16 de maio de 2014

Sobre releituras | Vida de Leitora #03


Durante esta semana realizei a releitura de A culpa é das estrelas, de John Green, e a experiência me motivou a levantar mais uma discussão por aqui. Hoje, quero conversar um pouco sobre releituras; poucas vezes conversei com alguém sobre o assunto e isso me motiva a querer saber a opinião de vocês.

Eu, particularmente, não tenho absolutamente nada contra releituras. É sempre bom poder visitar um universo familiar e reencontrar personagens que nos marcaram. Li O Hobbit em 2008 e lembro de ter achado o livro muito legal, cheio de aventura e magia; recentemente, li novamente antes de assistir ao primeiro filme e, apesar de não encontrar nada de diferente na releitura, continuo achando o livro uma obra-prima da fantasia. Algo mais ou menos parecido aconteceu quando li novamente O grande Gatsby e O apanhador no campo de centeio. Ao contrário do que aconteceu com o exemplo anterior, durante a releitura pude compreender essas obras de forma mais abrangente e constatar que mesmo com o passar dos anos, aquelas histórias continuavam a falar comigo e que a cada possível releitura encontraria novos aspectos a serem explorados nelas.

Outro ponto que acho bastante válido na releitura é considerar aquela ideia de "momento certo" para conhecer uma história. Às vezes, a gente lê um livro e não acha nada de interessante e até não entende por que tanta gente ama determinada história; com a releitura, é possível que essa opinião mude. Nesse caso, muito depende também das experiências vividas e da maturidade adquirida entre a leitura e a releitura. Li O pequeno príncipe quando tinha dez anos e, na época, não entendi quase nada, pois a minha interpretação da história era bastante literal. A partir da releitura que fiz quase dez anos depois foi possível enxergar inúmeros aspectos na obra de Antoine de Saint-Exupéry que passaram completamente despercebidos por meus olhos infantis. Dessa forma, a releitura me fez conhecer "de verdade" a história do pequeno príncipe e, a partir de então, considerá-lo um dos meus livros preferidos. A releitura nos permite redescobrir histórias e amá-las.

Por um outro lado, consigo compreender a visão de quem não tem o hábito de reler livros. Existem tantas histórias e universos a serem descobertos que muitas vezes optamos por explorá-los ao invés de revisitar mundos já conhecidos. Infelizmente, o tempo é curto e vai ser muito difícil ler tudo o que há para ler no mundo, por isso, é justo priorizar aqueles livros que ainda não foram lidos. E há também o fato de que quando já se tem o conhecimento do desenrolar e do desfecho de uma história, muito da graça da releitura é perdido. Afinal, como se envolver com um mistério policial se já sabemos quem é o assassino? No meu caso, sei que jamais irei reler E não sobrou nenhum, um dos meus preferidos de Agatha Christie, pois já sei como a história acaba.

Acredito que tudo depende muito do que estamos procurando quando optamos por uma releitura, seja a certeza de encontrar uma história envolvente ou um porto seguro literário, seja a compreensão de uma história que não ficou muito clara ou até uma nova interpretação de um livro a partir das experiências que vivemos. Continuo firme na minha defesa das releituras, pois acho-as muito válidas, mas também preciso ressaltar a importância de continuar a buscar novos horizontes literários, pois novas experiências nos permitem abrir as nossas mentes para novas ideias, assim como para o nosso crescimento e nosso amadurecimento intelectual. 

Texto originalmente publicado na coluna Literalmente Falando, do blog Literature-se.