com o olfato. Durante a leitura, conseguia sentir diversos cheiros - como o de chiclete de melancia, de pipoca envelhecida e da podridão da casa decadente - , o que só acrescentou à experiência, tornando tudo muito próximo.

Enquanto realizava a leitura, fiquei o tempo todo buscando um motivo para os suicídios - em especial, o de Cecília - e até hoje, dias após terminar, não sei se consegui chegar à alguma conclusão. E acho que essa foi a intenção do autor. Afinal, como é possível encontrar palavras para explicar suicídio? Vou reafirmar o que disse acima: As Virgens Suicidas é uma leitura para ser sentida e não necessariamente compreendida. Muito além de tratar de suicídio, estamos falando de uma história que levanta reflexões: o que é a vida, a morte, a liberdade? O que é crescer? O que é viver? Por que viver? Por que morrer? Qual é a nosso objetivo aqui? É um livro que não faz sentido algum, mas que, ao mesmo tempo, faz todo o sentido do mundo.

Sei que ainda estamos em abril, mas já posso afirmar que As Virgens Suicidas foi uma das minhas melhores leituras em 2014. Leitura que, inclusive, pretendo repetir em algum momento. Em 1999, o livro foi adaptado para o cinema por Sofia Coppola e, apesar de capturar bem a atmosfera da obra de Eugenides, peca em alguns aspectos. Ainda assim, é uma adaptação válida e que eu recomendo após a leitura.✦

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