6 de maio de 2016

Fangirl (Rainbow Rowell)

Acabei de ler Fangirl, da Rainbow Rowell, e gostei tanto da leitura que precisei vir aqui registrar meus pensamentos antes que a procrastinação me vencesse e eu começasse a analisar demais. Recentemente, resolvi me abrir à novas possibilidades no que diz respeito ao tipo de entretenimento que consumo (leia: passei a abominar o termo guilty pleasure e me entreguei de corpo, alma e coração ao mundo da cultura pop) e virei muito fangirl. 

Meu primeiro contato com Rainbow Rowell foi em 2014, quando li o  então comentadíssimo Eleanor & Park e, apesar de ter achado o livro bonitinho, não morri de amores pela história e nem consegui comprar muito a ideia do casal principal. Não que os dois não combinassem e que eu não tenha gostado de acompanhar a relação fofa deles, mas fiquei com a sensação de que algo havia faltado e não me convenci. Porém, analisando em retrospecto, percebo que o que mais gostei naquela leitura foi a quantidade de referências pop no texto de Rainbow Rowell; e foi justamente isso que me motivou a querer manter contato com a autora. Demorei um pouco, confesso, mas juro solenemente nunca mais abandoná-la.

Pois bem, vamos ao livro. 

Fangirl 
traz a história de Cath, uma jovem que está prestes a deixar a sua cidade natal para ingressar na vida universitária. Ao contrário de Wren - sua bastante comunicativa, desinibida e ~popular~ irmã gêmea -, Cath é introspectiva e sofre de ansiedade, o que faz com que encontre dificuldades de convívio social. Esta nova fase é um respiro de independência para Wren, que busca individualidade e novas experiências; para Cath,  é um misto de desconforto e sensação de abandono, pois terá que dividir um quarto com alguém que não é a sua irmã. Um fato curioso sobre Cath: ela escreve fanfiction de sua série literária preferida, Simon Snow (o filho engraçadinho que teria nascido se as sagas Harry Potter e Crepúsculo fossem pessoas que resolvessem se reproduzir), e é nessa atividade que encontra consolo e apoio nos momentos difíceis.

Com uma narrativa bem humorada e, claro!, marcada por referências pop (Lady Gaga, O Senhor dos Anéis e Gilmore Girls são alguns exemplos), o livro acompanha a trajetória de Cath durante o seu primeiro ano universitário - marcado por novas amizades, dificuldades de adaptação, obstáculos acadêmicos, primeiros romances, etc. De forma geral, podemos dizer que é um livro sobre amadurecimento, pois vai tratar da transição da adolescência para a vida adulta, mas é também um livro sobre família e amizade. E, claro, sobre a importância das coisas que a gente ama e que nos fazem bem.

Apesar de já ter passado pela experiência universitária  - com todas as alegrias e mazelas que o pacote traz -  os aspectos da protagonista com os quais mais me identifiquei foram a sua introspecção e as suas constantes fugas da realidade por meio de sua paixão pelos livros de Simon Snow. Como muitas das pessoas na casa dos vinte e poucos, vivi a Pottermania no seu auge e lembro da sensação de conforto e alívio que eu sentia quando chegava da escola e podia finalmente me perder pelos corredores e escadas de Hogwarts. Apesar de ter amigos, sempre me senti meio deslocada e esquisita durante meus anos de colégio e sei que, em partes, isso se deve ao fato de que eu sou uma pessoa que prefere viver mais com os próprios pensamentos do que ter que engajar em algum tipo de convívio social diário. Não que eu goste de ficar sozinha, só aprecio e valorizo  momentos de solidão. Gosto da minha própria companhia. Às vezes, até demais.

Assim, foi fácil me identificar com a relação de Cath com Simon Snow, porque ali enxerguei a minha relação com Harry Potter e tudo o que a série de J.K. Rowling significou para mim. Cath aguarda ansiosamente o último livro da série, fato que não só marcará o fim de uma história, mas o de uma fase de sua vida. Para alguém que começou a vida potterhead aos 11 e se despediu aos 17 e quase às vésperas do vestibular, achei tudo muito familiar, daquele jeitinho que faz o coração da gente bater mais forte, sabe? Emocionante.

Outro tópico que me interessou durante a leitura foi a forma como a autora - por meio de seus personagens - trata do universo dos fandoms e, mais especificamente, das fanfictions. Não sei como é com vocês, mas sempre que vejo pessoas comentarem sobre o assunto é com certa dose de desdém e preconceito, como se escrever fanfic fosse coisa de gente estranha. Particularmente, não sou muito familiarizada com este universo, mas não condeno quem faz parte e acho completamente justificável que pessoas criem histórias com seus personagens e mundos preferidos como uma forma de entretenimento. (Não vou entrar na questão de fanfics que acabam virando livros, mas fica aí um tópico para se pensar). Digo isso porque me lembro muito bem que a Michelle de 11 anos sonhou com a sua carta de Hogwarts. E a Michelle de 26 lamenta muito que um Senhor do Tempo com uma caixa azul sejam apenas o fruto da imaginação dos criadores de uma série de ficção científica.

Rainbow Rowell explica, ao final do livro, que sua inspiração para escrever Fangirl surgiu após passar muito tempo lendo fanfics, então sinto que o que ela apresenta em seu livro é uma visão de alguém que se permitiu enxergar este universo através dos olhos de quem, de fato, faz parte dele. Uma visão sem preconceitos e que valoriza a importância que a gente dá para aquilo que a gente gosta. Ela chega, inclusive, a inserir trechos da fanfic escrita por Cath ao fim de cada capítulo (o que achei bem peculiar, apesar de sentir que em alguns momentos funcionam de forma negativa e quebram o ritmo da narrativa). Acho válido aproveitar este momento para comentar que também li e adorei o conto que a autora escreveu para o World Book Day, Kindred Spirits, no qual ela aborda novamente o universo dos fandoms ao criar uma história que gira em torno da estreia de Star Wars - O Despertar da Força.

Depois dessas duas experiências recentes bastante positivas, já me impus como projeto pessoal ler todos os livros da Rainbow Rowell, que acabou de entrar para o meu rol de autores capazes de proporcionar uma sensação de quentinho no coração, algo como o equivalente literário para comfort food. Então, fica aqui a minha recomendação. Por favor, leiam Fangirl e sejam felizes amando aquilo que vocês amam ♥.