Juvenília, como a própria palavra define, reúne os escritos de Jane Austen e Charlotte Brontë produzidos quando as escritoras ainda eram muito jovens. Organizadas por Frances Beer, doutora em inglês pela Universidade de Toronto, as obras são apresentadas de forma cronológica e divididas entre suas autoras, que, ao contrário do que se imagina à primeira visa, tinham muito em comum.
"É impossível saber o que Austen rejeitou, mas, nos três volumes que decidiu manter, fez questão de dedicar pelo menos uma obra para o pai, a mãe e cada um dos irmãos, para sua melhor amiga e para duas de suas primas preferidas". (P.10)
Antes de tudo, preciso dizer o quanto me identifiquei com as versões mais jovens de Jane Austen e Charlotte Brontë.
É impressionante como Austen, aos 12 anos, já criticava e expunha ao ridículo suas personagens, sem tentar amenizar nada. À princípio, estranhei um pouco a sua produção, porque além de as histórias serem bem curtas, trazem aspectos burlescos e personagens unilaterais, sem muita profundidade. No primeiro volume de sua juvenília, a autora tinha como principal inspiração a crítica aos "romances lacrimosos" feitos na época, marcados por um excesso de sentimentalismo. Por isso, seus primeiros textos (como Jack e Alice e Amor e Amizade) focam principalmente nas falhas de caráter dos personagens e os expõe ao ridículo. Porém, por seus personagens serem a incorporação dos vícios que representam e não trazerem profundidade, não são muito críveis, logo, de difícil identificação.
É interessante mencionar que, mesmo aprimorando muito a forma como desenvolvia suas personagens, Jane Austen, desde o princípio buscava criticar aspectos da sociedade por meio do humor e do ridículo. Em toda a sua obra é possível encontrar personagens com algum tipo de vício reinante: A Sr. Allen (A abadia de Northanger), o Sr. Palmer (Razão e Sensibilidade) e Sir Walter ("Persuasão"), por exemplo. Já mais para o fim de sua juvenília é que Jane começa a dar os ares de quem viria a se tornar uma das maiores escritoras inglesas.
Como Beer aponta na apresentação, é com As três irmãs que Austen começa a dar os seus primeiros passos em direção à Orgulho e Preconceito. Mesmo que muito do burlesco ainda apareça na obra, é possível reconhecer Jane e Elizabeth Bennet em Sophy e Georgiana. A história também está carregada de forte crítica social. Ao trazer uma família de moças com uma mãe viúva e de poucos recursos, as meninas precisam encarar a realidade de que uma delas terá que se casar com um homem detestável, mas rico, para que possam sobreviver e ser sustentadas.
Por fim, em Catherine, o último texto da juvenília de Jane Austen, somos apresentados àquela que traz os primeiros traços de uma heroína típica de Austen. Aqui, a autora traz Camilla - uma menina fútil, que não desenvolveu seu intelecto por meio da leitura e que se preocupa com frivolidades - em contraste com a protagonista, Catherine Percival (também chamada de Kitty), que adora passar seu tempo em um caramanchão, na companhia dos livros e sem fazer questão de participar dos eventos sociais e se opondo aos costumes da época.
"Kitty, ao contrário de Camilla, é a primeira heroína perfeitamente construída de Austen, e ela sobrevive apesar de sua sociedade, e não graças a esta." (P.20).
"Elizabeth Hastings é uma criação tão significativa para Brontë quanto Catherine Percival foi para Austen: ambas as heroínas mostram que suas autoras chegaram ao estágio final de seu desenvolvimento juvenil, refinaram e integraram seu senso moral e artístico e reconhecidamente estão no limiar de suas primeiras obras maduras". (P.32)