22 de julho de 2014

A vida do livreiro A.J. Fikry (Gabrielle Zevin)

 A.J. Fikry é um homem ranzinza e impaciente que vive na pequena Alice Island, onde tem uma livraria em decadência. Ninguém na cidadezinha parece se interessar pelos livros que ele vende - a preços altos e sem condições de competir com as lojas online - e ele não tem o menor interesse em colocar os livros que figuram nas listas de mais vendidos à disposição de seus clientes. A.J. sempre foi visto como uma "pessoa estranha" pelos moradores de Alice Island e tal impressão ficou mais evidente após a morte de Nic, a esposa do livreiro, em um acidente de carro há alguns anos.

Sem conseguir se recuperar da perda da esposa, A.J. passa os dias lendo e avaliando lançamentos enviados por editoras e as noites na companhia do vinho, que bebe até perder a consciência. Seu círculo social conta apenas com três pessoas: Ismay, ex-cunhada com quem mantém amizade em memória de Nic; Daniel Parish, o marido de Ismay e também um escritor best-seller bastante convencido; Lambiase, chefe da polícia local que trouxe a notícia da morte de Nic.

Com todos os infortúnios de sua vida, A.J. não enxerga esperança para o seu futuro e tudo piora com o desaparecimento de seu Tamerlane, um raríssimo livro de poemas de Edgar Allan Poe, que guardava com o maior cuidado para que pudesse garantir a sua aposentadoria após um leilão. É neste momento difícil, em que até os livros perderam a graça, que a vida de A.J. vai mudar completamente. Uma noite, após voltar de uma caminhada, encontra algo bastante inesperado à sua espera na livraria e a partir deste momento, encontrará uma nova razão para a sua vida.

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Confesso que nada sabia da história de A vida do livreiro A.J. Fikry ao iniciar a leitura e, conforme ia virando as páginas, o livro se revelou uma grata surpresa. Logo no começo já fica claro que o livro foi escrito para aqueles que amam os livros e que não conseguem imaginar a vida sem eles. De alguma forma, os livros estão presentes em todos os momentos da história; seja em uma conversa, em uma referência ou na hora de transformar a vida de algum personagem.

Falando em personagens, é preciso ressaltar que Gabrielle Zevin conseguiu criar um elenco bastante cativante para a sua narrativa. Desde o mal-humorado A.J. ao divertido Lambiase - com a sua preferência pelas histórias de detetive -, passando pela adorável Maya, todos os personagens são críveis e permitem ao leitor compreender suas personalidades, suas ações e motivações. As relações que são estabelecidas entre eles são bem desenvolvidas e coerentes, fáceis de acreditar porque nada acontece de forma abrupta e inesperada. Gostei principalmente de como a relação entre A.J. e Amelia - a representante de uma editora - foi passando por alterações ao longo da história, evidenciando as melhorias na vida de cada um a partir da proximidade entre eles, marcada sempre pela presença dos livros.

O enredo é relativamente simples mas, de forma alguma, poderia ser chamado de desinteressante. Mesclando elementos de drama, romance e mistério, a história prendeu a minha atenção do começo ao fim, quando comecei a lamentar o fato de só ter 185 páginas. Não queria dizer adeus à Alice Island e a seus habitantes. O que mais me agradou foi o fato de que a autora não deixa nenhum ponto sem nó na história, mostrando que cada detalhe que pode parecer sem importância tem, na verdade, bastante relevância para o desenrolar da narrativa.

Dividido em duas partes, o livro traz uma narrativa em terceira pessoa bastante fluida e marcada por muitas referências literárias que vão desde nomes de autores e livros a conversas sobre algumas histórias. Fitzgerald, Poe, As crônicas de Nárnia, Roald Dahl, Orgulho e PreconceitoLolita e O Senhor dos Anéis são alguns exemplos das referências encontradas no livro. Cada capítulo inicia com um comentário de A.J. a respeito de algo que tenha lido e, de alguma forma, a obra comentada se relaciona aos acontecimentos do capítulo. Gostei muito da forma como a autora foi estabelecendo essa relação e, claro, fiz inúmeras marcações para futuras leituras.

Ao terminar o livro, cheguei à conclusão de que A vida do livreiro A.J. Fikry é uma leitura leve e envolvente que traz algumas reviravoltas, ainda que este não seja o foco principal da história, que se prende aos acontecimentos cotidianos da vida do protagonista e daqueles que o rodeiam. E os livros, claro, fazem parte dessa história. Leitura recomendada!


PS: Encontrei alguns errinhos de digitação, como a falta de uma letra ou de uma palavra na frase, mas não chega a ser algo que tenha me incomodado profundamente ou atrapalhado o meu ritmo de leitura.