25 de julho de 2014

Sobre ressacas literárias | Vida de Leitora #06

Hoje quero falar um pouco sobre um mal que, eventualmente, aflige a quase todos os leitores: as ressacas literárias. Para quem não sabe do que estou falando, calma que eu explico. Ressaca literária é quando, por algum motivo desconhecido, você não consegue se prender a nenhuma leitura. Não é não sentir vontade de ler, é sentir muita vontade de ler e simplesmente não conseguir porque nenhum livro te atrai ou te envolve, mesmo que você tenha aguardado ansiosamente o momento daquela leitura.

As causas de uma ressaca literária podem ser diversas; a conclusão de um livro ou série muito bons, a participação muito intensa em uma maratona literária e a desmotivação que resulta de uma leitura muito trabalhosa ou tediosa são apenas alguns exemplos. E quando ela chega, o desespero impera e é justamente neste momento que as coisas podem piorar. Ao perceber que não estão se deixando cativar por um livro que parece incrível, muitos leitores às vezes resolvem ler mesmo sem vontade e a atividade acaba por se tornar maçante e, pior, o livro incrível se revela uma grande chatice. O horror! O horror!

Nas ultimas semanas fui acometida por esse mal e, caros leitores, a luta tem sido complicada. De repente, Fitzgerald não era mais aquele escritor sensacional, mas um chato que só sabe reclamar da vida com personagens superficiais. Repito: o horror! O horror! Quando uma coisa dessas começa a acontecer, a gente passa a encarar as nossas leituras com uma perspectiva diferente. Eu, com muito pesar no coração, decidi que a melhor coisa para mim e para Fitzgerald seria deixar Este lado do paraíso quietinho por uns tempos. Fitz, não é você, sou eu.

Aí, parti para Por isso a gente acabou, de Daniel Handler. Descobri que Min, a protagonista, é tão chata, superficial e pseudo-intelectual quanto Amory Blane, o protagonista do livro do Fitzgerald. Epa, tem coisa errada aí! E é claro que a leitura empacou. Achei que por causa da Copa do Mundo estava negligenciando as minhas leituras e, por isso, decidi participar de uma maratona literária; cometi um erro, como ficou claro pelas situações citadas acima. Estava me forçando a ler para cumprir uma meta e isso não foi nada legal. Ler era para ser divertido e não uma obrigação do tipo escolar.

Em algum momento entre a Copa do Mundo e Este lado do paraíso entrei, sem motivo aparente, em uma ressaca literária e tentei me livrar dela da pior maneira possível. Não façam como eu, ok? Depois dessa experiência, percebi que a melhor forma de se curar de uma ressaca literária é justamente não ler. Dói, eu sei, mas às vezes é necessário. É tudo pelo bem maior. Evite se obrigar a fazer uma leitura - e, consequentemente, estragar a experiência - e aproveite o tempo que gastaria lendo em outras atividades. Filmes e séries de TV são sempre uma ótima escolha; e se você for como eu, que tem uma lista de filmes para assistir tão longa quanto a de livros para ler, poderá pelo menos tirar algo de proveitoso da ressaca literária, né?

Assistir a vídeos de canais literários é outra opção, porque ver tanta gente empolgada falando sobre livros pode te ajudar a voltar a ler. Mas, se ao pegar o livro, sentir aquela pontada de obrigação voltando, abandone a leitura imediatamente. Repito: é para o bem maior. O segredo é ter calma e não se obrigar a ler; quando menos esperar, estará curado e poderá voltar a amar a experiência de leitura. Fiz isso durante essa semana - mesmo em maratona! - e nas poucas vezes em que senti vontade de ler, consegui, aos poucos, aproveitar a leitura e me divertir. Sem me pressionar e com calma, consegui terminar duas leituras que estavam abandonadas há meses; o Fitzgerald ainda está esperando, um dia eu volto, prometo! Aos poucos, vou me livrando da ressaca e acredito que em poucos dias estarei curada. Me desejem sorte!

Texto originalmente publicado na coluna Literalmente Falando, do blog Literature-se.

22 de julho de 2014

A vida do livreiro A.J. Fikry (Gabrielle Zevin)

 A.J. Fikry é um homem ranzinza e impaciente que vive na pequena Alice Island, onde tem uma livraria em decadência. Ninguém na cidadezinha parece se interessar pelos livros que ele vende - a preços altos e sem condições de competir com as lojas online - e ele não tem o menor interesse em colocar os livros que figuram nas listas de mais vendidos à disposição de seus clientes. A.J. sempre foi visto como uma "pessoa estranha" pelos moradores de Alice Island e tal impressão ficou mais evidente após a morte de Nic, a esposa do livreiro, em um acidente de carro há alguns anos.

Sem conseguir se recuperar da perda da esposa, A.J. passa os dias lendo e avaliando lançamentos enviados por editoras e as noites na companhia do vinho, que bebe até perder a consciência. Seu círculo social conta apenas com três pessoas: Ismay, ex-cunhada com quem mantém amizade em memória de Nic; Daniel Parish, o marido de Ismay e também um escritor best-seller bastante convencido; Lambiase, chefe da polícia local que trouxe a notícia da morte de Nic.

Com todos os infortúnios de sua vida, A.J. não enxerga esperança para o seu futuro e tudo piora com o desaparecimento de seu Tamerlane, um raríssimo livro de poemas de Edgar Allan Poe, que guardava com o maior cuidado para que pudesse garantir a sua aposentadoria após um leilão. É neste momento difícil, em que até os livros perderam a graça, que a vida de A.J. vai mudar completamente. Uma noite, após voltar de uma caminhada, encontra algo bastante inesperado à sua espera na livraria e a partir deste momento, encontrará uma nova razão para a sua vida.

***


Confesso que nada sabia da história de A vida do livreiro A.J. Fikry ao iniciar a leitura e, conforme ia virando as páginas, o livro se revelou uma grata surpresa. Logo no começo já fica claro que o livro foi escrito para aqueles que amam os livros e que não conseguem imaginar a vida sem eles. De alguma forma, os livros estão presentes em todos os momentos da história; seja em uma conversa, em uma referência ou na hora de transformar a vida de algum personagem.

Falando em personagens, é preciso ressaltar que Gabrielle Zevin conseguiu criar um elenco bastante cativante para a sua narrativa. Desde o mal-humorado A.J. ao divertido Lambiase - com a sua preferência pelas histórias de detetive -, passando pela adorável Maya, todos os personagens são críveis e permitem ao leitor compreender suas personalidades, suas ações e motivações. As relações que são estabelecidas entre eles são bem desenvolvidas e coerentes, fáceis de acreditar porque nada acontece de forma abrupta e inesperada. Gostei principalmente de como a relação entre A.J. e Amelia - a representante de uma editora - foi passando por alterações ao longo da história, evidenciando as melhorias na vida de cada um a partir da proximidade entre eles, marcada sempre pela presença dos livros.

O enredo é relativamente simples mas, de forma alguma, poderia ser chamado de desinteressante. Mesclando elementos de drama, romance e mistério, a história prendeu a minha atenção do começo ao fim, quando comecei a lamentar o fato de só ter 185 páginas. Não queria dizer adeus à Alice Island e a seus habitantes. O que mais me agradou foi o fato de que a autora não deixa nenhum ponto sem nó na história, mostrando que cada detalhe que pode parecer sem importância tem, na verdade, bastante relevância para o desenrolar da narrativa.

Dividido em duas partes, o livro traz uma narrativa em terceira pessoa bastante fluida e marcada por muitas referências literárias que vão desde nomes de autores e livros a conversas sobre algumas histórias. Fitzgerald, Poe, As crônicas de Nárnia, Roald Dahl, Orgulho e PreconceitoLolita e O Senhor dos Anéis são alguns exemplos das referências encontradas no livro. Cada capítulo inicia com um comentário de A.J. a respeito de algo que tenha lido e, de alguma forma, a obra comentada se relaciona aos acontecimentos do capítulo. Gostei muito da forma como a autora foi estabelecendo essa relação e, claro, fiz inúmeras marcações para futuras leituras.

Ao terminar o livro, cheguei à conclusão de que A vida do livreiro A.J. Fikry é uma leitura leve e envolvente que traz algumas reviravoltas, ainda que este não seja o foco principal da história, que se prende aos acontecimentos cotidianos da vida do protagonista e daqueles que o rodeiam. E os livros, claro, fazem parte dessa história. Leitura recomendada!


PS: Encontrei alguns errinhos de digitação, como a falta de uma letra ou de uma palavra na frase, mas não chega a ser algo que tenha me incomodado profundamente ou atrapalhado o meu ritmo de leitura.

11 de julho de 2014

Sobre best-sellers | Vida de Leitora #05

Hoje quero falar um pouco com vocês sobre best-sellers. Mais precisamente sobre o que eu penso a respeito deles e do preconceito que algumas pessoas direcionam a esse tipo de livro. Preparados? Então vamos lá!

Antes de começar, acho interessante apresentar uma definição de best-seller: termo em inglês para se referir a um livro que atingiu um número elevado de vendas, superando as vendas de outros do mesmo gênero. Então, de uma forma geral, podemos afirmar que um livro best-seller é um livro que alcança um grande público e, consequentemente, é um sucesso de vendas. E isso quer dizer que esses livros são literatura da melhor qualidade? Não. Mas também não quer dizer que são livros mal escritos e feitos apenas com o intuito de vender e garantir uma grande quantidade de dinheiro para as editoras e o autor.

Particularmente, não costumo levar em consideração o fato de um livro ser um best-seller ou não antes de decidir se quero lê-lo. Se a história for atraente e estiver de acordo com o meu gosto, há sim uma grande chance de me interessar pela leitura, coisa que pode acontecer com qualquer livro dentro das características já citadas. Sendo assim, busco encarar best-sellers como encaro qualquer livro: apenas uma história que pode ou não me agradar, independentemente do número de cópias vendidas. Claro que há sim muita coisa nas livrarias que foi escrita apenas com o intuito de lucrar, logo, não traz qualidade alguma em seu conteúdo. Mas falta de qualidade não é exclusividade de best-seller e é definida de forma bastante subjetiva. Afinal, o que eu posso considerar incrível pode não ser tão maravilhoso para outra pessoa e vice-versa.

Com isso em mente, não entendo o preconceito da parte de muita gente em relação a livros que são listados entre os mais vendidos. Não consigo deixar de encarar a ação de descartar uma leitura, sem nem ao menos saber do que a história trata, apenas por esta ter vendido milhares de cópias ao redor do mundo como uma perda para o leitor. Sempre fico pensando que se tanta gente está lendo um determinado livro, alguma coisa este livro deve ter e, por isso, resolvo pesquisar mais para saber se eu também posso me interessar pela história. Dessa forma, descartei muitas coisas, mas também pude conhecer muitos livros dos quais gostei bastante, como A sombra do vento (Carlos Ruiz Zafón), a trilogia Jogos Vorazes (Suzanne Collins) e O Palácio de Inverno (John Boyne). Se não tivesse visto tais livros nas estantes de mais vendidos das livrarias, talvez nunca os tivesse conhecido e teria perdido ótimas experiências como leitora.

Também é preciso considerar o fato de que muitos leitores são formados por meio dos best-sellers. Quando tinha 11 anos fui apresentada ao universo de Harry Potter e por causa da série de livros do bruxinho me tornei a leitora que sou hoje. E jamais teria conhecido Harry Potter se o trabalho de J.K. Rowling não tivesse se transformado em um best-seller. Vejam bem, no início dos anos 2000 não era tão fácil se comunicar com pessoas - principalmente aos 11 anos - para obter recomendações literárias, então, a gente dependia muito das livrarias e das listas em revistas e jornais.

Hoje, me pergunto quantas pessoas devem ter se interessado pela leitura de A menina que roubava livros, por exemplo, por conta da adaptação para os cinemas que, por sua vez, só foi possível graças ao sucesso de vendas que é a obra de Markus Zusak. Essas pessoas abriram a porta para um mundo novo e cheio de possibilidades. Pode ser que quem começou a ler com best-sellers, continue apenas a ler esses livros - o que de forma alguma é algo negativo - , mas também pode ser que essas pessoas resolvam conhecer outros mundos e outras épocas através de leituras diferentes que hoje não figuram entre as mais populares ou figuram como clássicos.

Falando de clássicos, é preciso lembrar também que alguns autores que hoje consideramos grandes nomes da literatura escreveram best-sellers. Alguns desses livros, inclusive, foram best-sellers em seu tempo, como Grandes esperançasO retrato de Dorian GrayMemórias póstumas de Brás Cubas e Jane Eyre. E aí, lhe pergunto, você simplesmente descartaria a leitura de um livro escrito por Charles Dickens simplesmente porque ele figurava na lista dos mais vendidos?

Eu não descartaria, assim como não pretendo descartar nenhuma leitura que possa me interessar, sendo ela best-seller ou não.


Texto originalmente publicado na coluna Literalmente Falando, do blog Literature-se.

2 de julho de 2014

Letra & Música: As virgens suicidas


Além de ler, uma das coisas que mais gosto de fazer é escutar música e, por isso, decidi inaugurar um novo tipo de post que relacionasse essas minhas duas paixões. ♥

Gosto de ler escutando música e não é sempre que funciona, mas quando dá certo, fico muito feliz. E quando a música combina com o livro, melhor ainda. Adoro escutar uma música e perceber que ela capta a essência ou a atmosfera de uma história e é sobre isso que vou falar nessa nova coluna do blog.

Para começar, escolhi o livro As virgens suicidas, de Jeffrey Eugenides, e a música Teen Idle, do álbum Electra Heart, lançado em 2012 por Marina & The Diamonds. As virgens suicidas traz a história das cinco irmãs Lisbon, que vivem em um subúrbio americano dos anos 1970 e cometem suicídio. A narrativa fica por conta dos meninos que viviam na vizinhança das irmãs e que, após muitos anos, ainda não conseguiram superar o ocorrido e, por isso, resolvem recordar os últimos meses de vida das meninas na tentativa encontrar um motivo para a decisão delas. 
Por mais que a história pareça obscura e depressiva, não é isso que o leitor encontra. Jeffrey Eugenides faz tudo parecer muito leve e lúdico, ao mesmo tempo em que torna possível ao leitor sentir a angústia dos meninos e também querer descobrir as motivações para os suicídios das Lisbon. Teen Idle consegue captar tudo isso. A letra me fez pensar em Lux, a mais "rebelde" das Lisbon, e no quanto ela e suas irmãs eram cheias de vida e sonhos; e em como foram reprimidas e presas, impossibilitadas de viver e de serem adolescentes.