A Incendiária foi publicado em 1980 e é um dos primeiros livros de Stephen King. Depois de anos esgotado aqui no Brasil, a Suma o trouxe de volta em 2018 com uma nova tradução e uma bela edição.
Apesar de o autor ser normalmente associado ao gênero terror, em A Incendiária temos um suspense com ficção científica. Logo no início, somos apresentados à Vicky e Andy, um casal de universitários que resolve participar de forma voluntária de um experimento de uma organização secreta do governo chamada "a Oficina". Como resultado, os dois obtém habilidades psíquicas. Anos mais tarde, Charlie, a filha dois dois, nasce com um poder perigoso e incontrolável de fazer fogo com a mente.
Não demora muito para que o governo demonstre interesse pela garota, com o intuito de usá-la como arma militar. Assim, o que acompanhamos durante a leitura, é a constante e desesperada fuga de Charlie e seu pai, que percorrem os Estados Unidos em busca de segurança.
Analisando bem, acho que dá para dizer que o livro é dividido em duas partes principais e confesso que perdi um pouco de interesse durante trechos da primeira parte em que senti que a narrativa perdeu um pouco do ritmo, tudo ficou meio parado e nada parecia acontecer. Era uma perseguição sem fim. Porém, fui pega de surpresa quando, lá pela metade, a história tomou um rumo diferente e fiquei bem intrigada para saber como terminaria.
Sem sombra de dúvidas, o que mais amei foram os personagens - são todos bem desenvolvidos e com camadas, de forma que se tornam bem reais. Amei observar (ou seria assistir? Stephen King escreve de forma bem visual, rs) o amadurecimento de Charlie ao longo da história. Andy também é um personagem bem intrigante, adorei sentir o seu desespero para tentar salvar a filha (eu sei, que coisa horrível de dizer, mas essa e só mais uma prova de que Stephen King escreve muito bem). E nem sei o que dizer de Rainbird, além de que ele é fascinantemente medonho e, curiosamente, gostei do personagem; ainda que ele não tenha atributos para ganhar a simpatia de ninguém. Mais uma vez: Stephen King escreve muito bem.
De forma geral, gostei da leitura e recomendo. Porém, com ressalvas. Como mencionei, a leitura perde um pouco do ritmo em alguns momentos, o que pode ser um pouco entediante. O desfecho é satisfatório, apesar de previsível; ainda assim, não é um aspecto que tire o brilho do livro como um todo. Então, meu conselho é que tenham paciência e foquem mais no desenvolvimento dos personagens. Ah, acho que a leitura pode interessar aqueles que, como eu, adoram Stranger Things e não aguentam mais de saudades da série!
Também quero destacar essa edição da Biblioteca King lançada pela Suma, que está muito caprichada. Além de capa dura e um design de páginas que remetam à ideia de papel pegando fogo, ela traz um posfácio assinado pelo autor e um texto de apoio de Grady Handerson, que tornam a experiência de leitura mais rica. A tradução é de Regiane Winarski, que também merece elogios!
Esse é seu grande defeito. Você olha e vê um monstro. Só que, no caso da garota, um monstro com utilidade. Talvez seja porque você é um homem branco. Homens brancos enxergam monstros por toda parte.