3 de março de 2020

Dentes de Dragão (Michael Chrichton)


Publicado em 2017, Dentes de Dragão é uma obra póstuma de Michael Crichton, falecido em 2008. Já fazia um tempo que queria ler algo do autor, mas não sei se escolhi a obra certa para começar. Se eu tivesse que classificar o livro, diria que é uma mistura de aventura, ficção histórica e western que traz também alguns elementos de romance de formação.

Aqui temos uma história ambientada no Velho Oeste e que inicia no ano de 1876. Esse contexto também ficou marcado pela Guerra dos Ossos, uma disputa entre os paleontólogos Othniel Charles Marsh e Edward Drinker Cope. Logo no início, somos apresentados ao protagonista, William Johnson. Ele é um jovem universitário de família abastada sem muito foco na vida e que, após fazer uma aposta com outro estudante de Yale, acaba se juntando à uma expedição e viajando para um local onde irão ocorrer escavações em busca de ossos de dinossauro. O que acompanhamos é a jornada de Johnson, os contratempos que surgem, as descobertas que fará, os amigos e inimigos que encontrará, etc. Um aspecto que gostei é que, a princípio, nem tudo é o que parece e, por isso, acontecem algumas reviravoltas.

A narrativa do autor é, provavelmente, o aspecto que mais me interessou. É bastante envolvente, de um jeito bem cinematográfico e dinâmico (Michael Crichton também foi roteirista!). A maneira como ele descreve os cenários percorridos pelos personagem nos transporta para lá. A ambientação é outro ponto muito positivo, não só porque o autor descreve os lugares da forma como eles eram naquela época (visitar o Google à procura de fotografias antigas comprova isso), mas também porque em alguns trechos ele insere informações históricas com intuito de fazer o leitor se situar melhor. Ele também se utiliza de certa liberdade ao inserir algumas pessoas que realmente existiram como personagens; é o caso, por exemplo, dos paleontólogos Marsh e Cope, do pistoleiro Wyatt Earp e do escritor Robert Louis Stevenson. 

A tensão também é um fator bastante presente na história. O tempo todo prevalece uma sensação de perigo iminente, seja porque existe a possibilidade de enfrentamento entre expedições, ou de adentrar territórios indígenas, ou a ocorrência de ataques de animais. O cenário árido e inóspito contribui também para a criação de uma atmosfera com estilo de thriller. Ainda sobre a narrativa, apesar de envolvente, em alguns trechos ela pode ficar um pouco arrastada; é o caso de algumas partes em que os personagens apenas percorrem longas distâncias e torcem para que nada de ruim aconteça. Não ocorre o tempo todo, mas achei bom avisar.

Como disse, gostei da leitura, mas ela não foi tão marcante como imaginei. Pensei que seria um livro com foco maior nas escavações e no que delas resultaria, mas a descoberta feita não é tão impactante na história e acaba funcionando mais como um recurso para movimentar a narrativa e fazer tudo acontecer. O livro é menos sobre fósseis e dinossauros e mais sobre o Velho Oeste - com suas incertezas e seus perigos - e a trajetória do protagonista. Ao longo dos capítulos acompanhamos um processo de crescimento pessoal e amadurecimento vivido por Johnson e isso irá transformá-lo em um adulto. A partir dessa perspectiva, de ser uma história também sobre transição, acabei por enxergar o livro de uma forma diferente e, por isso, acabei por gostar da experiência. Não sei se Dentes de Dragão será uma leitura memorável, mas recomendo a leitura para quem se interessa por esse tipo de história.

"O mais natural seria achar que as vítimas da injustiça pensariam duas vezes antes de repetir a mesma injustiça com alguém; mas elas o fazem sem nenhum pudor. De vítimas passam a algozes, levadas por uma certeza moral que chega a provocar arrepios. Essa é a natureza do fanatismo: atrair e incitar extremismos. E é por isso que, qualquer que seja a linha do fanatismo, todos os fanáticos são iguais". (p. 73)