13 de fevereiro de 2015

Noah foge de casa (John Boyne)

Em Noah foge de casa, o leitor é apresentado a Noah Barleywater, um garotinho de 8 anos que - como o título deixa claro - resolve fugir de casa. Antes de o sol raiar e de seus pais acordarem, Noah já iniciou a sua caminhada rumo ao desconhecido.

Após passar por uma peculiar cidade em que macieiras estão vivas e ter seu trajeto cruzado por animais falantes, ele chega à uma floresta. E no centro dela há uma curiosíssima e mágica loja de brinquedos em que tudo é feito de madeira e que serve de lar para um velhinho bastante intrigante e com uma história interessante. Durante as próximas horas, ambos travam diálogos, trocam experiências e compreendem a importância de se manter fiel à uma promessa.

A leitura de "Noah foge de casa" foi uma experiência bastante agradável e a história apresentada por John Boyne, além de muito fofa, se revelou uma surpresa. Narrado em terceira e em primeira pessoa, o infantojuvenil parece o tipo de história para ser lida em voz alta para uma criança. É impossível não se emocionar ou se deixar cativar pelo enredo com ar de mistério e aspectos sutis de fantasia.

O protagonista, Noah, é um garotinho esperto e é por meio de sua curiosidade que somos apresentados ao universo da loja de brinquedos e de seu peculiar vendedor. Por vezes assustado ou intrigado, Noah tem um motivo para ter fugido de casa, mas se recusa a sequer pensar sobre o assunto. Assim, o mistério que permeia o motivo permanece ao longo de boa parte do livro.

Dessa forma,o garoto prefere conhecer melhor o dono da loja e escutar a respeito de suas aventuras quando este era jovem. Assumindo a narrativa, o velhinho fala a respeito de seu pai, o Pápi, e de quando ambos decidiram se mudar para a floresta, deixando para trás o passado na cidade; e sobre as situações pelas quais passou a partir de então - iniciar os estudos em uma nova escola, os conflitos com os colegas, a descoberta de que era um excelente corredor e, até, a sua transformação em um atleta olímpico. Cada uma das histórias do velhinho é representada por um títere (marionete) que fora entalhado por seu pai.

Eventualmente, Noah também compartilha algumas de suas experiências com o velho e é a partir deste ponto que passamos a ter alguma noção das razões que o levaram a sair de casa. Por meio dos diálogos entre os dois, John Boyne trata de temas mais profundos (eu disse que o livro tinha camadas!) e levanta questões interessantes de serem abordadas com crianças: a importância da família, o cuidado que se deve ter ao desejar algo, a valorização de promessas feitas e também sobre a fuga de seus problemas e o que isso pode trazer como consequência.

Durante a leitura, a identidade do dono da loja de brinquedos também passa a ser questionada e o leitor fica intrigado para saber quem ele é. Não vou mentir: apesar das inúmeras pistas que o autor deixou, eu só descobri quem o velhinho era no final. E a sensação que tive foi uma mistura de surpresa e encanto que só me fez gostar ainda mais da leitura.

Apesar da atmosfera fantasiosa - que em alguns momentos me lembrou o País das Maravilhas - e de momentos divertidos, "Noah foge de casa" não chega a ser um livro feliz. Muito pelo contrário, penso que é um livro bastante triste e melancólico, principalmente se considerarmos o público a que ele se dirige. Ainda assim, justamente por tratar de situações pelas quais todos passamos em alguma fase da vida, não posso deixar de considerar a leitura válida; tanto para crianças, quanto para adultos.