1 de maio de 2014

Bliss (Lauren Myracle)

 Bliss é uma adolescente de 14 anos que não foi criada de forma convencional. Vivendo no fim dos anos 1960, cresceu em uma comunidade hippie e tem a sua vida transformada quando seus pais, em forma de protesto, decidem se mudar para o Canadá, deixando-a na casa de sua avó materna - uma mulher bastante tradicional e, de certa forma, triste pelos rumos que sua filha resolveu seguir.

Após ser matriculada em uma escola de elite, Bliss começa a compreender como é a vida de uma adolescente normal. Faz amizades, passa a ter interesse por moda, maquiagem e garotos e, claro, é inserida - contra a sua vontade - no contexto social/hierárquico que é o high school. Mas, ainda assim, sua vida continua a não seguir o que chamaríamos de normalidade. Logo em seu primeiro dia de aula, a garota escuta uma voz vinda de um prédio muito antigo dentro do campus estudantil. Uma voz não-humana, vinda do além, que afirma que Bliss é a chave para tudo, a peça que estava faltando.

Assustada e convencida de que a voz não pertencia a algo/alguém bom, Bliss resolve evitar o prédio em questão e passa a se dedicar à sua nova vida. Enquanto tenta compreender como o ensino médio funciona, ela conhece Thelma que, de certa forma, se torna sua guia de sobrevivência dentro da escola (ela sabe o que é legal e o que não é; quem é popular ou não; com quem falar, o que vestir, como se comportar, etc.); Sarah Lynn Lancaster, a menina mais popular da escola, aquela a quem todos buscam agradar ou de quem querem a amizade; e Sandy, uma garota um tanto quieta e anti-social, que sofre bullying por seu excesso de peso e de quem todos querem ficar o mais longe possível.

Em meio aos conflitos internos entre essas garotas, Bliss começa a compreender que o mundo é bem menos colorido do que ela foi levada à crer. Charles Manson e sua Família estavam sendo julgados pelos crimes do caso Tate-LaBianca, pais de seus colegas integravam a Ku Klux Klan e uma presença maligna se esconde nos arredores de sua escola. Sem saber ao certo como reagir a essas mudanças bruscas em sua vida e na sua forma de enxergar o mundo, ela tenta se manter fiel aos valores que lhe foram ensinados desde criança, buscando sempre enxergar o bem nas pessoas, sem preconceitos.

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Soube de Bliss por meio de um vídeo da Tatiana Feltrin e, na época, pesquisei mais algumas opiniões e resolvi encomendar o meu exemplar pelo Book Depository. Faz quase um ano que isso aconteceu e só agora realmente me dispus a lê-lo. E digo que esperava mais. Não que o livro seja ruim, porque não é. 

Bliss é uma protagonista muito boa; mesmo se tratando de um young adult, a sua personalidade consegue ser bem diferente daquela encontrada na maioria das heroínas dos livros voltados para o público adolescente. Longe de ser insegura, Bliss sabe o que quer e não se deixa influenciar pelas opiniões de terceiros, mantendo-se sempre fiel aos seus valores. Mesmo quando o leitor sabe que ela está agindo de forma estúpida, não é possível julgá-la, pois suas ações são muito coerentes com a sua personalidade e com o que ela acredita que seja o certo. Bliss é o tipo de garota de quem eu seria amiga no colégio.

Aos poucos, a trama começa a se desenrolar e alguns mistérios são solucionados enquanto outros surgem. De uma forma geral, consegui prever muito do que viria a acontecer e talvez seja por isso que não tenha gostado tanto do livro. Talvez, se o tivesse lido quando era mais nova, o livro poderia ter me impactado mais. Acredito que hoje já trago em minha bagagem intelectual algumas histórias com elementos semelhantes aos de Bliss, o que acabou por estragar qualquer sensação de surpresa.

Há também muitas referências ao contexto histórico da época. Durante toda a história, Bliss e seus colegas conversam e discutem à respeito do assassinato de Sharon Tate e seus amigos, bem como do casal LaBianca, e sobre os rumos do julgamento de Charles Manson e sua Família. Cada capítulo tem início com alguma citação referente à época: trechos de notícias, letras de músicas, falas de The Andy Griffith Show e até frases do próprio Charles Manson. Por mais interessantes que fossem as citações, não entendi o porquê de estarem no começo de cada capítulo; não me pareceram acrescentar nada à trama.

Ainda assim, afirmo que, com uma narrativa fluida e bastante envolvente, o livro pode ser uma ótima escolha para quem não está muito habituado a filmes/séries/livros de terror e suspense. É um YA bem diferente dos que encontramos com maior frequência. E para aqueles que já estão habituados a este tipo de história, Bliss se apresenta como um bom entretenimento; previsível, mas ainda assim, gostoso de ser lido e que deixa saudades quando a leitura é concluída. ✦