4 de junho de 2014

Eleanor & Park (Rainbow Rowell)

 Ambientado em 1986, Eleanor & Park traz a história de dois adolescentes deslocados que, inusitadamente iniciam um relacionamento e se apaixonam. Eleanor, aos 16 anos, vive em um lar desestruturado: seu padrasto - um homem de temperamento explosivo e bastante violento - transforma a vida de todos os residentes da pequena casa em um inferno marcado por muito abuso, violência e brigas. Sua mãe, já acostumada a ser maltratada, não faz nada que contrarie as vontades de seu marido. Dessa forma, todos ali vivem em constante estado de medo, com exceção de Eleanor que, além de não temer Richie, já pagou caro por tê-lo contrariado.


Além dos problemas em casa, Eleanor sofre bullying na escola por conta de sua aparência. Por ser alta, grande e ruiva, a garota chama muita atenção para si e por conta da situação econômica precária de sua família, suas roupas são sempre de segunda mão e, muitas vezes, masculinas. Como resultado, ela é vista como a "garota esquisita" da escola. Um dia - o primeiro em sua nova escola -, ao entrar no ônibus, acaba sentando ao lado de Park mais por falta de opção do que por escolha, e daquele dia em diante, passou a se sentar ao lado dele no ônibus todos os dias.

Park, ao contrário de Eleanor, vem de um lar bem estruturado, com pais presentes e um irmão mais novo. Ainda assim, sempre se sentiu deslocado por ser de origem coreana por parte de mãe e também por gostar de coisas que ninguém parece gostar, como o rock alternativo da época (The Smiths e Alphaville, por exemplo) e quadrinhos dos X-Men. Aos poucos, Eleanor e Park, por meio das músicas e dos quadrinhos, se aproximam e se apaixonam.

***

Não há como negar: Eleanor & Park é um livro nostálgico e muito fofo. Apesar do enredo ser bastante comum, a forma como Rainbow Rowell escolheu abordá-lo fez toda a diferença. É uma delícia acompanhar os dois adolescentes enquanto se conhecem e se apaixonam. Além dos personagens cativantes, o livro prende o leitor por conta da ambientação nos anos 1980 e suas muitas referências àquela época. É possível dizer que Eleanor & Park tem uma trilha sonora e que esta é marcada principalmente por músicas dos Smiths e do U2. Durante toda a leitura foi impossível não sentir uma nostalgia em relação a um período que não vivi.

Ainda no campo das referências, preciso fazer a menção à duas relacionadas a livros. O livro preferido de Eleanor é O apanhador no campo de centeio e eu achei isso incrível, porque assim como Holden - e muitos de nós na adolescência -, ela parece viver sempre em conflito e sem saber muito bem o que fazer com a sua vida. A personagem gosta muito de ler e, em determinado ponto da história, faz uma análise de Romeu e Julieta que me fez repensar tudo o que penso sobre o clássico de Shakespeare. 

Gostei também da forma como Rainbow Rowell (gente, que nome fofo!) retratou as cenas na casa de Eleanor. Percebi que em alguns momentos, eu ficava tensa e torcendo para que o padrasto da Eleanor não aparecesse quando ela estava escutando as fitas gravadas por Park, ou lendo os quadrinhos que ele emprestou. Por mais que a história seja ambientada no mundo real, é impossível não passar a enxergar Richie como um vilão; e, neste caso, bem mais assustador do que aqueles em livros de fantasia.

Ainda assim, apesar dos aspectos positivos já apontados, não consegui me sentir completamente conectada à história; pelo menos não até o final. Quando comecei a leitura, não queria parar de ler, porém, sinto que na metade do livro a narrativa foi perdendo ritmo, como se a autora não soubesse o que escrever ou como desenvolver algumas coisas. A partir desse ponto a leitura ficou arrastada e comecei a ficar mais desesperada para terminar o livro do que para saber como a história ia acabar. A narrativa feita em terceira pessoa é dividida em capítulos e estes são divididos entre as perspectivas ora de Park, ora de Eleanor. O recurso funcionou bem em alguns momentos, mas em outros apenas me irritou; foi o caso de situações quando ambos descreviam a mesma situação mudando apenas o ponto-de-vista.

Ao chegar ao fim, gostei do desfecho escolhido, mas não pude deixar de lamentar o fato de que algumas coisas que levaram a esse desfecho foram abordadas muito superficialmente. Chegar a esta constatação me deixou um tanto chateada, já que queria muito amar esse livro e não encontrar nenhum defeito.

Vale ressaltar que esta é a minha opinião e ela pode ter sido afetada tanto por expectativas (juro que tento não criá-las, mas às vezes é inevitável), quanto pelo momento. Para concluir, digo que mesmo sem ter amado o livro, acredito que ele deva agradar àqueles que gostam de livros de YA contemporâneo como os de John Green.

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