24 de junho de 2015

A última dança de Chaplin (Fabio Stassi)

Há alguns anos, quando comecei a me interessar por cinema e pelos filmes clássicos, a figura de Charles Chaplin se tornou algo com que eu acabava esbarrando de vez em quando. É inevitável, afinal, quando pensamos em História do Cinema, é primordial falar também sobre Chaplin e aquele que se tornou o seu personagem mais conhecido: o Vagabundo (que estrela em alguns dos principais títulos do ator, como O Garoto e Tempos Modernos).

Confesso que não tive, nem de longe, um vasto contado com o trabalho de Chaplin; ainda assim, o considero uma das mais inspiradoras personalidades de Hollywood. Por isso, quando soube do lançamento de A última dança de Chaplin, pela editora Intrínseca, fiquei bastante empolgada porque imaginei que seria uma leitura ótima para me apresentar de forma mais aprofundada a um dos maiores ícones do século XX. Contudo, me enganei, pois não estamos falando de uma biografia (o que é avisado na sinopse), mas sim de uma obra que mistura ficção com realidade, evidenciando o talento e o brilho de seu autor, Fabio Stassi.

Na véspera de natal de 1971, Charles Chaplin, então com 82 anos, recebe a visita da Morte. Ao recordar o que uma cartomante lhe disse anos antes, ele sabe que sua hora chegou, porém, não se sente pronto para deixar a vida e resolve fazer uma aposta com a velha: se ele a fizesse rir, ela deveria permitir que ele vivesse mais um ano. Assim, divertida pelo Vagabundo, a Morte cumpre a sua parte do acordo e promete voltar no próximo natal.

Chaplin, por sua vez, não sabe se conseguirá repetir a façanha, e põe-se a escrever uma carta a Christopher, seu filho mais jovem e que teme não poder ver crescer. Em seu texto, ele discorre a respeito de sua infância conturbada e carente na Londres do final do século XIX, sobre o período em que trabalhou em um circo, sobre a sua chegada aos Estados Unidos – e a série de empregos e aventuras que o país lhe proporcionou - e, claro, sobre a descoberta do cinematógrafo (que aqui não foi uma invenção dos Irmãos Lumière, mas de Arléquim, um homem negro que era responsável pelos animais de um circo). 

Por meio de uma narrativa bastante fluida e envolvente, Fabio Stassi conduz o leitor por aquilo que chamo de uma homenagem a Charles Chaplin. Mesclando elementos reais com a ficção, a história do Chaplin de Stassi – não tão diferente daquela do Chaplin original - é marcada por altos e baixos, frustrações e descobertas. É uma história sobre alguém que procura a sua verdadeira vocação, o seu lugar no mundo e a realização de seus sonhos. 

O livro é dividido em cinco partes (no caso, cinco rolos) que compõe a carta de Chaplin, cada uma delas sendo precedida por uma noite de natal em que a Morte vem fazer a sua visita. Estes trechos são escritos como se fossem roteiros, com os nomes dos personagens indicados antes de suas falas e uma explicação da cena a ser apresentada. Em uma nota, Fabio Stassi explica que sua intenção era escrever uma obra com um andamento musical, dividida em quatro atos; não compreendi muito bem como isso funcionou, porém esta explicação faz com que o título tenha sentido. Também percebi que o autor fez sutis referências aos trabalhos de Chaplin, fazendo seu protagonista passar por situações semelhantes àquelas vividas pelo Vagabundo nos filmes. 

De uma forma geral, a leitura de A última dança de Chaplin foi prazerosa. Passado o momento em que percebi que não estava lendo uma biografia, consegui me prender à história, ficando curiosa a respeito do que viria e me surpreendendo com o belíssimo desfecho. Tenho a sensação de que teria aproveitado melhor se tivesse maior conhecimento da história de vida de Charles Chaplin e/ou de seus filmes.