12 de novembro de 2014

A noite dos mortos - vivos (John Russo)

Em 1968, John Russo escreveu o roteiro para um filme sobre zumbis que viria a ser dirigido por George Romero. O filme em questão é A noite dos mortos-vivos,  obra em que pela primeira vez os zumbis são retratados como algo assustador e uma verdadeira ameaça para a humanidade. Ao longo das décadas, muitas outras obras viriam a beber na fonte do filme de Romero.

Anos depois, em 1973, John Russo romanceou o roteiro de A noite dos mortos-vivos e também o roteiro de uma possível sequência para o filme que jamais chegou a ser gravada (A volta dos mortos-vivos, que não deve ter seu enredo confundido com a de um filme com o mesmo título dirigido por Dan O'Bannon). A edição lançada em 2014 pela editora DarkSide traz as duas histórias.

A noite dos mortos-vivos apresenta uma situação limite e sem precedentes para a humanidade: os mortos retornaram, muito diferentes de como eram em vida, e com um desejo irracional por carne humana. A causa para tais acontecimentos é desconhecida e a população vive em estado de emergência. Quando o livro tem início, todas as formas de comunicação nas áreas rurais dos Estados Unidos parecem não estar mais funcionando e as pessoas que vivem por ali precisam se virar como podem para sobreviver enquanto a ajuda das cidades maiores não chega.

Os acontecimentos do primeiro livro se concentram, quase que totalmente, em uma casa cercada por mortos-vivos. O leitor acompanha as tentativas de sobrevivência das pessoas que estão lá dentro, tanto em relação aos zumbis, quanto em relação a si mesmos.

Em A volta dos mortos-vivos, dez anos se passaram desde os acontecimentos do primeiro livro. Ainda sem saber a causa para o fenômeno, a humanidade enfrenta novamente os mortos que ressurgem, porém, já está preparada para lidar com a situação. Aqui, o perigo não fica por conta apenas dos zumbis, mas também de seres humanos que tiram proveito da situação para praticar atos de violência. Há também referências à religião, à fé e ao modo como a morte passa a ser encarada pelas pessoas.

Primeiramente, nunca gostei de histórias de zumbi. Não sei explicar o motivo disso, apenas não acho zumbis interessantes o suficiente, apesar de achá-los bastante assustadores. Assim, resolvi ler A noite dos mortos-vivos com o intuito de compreender a origem dos zumbis como os conhecemos hoje na cultura pop e também com a esperança de gostar um pouquinho deles.

Gostei bastante da forma como os livros tem início, com reflexões sobre a vida e a morte, antes de partir para os acontecimentos propriamente ditos.

Pense em todas as pessoas que já viveram e morreram e que nunca mais verão as árvores, a grama, ou o sol. Tudo parece tão breve, tão...inútil, não é? Viver um pouquinho e depois morrer? Tudo parece resultar em nada. Ainda assim, de certa forma, é fácil invejar os mortos. Eles estão além da vida, além da morte. Têm sorte de estarem mortos, de terem feito as pazes com a morte e não precisarem mais viver. Estão debaixo da terra, alheios...alheios ao sofrimento, alheios ao medo de morrer. Não precisam mais viver, nem morrer, nem sentir dor, nem conquistar nada. Ou saber qual é o próximo passo, e se perguntar como seria enfrentar a morte. (p. 17)

A primeira história tem início em um cemitério e achei a ambientação bastante satisfatória, pois me ajudou a entrar no clima dos acontecimentos e, ao mesmo tempo, me fez pensar em filmes antigos de terror. Bárbara, a primeira personagem que acompanhamos, se mostra bastante corajosa nas primeiras páginas, logo após sobreviver ao ataque de um morto-vivo, porém, assim que entra na casa e somos apresentados aos demais personagens, se torna a personagem mais chata de todo o livro. 

Pouco depois de a chatice de Bárbara começar, a narrativa começou a ficar arrastada e nada parecia acontecer. Durante páginas e mais páginas, lia apenas sobre como aquelas pessoas estavam começado a se detestar e a perder as esperanças de sobrevivência enquanto a casa era rodeada por zumbis. Mais para o final, a história começa a ter mais ação e o final é bastante surpreendente e, de certa forma, revoltante.

Já A volta dos mortos-vivos me interessou bem mais. Ao contrário da primeira história, que se concentra em um único local, aqui há movimentação. Os personagens saem de onde estão e tentam encontrar outros sobreviventes, chegar à cidades maiores. Há também momentos em que desconfiamos de alguns acontecimentos e de reviravoltas. Gostei de como o autor abordou o lado ruim da humanidade, que sempre vem à tona em situações limite, revelando monstros tão, ou até mais, assustadores que os zumbis. 

A narrativa em ambos os livros é feita em terceira pessoa e conta com os diálogos dos personagens. Há também trechos que são, na verdade, transmissões de rádio que funcionam para informar o leitor e os personagens sobre os acontecimentos nas regiões afetadas pelos mortos-vivos. É um recurso interessante pois ajuda na ambientação da história.

De uma forma geral, achei a leitura de A noite dos mortos-vivos/A volta dos mortos-vivos bem mediana, mas essa é a opinião de alguém que não se interessa por histórias de zumbi. Acredito que aqueles que se interessam por essas criaturas e/ou são fãs de The Walking Dead possam aproveitar melhor a experiência.

***

A editora DarkSide lançou duas edições do livro, sendo uma delas bastante especial, de colecionador e capa dura. A minha é a mais simples, mas ainda assim, não deixa de ser bastante caprichada. O livro conta com as páginas amareladas, um bom tamanho de fonte e um espaçamento decente entre as linhas, de forma a não cansar a vista e/ou atrapalhar a leitura. Todas as páginas contam com detalhes na diagramação e algumas ainda trazem imagens do filme de 1968. 

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