31 de dezembro de 2014

AS MELHORES LEITURAS DE 2014

O Retrato (Charlie Lovett)
Conheci esse livro por acaso e não sabia muito bem sobre o que era, além de que tinha alguma coisa a ver com um mistério relacionado à obra de William Shakespeare. Gostei bastante da leitura, não é o melhor livro que li na minha vida e acho que não vai mudar a vida de ninguém, mas é um livro muito gostoso de ler, que te envolve e que você não quer largar enquanto não chegar no final. Tem mistério e tem ação; não chega a ser policial, mas tem aquela característica que o faz o leitor ficar investigando junto com o personagem e é bem legal. Decidi colocar o livro na lista de melhores do ano porque ele me tirou de uma ressaca literária em questão de poucos dias.

O Príncipe da Névoa (Carlos Ruiz Zafón)
Primeiro livro da Trilogia da Névoa, este livro é bem no estilo das histórias do Zafón. Voltado para o público juvenil, o livro traz uma história sobre amizade e tem uma atmosfera meio macabra, assustadora e bizarra que acontece em um cenário tropical. É um livro bem bacana e que termina de um jeito meio estranho e que você não sabe dizer se entendeu direito. Recomendo bastante!

Cartas do Papai Noel (J.R.R. Tolkien)
É um livro muito fofo e que me fez ficar com vontade de ler outros livros do Tolkien, um autor que admiro bastante apesar de ter lido pouco. A leitura mostra muito de como era a relação dele com seus filhos ao trazer as cartas que o autor escrevia para eles como se fosse o Papai Noel. É muito bonito a forma como ele tentou manter viva neles a fantasia do Natal. A edição da Martins Fontes, além de trazer o conteúdo das cartas, inclui as ilustrações lindas que o autor fez para acompanhá-las.

A Máquina do Tempo (H.G. Wells)
Este foi um dos primeiros livros a trazer a viagem no tempo como tema e a leitura é bem envolvente, nos levando do século XIX até um futuro distante. O que mais me impactou foi perceber o tanto do século XIX que ainda trazemos conosco e como muitas das coisas que eles pensavam e se questionavam naquela época ainda são bastante atuais para nós. É uma aventura bem divertida e que eu recomendo.

O Herói Perdido (Rick Riordan)
Este é o primeiro livro da série Os Heróis do Olimpo, que começa muito bem. O universo já é familiar e novos personagens se misturam aos antigos. Gostei dos novos mistérios e das novas missões, e foi ótimo lembrar como as histórias do Rick Riordan são cheias de aventura e humor.

A outra volta do Parafuso (Henry James)
Adorei essa leitura, que é o tipo de terror que dá medinho mesmo. História de terror com espírito, casa assombrada e que envolve crianças. Apesar do início um pouco lento, achei bem envolvente e gostei do fato de não conseguir confiar na narradora; não dá para saber até que ponto ela tem credibilidade e o final é daqueles que deixam a gente questionando tudo.

Cidades de Papel (John Green)
Acho que este é um dos livros mais subestimados do autor; uma pena, porque é um dos meus favoritos dele. Tem uma história meio absurda, com alguns clichês e estereótipos, mas eu gostei da ideia. Também não achei a Margot uma personagem chata e acho que este é o livro do autor com o qual eu mais me identifiquei com as reflexões levantadas. Recomendo demais!

Eu sou Malala (Malala Yousafzai e Christina Lamb)
Adoro esse tipo de livro que traz o relato de experiências bem distantes das que eu vivi ou vivo; é possível aprender muito com o que a Malala tem a nos dizer. Gostei de como ela fala da sua vida no Vale do Swat e de como pude aprender sobre o que aconteceu no Paquistão depois da chegada do Talibã. É um livro bem marcante e assustador em diversos momentos, mas que eu acho que todos deveriam ler.

Mentirosos (E. Lockhart)
Claro que não poderia faltar este livro, que foi a maior surpresa que tive em 2014! Comecei a ler Mentirosos bem desacreditada e imaginando uma história sem graça e previsível, mas me enganei. Faz meses desde que terminei essa leitura e ainda estou pensando naquele final. A leitura é bem fluida, os personagens são cativantes e o cenário é bem envolvente. Realmente gostei e recomendo!

As virgens suicidas (Jeffrey Eugenides)
O melhor livro que li em 2014 e virou favorito da vida! Esse é o tipo de livro que demora para te abandonar, sabe? A gente termina de ler e ficamos dias, meses até, pensando sobre o que aconteceu e sobre as irmãs Lisbon.  A escrita envolve e mexe com os nossos sentidos, conseguimos sentir o que os meninos narradores sentem, conseguimos sentir a dor e os anseios deles; a sensação de incompreensão e frustração que a narrativa transmite também passa a ser nossa. Não posso mentir, é um livro bem melancólico, mas é um livro lindo.

17 de dezembro de 2014

Anjos à mesa (Debbie Macomber)

Anjos à mesa traz Goodness, Shirley e Mercy, anjos criados por Debbie Macomber e que já apareceram em seis outros romances da autora. Porém, os livros podem ser lidos em qualquer ordem. Nesta história, o trio precisa treinar um novo aprendiz, Will, e a ocasião escolhida para visitar a Terra é o dia de Ano Novo.

Na Times Square, faltando pouco tempo para a contagem regressiva, Lucie se encontra perdida, sem saber onde se encontram suas amigas. Cansada de esperar e decidida a ir embora, ela esbarra em Aren e os dois, inesperadamente e inexplicavelmente, se beijam ao soar da meia-noite. Depois de sair da rua movimentada, os dois decidem tomar um café para conversarem e descobrem que foram feitos um para o outro. Pouco sabiam que a maneira inusitada como se conheceram fora resultado de um descuido do jovem anjo Will. E como toda ação tem uma reação, este descuido trará consequências.

Ao constatarem que gostaram muito de se conhecer e de que querem seguir adiante com um relacionamento, Aren e Lucie também percebem que o momento não é o mais apropriado. Ele é novo na cidade e está prestes a iniciar em um novo emprego; ela tem planos de abrir um restaurante nos próximos meses. Ainda assim, Aren propõe que Lucie pense na situação e que se decidir levar a sério a relação, ela deveria encontrá-lo no topo do Empire State Buildind em uma semana.

Imprevistos acontecem, meses se passam e agora Lucie e Aren deparam com uma segunda chance. E os anjos farão de tudo para ajudá-los...ou quase isso.

Não é segredo para ninguém que amo o Natal e o clima das festas de fim de ano. Sendo assim, sempre procuro assistir a filme e realizar leituras que combinem com este período mágico e Anjos à mesa me pareceu uma escolha bastante plausível. Gostei do que encontrei, mas não vou mentir, não adorei.

O livro traz uma premissa bastante simples e até previsível, o que não impede a possibilidade de uma boa experiência de leitura. Não tinha altas expectativas e/ou esperava encontrar um livro que mudaria a minha vida, de forma que, a princípio, tudo fluiu muito bem. Meus problemas começaram na segunda metade do livro. O tempo todo fiquei com a impressão de que Debbie Macomber criou problemas nas vidas dos personagens para que a história se estendesse; no início, o recurso funcionou, mas aos poucos ficou repetitivo e pareceu enrolação. No fundo, acho que o enredo funcionaria melhor se fosse um conto, ou se tivesse menos clichês.

Os personagens, ainda que carismáticos, também foram se tornando cansativos. Principalmente no final, quando a enrolação se disfarçou de orgulho e teimosia da parte de Aren e Lucie. Em nenhum momento anterior ficou esclarecido este aspecto das personalidades dos protagonistas, o que fez com que o comportamento de ambos mudasse de forma bastante abrupta. Não entendi muito bem a função dos anjos, a não ser a de criar confusão, adicionar elementos de humor e lembrar o leitor do real significado das festas de fim de ano. Tirando o fato de que foram eles que iniciaram o romance, não fazem muita diferença no desenrolar dos acontecimentos posteriores. A não ser para criar as enrolações os problemas já citados.

A narrativa em terceira pessoa é bastante direta, com pouca - na verdade, nenhuma - descrição de ambientes ou situações. É bastante fluida, mas achei um tanto simples e seca em algumas partes; não me agradou muito. Mesmo com os aspectos que, para mim, foram negativos, ainda assim, gostei da leitura. Porém, não sei se leria outro trabalho da autora.

Como disse, o livro traz uma história bastante previsível e é recheado de clichês, porém, acredito que possa agradar àqueles que estão procurando algo sem muita profundidade, ainda assim, agradável para ler neste período de festas.

15 de dezembro de 2014

Frankenstein (Mary Shelley)

Frankenstein, livro clássico do terror e marco da ficção científica, surgiu de uma forma interessante. Durante uma temporada chuvosa e entediante de férias, Mary Shelley, seu futuro marido e um grupo de amigos - entre eles, Lord Byron - resolveram contar histórias de terror e chegaram ao acordo de que, até o fim da viagem, todos deveriam escrever uma história a ser compartilhada. E foi a partir deste desafio que nasceu Frankenstein ou o moderno Prometeu (título original).

O romance, que traz elementos da literatura de terror gótica e do romantismo, foi publicado pela primeira vez em 1818, quando Mary Shelley tinha apenas 19 anos. No entanto, ao longo de sua vida, a autora fez algumas alterações em sua obra, de forma que a versão que temos hoje e que é considerada como a edição definitiva é a terceira edição, de 1931.

Logo no início da leitura, somos apresentados à Robert Walton, comandante de uma expedição ao Polo Norte que se corresponde com sua irmã, a quem conta o que ocorre durante a viagem. É a partir das cartas de Walton que o leitor tem conhecimento de Victor Frankenstein, um homem que foi encontrado à deriva no oceano pela tripulação de Walton. Após recobrar a consciência, o sobrevivente passa a narrar a sua história.

Nascido em uma família abastada, Victor Frankenstein sempre teve tudo do bom e do melhor, fazendo parte dos círculos sociais influentes de sua comunidade e tendo acesso à melhor educação. Ao completar 17 anos, ingressa na universidade e passa a se interessar por ciência, filosofia, alquimia e pela questão da origem da vida. Depois de muito estudar sobre tais assuntos, ele descobre o segredo para criar um ser humano e resolve fazer um experimento. Bem sucedido, se assusta e foge, abandonando sua criatura.

Anos se passam e Frankenstein retoma a sua vida em sua cidade natal, se aproximando de sua família, amigos e da moça com quem sonha casar algum dia. Porém, coisas estranhas passam a acontecer nas redondezas e ele desconfia de que tenham relação com o que fez no passado. Em determinado momento, Victor e sua criatura se reencontram e, a partir deste ponto, temos conhecimento do que veio a acontecer com a criatura, que ao longo dos anos conseguiu sobreviver, aprendeu a se comunicar e até a desenvolver pensamentos filosóficos e sociais.

Há anos queria ler Frankenstein e, depois de muita enrolação, finalmente o fiz! Sinceramente, esperava gostar mais; considero a experiência de leitura bastante válida e, de certa forma, enriquecedora, mas não vou mentir: não a achei prazerosa. Acredito que essa sensação tenha resultado da forma como a narrativa é estruturada e dos personagens - com os quais pouco me identifiquei.

É um pouco complicado explicar como a história é estruturada, mas vamos tentar. A narrativa tem início com as cartas que Robert Walton escreve para sua irmã; nelas ele explica como conheceu Victor Frankenstein e anexa o relato do mesmo. Neste momento, temos um segundo narrador que conta a história de sua vida e anexa ao seu relato aquele feito pela criatura, narrando os acontecimentos de sua recente existência durante o período em que esteve distante de seu criador. Logo, o que temos é uma história dentro de outra história, que por sua vez, está dentro de outra. Por se tratar de narrativas em primeira pessoa, é difícil para o leitor conferir a credibilidade de tudo o que é dito. Não é possível saber, por exemplo, se tudo que a criatura diz que fez é verdade, porque quem narra o relato dela é Victor Frankenstein.

Sobre o protagonista, pouco tenho a dizer, exceto que não gostei dele. A impressão que ficou é que Victor Frankenstein é um ser mimado e covarde que não sabe lidar com as consequências de seus atos. Em sua narrativa fica o tempo todo tentando se justificar, se fazendo de vítima - como se não tivesse culpa alguma em relação aos acontecimentos ruins na história - quando, na verdade, tudo o que ocorre resulta de suas decisões. Durante boa parte da leitura, me questionei sobre quem seria o verdadeiro monstro na história: a criatura - que não pediu para existir e que, por conta de ter sido abandonada, comete atrocidades - ou Frankenstein. Por outro lado, a criatura não é de todo inocente; principalmente quando fica obcecada por vingança.

Na narrativa, me incomodei com as repetições e também com o excesso de sentimentos. Este último, reconheço que seja um recurso da literatura da época, do Romantismo que fazia uso dos sentimentos e também das descrições da natureza. Porém, não encontro explicação para os personagens se repetirem o tempo todo, deixando a leitura enfadonha em algumas partes. Há também o fato de que é difícil acreditar em alguns fatos, como, por exemplo, uma criatura recém-nascida já ser capaz de andar e, aos três anos, já conseguir ler e filosofar. Mas, uma vez que o leitor aceita esses acontecimentos como uma verdade, a leitura flui melhor.

Como já expliquei, mesmo não achando a leitura prazerosa, estou feliz por tê-la realizado. O que mais me fascinou em Frankenstein é a atualidade de sua história. Ainda que, para mim, o livro se aproxime mais da ficção científica, não há como negar que o avanço da ciência e a sua utilização de forma descontrolada, sem pesar suas consequências, pode gerar enredos aterrorizantes. E é justamente aí que está a beleza da obra de Mary Shelley, que levanta questões que continuam a fazer sentido dois séculos depois de sua publicação. Assim, a leitura de Frankenstein é importante, válida e recomendada à todos os que gostam de clássicos ou de ficção científica.

9 de dezembro de 2014

Sobre leituras obrigatórias | Vida de Leitora #08



Hoje quero conversar com vocês sobre elas, as temidas e odiadas leituras obrigatórias. Seja por conta da escola, da faculdade ou por imposição pessoal, todo leitor, ao longo de sua vida, depara com a complicada situação de ter que ler algo sem vontade. E como toda ação tem reação, logicamente, isso acarreta as mais diversas consequências.

Neste primeiro post, vamos falar sobre o tipo mais comum de leitura obrigatória: aquele imposto pelas instituições de ensino, mais precisamente pelo ensino médio. Não é segredo para ninguém que já tenha passado pelo ensino médio que os alunos devem realizar determinadas leituras com o intuito de se tornarem aptos para prestar o vestibular. Na lista de leitura: clássicos nacionais escritos por nomes de peso como Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa e Machado de Assis. Observando a situação de longe e de forma ampla, tudo parece lindo e maravilhoso. "Olha só, que legal! Posso aprender sobre os diferentes períodos da história brasileira por meio da literatura!" Mas não é bem assim que a banda toca.

Claro que, ao introduzir os alunos aos clássicos nacionais, as escolas, além de mostrar uma valorização da nossa literatura, também os apresenta a diferentes contextos que marcaram a nossa história e, consequentemente, a nossa cultura. É inegável que a leitura de clássicos - nacionais e mundiais - proporciona experiências de imersão em diferentes realidades e permite aos leitores uma maior compreensão do mundo, da sua posição nele e da História. Porém, há de se considerar alguns aspectos no que diz respeito a aceitação das obras por parte dos alunos.

Tendo como base a minha experiência como vestibulanda - que ocorreu há uns sete anos! -, foram poucas as leituras selecionadas que me permitiram sentir aquela identificação com os personagens, com o enredo e o desenrolar dos acontecimentos. Não que eu tenha achado todos os livros um verdadeiro pesadelo, mas, no auge de meus 16 anos, sinto que me faltava a maturidade para compreender muito do significado daquelas obras. Peguemos como exemplo Iracema, de José de Alencar. O livro, tido como um dos principais títulos da primeira geração do Romantismo brasileiro, é compreendido como uma explicação poética do autor para o surgimento do Ceará, a sua terra natal. Tem todo um simbolismo envolvendo Iracema, a virgem dos lábios de mel, e Martim, o colonizador europeu. E apesar dessa visão bastante lírica, para mim, tudo não passava de uma história de amor entre uma índia e um português; tipo a Pocahontas com o John Smith na versão da Disney, entendem?

Há também o fato de que nem todos os alunos, ao chegarem ao ensino médio, gostam de ler e/ou desenvolveram o hábito de leitura. Logo, o primeiro contato deles com a literatura é por meio de livros escritos no século XIX - ou antes -, com um vocabulário com o qual não estão habituados e histórias com as quais não se identificam. Ah, e eles são obrigados a realizar tais leituras porque estas são requisitos para uma prova que poderá, ou não, ajudá-los a ingressar na universidade. Com essa situação em mente, não é difícil entender porque tanta gente nunca mais pensou em abrir um livro depois de deixar a escola.

Por favor, entendam que, de forma alguma, sou contra a exigência da leitura de clássicos brasileiros nas escolas. Muito pelo contrário, acredito sim que é preciso ter contato com a nossa literatura, com a nossa cultura. Certamente, além de ensinar, o ensino médio deve preparar os alunos para os vestibulares e, por isso, os estudantes lidam com uma série de obrigações impostas não apenas pelas aulas de literatura, mas por todas as disciplinas. Sabendo disso, penso que o correto seria estimular o prazer pela leitura durante o ensino fundamental. Uma vez que a pessoa já gosta de ler, fica mais fácil lidar com os temidos clássicos do vestibular, certo?

Mais uma vez vou fazer uso da minha própria experiência. Comecei a minha história como leitora logo que fui alfabetizada, com os livros sugerido pelos meus pais e professores e com revistinhas da Turma da Mônica. Assim, desde muito cedo já gostava das palavras e de como, quando combinadas, elas eram capazes de me entreter por horas. A transição das revistinhas para os livros ilustrados e, mais tarde, sem figuras e com mais de 100 páginas, foi algo bem natural para mim; de forma que quando cheguei ao ensino médio, mesmo passando por uma verdadeira via sacra para concluir algumas leituras, não as considerei um obstáculo impossível e nem fiquei com trauma de livros.

É certo que ainda torço o nariz toda vez que ouço os nomes José de Alencar e Eça de Queiroz (autor português, mas estudado aqui no Brasil também), mas felizmente o mesmo não pode ser dito sobre Machado de Assis, autor de um dos únicos livros que li por obrigação e gostei. Penso que ainda precisarei de uns anos antes de tentar ler novamente algum dos clássicos ou dos autores que me foram impostos naquela época. Mas esse é um projeto em desenvolvimento, assim como o de ler mais livros nacionais. Com tempo e paciência, acabo com o preconceito que resultou das obrigações do vestibular.

Também gostaria de falar com vocês sobre o segundo tipo de leituras obrigatórias, aquele que é imposto por nós. Mas como o post já está grandinho, vou deixar esta discussão para uma outra ocasião, tudo bem? 

Texto publicado originalmente na coluna Literalmente Falando, do blog Literature-se.

26 de novembro de 2014

Silo (Hugh Howey)

Em 2011, Hugh Howey publicou um conto de forma independente pelo sistema Kindle Direct Publishing, da Amazon. Após o sucesso repentino da publicação e dos pedidos de leitores, ele decidiu expandir a sua história com mais quatro contos que, posteriormente, foram unidos como um único livro chamado Silo, que se tornou um best-seller, teve seus direitos comprados pelos estúdios 20th Century Fox e chegou às livrarias brasileiras em 2014, pela editora Intrínseca.

Silo nos apresenta a um futuro distópico e pós-apocalíptico em que, após guerras e destruição, a superfície terrestre se tornou tóxica e cheia de radiação, forçando os seres humanos a viverem embaixo da terra em uma estrutura semelhante a um silo (recipientes utilizados para o armazenamento de sementes e outros produtos agrícolas). Enclausurados, aqueles que vivem lá dentro estabeleceram uma nova sociedade, onde todos tem uma função e não devem questionar o sistema. Aqueles que comentem crimes ou demonstram o desejo de sair do silo são condenados e mandados para fora, onde morrem em poucos minutos. Suas mortes são captadas por câmeras externas e seus corpos ficam à deriva, decompondo e visíveis à todos os que estão no silo.

Pouco se sabe da vida antes do silo e das pessoas que viviam na superfície; perguntar sobre o passado pode ser visto como algo errado e levar à limpeza. Ao longo dos anos, o silo sofreu com vários levantes, que sempre foram controlados e seguidos pela paz. No começo da história, temos conhecimento das circunstâncias estranhas da morte de Holson, o xerife do silo. Com motivos para acreditar que algo muito ruim está para acontecer, a prefeita Jahns e o delegado Marns, partem para os níveis mais baixos do silo à procura de Juliette, uma mecânica que creem ser a melhor opção para o cargo de xerife.

Sem compreender o motivo de ser escolhida, mas acreditando poder ajudar seus amigos, Juliette aceita o novo emprego. Após alguns dias, mortes estranhas começam a acontecer e quanto mais ela tenta investigar a situação, mais misteriosas e complicadas as coisas ficam. Tudo piora quando é a vez dela de fazer a limpeza.

Pouco sabia sobre o enredo de Silo quando iniciei a leitura, de forma que cada página foi uma surpresa. Logo no início, acompanhamos as últimas horas de Holston, o xerife do silo, e também somos apresentados a essa sociedade subterrânea e a sua forma de funcionamento. Apesar do ritmo lento e do detalhamento do começo, tudo me soava bastante intrigante e curioso, me fazendo querer continuar com a leitura. Porém, depois da página 100 as coisas se tornaram um pouco conturbadas e inconstantes.

O livro traz uma proposta interessante e que abre margens para discussões sobre política, controle de informação e manipulação de massas, porém, fiquei com a sensação de que a ideia poderia ter sido melhor executada. Sinto que o maior problema com Silo não é a história, mas sim a forma como ela é contada. A narrativa de Hugh Howey é simples e em terceira pessoa, porém extremamente enfadonha na maioria das partes, com descrições em excesso, repetitivas e desnecessárias. É cansativo ter que ler sobre cada movimento feito por um determinado personagem e nos momentos em que seria necessário um maior detalhamento, o autor opta por ser breve e deixa tudo um pouco confuso. Terminei a leitura sem conseguir visualizar muito bem o silo e a limpeza.

Há também a questão do desenvolvimento lento da trama. Juliette é a protagonista e a heroína da história, porém a sua estreia ocorre apenas no fim da segunda parte. Antes disso, o leitor acompanha páginas e mais páginas da jornada da prefeita e do delegado pelas escadas do silo, carregada das já mencionadas descrições enfadonhas. Não que nada de interessante aconteça neste momento da trama, mas é bastante claro que um número menor de caracteres teria sido uma escolha melhor, já que faz com que o leitor perca o interesse pela leitura.

Os personagens são interessantes, mas pouco cativantes. Desde a primeira aparição de cada um deles, já fica claro quem é vilão e quem é mocinho; não há espaço para especulação ou desenvolvimento de camadas. Por conta deste aspecto, suas ações são bastante previsíveis e somadas à narrativa cansativa, resultam mais uma vez em motivos para o leitor não querer continuar com a leitura. Há também um pouco de romance, mas a forma como é introduzido não me convenceu, já que tudo ocorreu meio que abruptamente, com pouco desenvolvimento, de forma que ficou parecendo sem propósito e até meio contraditório.

Sinceramente, meu interesse pelos acontecimentos só voltou a surgir no final da quarta parte, lá pela página 300. A partir deste ponto, a história começa a ficar interessante, com reviravoltas e um ritmo mais agitado. O final é satisfatório, ainda que deixe algumas questões em aberto, principalmente sobre o funcionamento do silo. Porém, por se tratar de uma trilogia, acredito que essas dúvidas deverão ser respondidas nos próximos livros. Ainda que seja a primeira de três partes, Silo traz uma conclusão e fecha um arco, deixando alguns ganchos para o que virá. 

A leitura de Silo, para mim, não foi uma experiência prazerosa, por isso ainda não sei se irei ler suas continuações. Ainda assim, gostei da proposta e acredito que o livro possa agradar a muita gente; uma rápida pesquisa no Skoob e no Goodreads mostra que faço parte de uma minoria. Assim, recomendo que aqueles que tem interesse pelo livro pesquisem outras opiniões antes de decidirem se irão ler ou não. 

25 de novembro de 2014

Minha lista de prioridades (David Menasche)

 Em Minha lista de prioridades - A jornada de um professor em busca das grandes lições da vida somos apresentados a David Menasche, um professor de inglês e literatura do ensino médio (High School) em uma escola preparatória de Miami, que aos 34 anos foi diagnosticado com um tumor no cérebro. De acordo com os médicos que acompanharam o seu caso, a expectativa de vida para David era de poucos meses e, por isso, um tratamento precisaria ser iniciado o quanto antes.

Seguindo à risca o tratamento imposto pelos médicos, David continuou a levar a sua vida de professor da forma mais normal possível e a participar ativamente da formação de seus alunos. Seis anos após o diagnóstico, ele sofreu uma convulsão que lhe tirou parte das memórias, de sua visão e de sua mobilidade e lhe impediu de continuar a lecionar. Ao recordar uma das atividades que realizava com seus alunos, na qual pedia que listassem as suas prioridades na vida, David decide recuperar a sua independência. Ele abandona os tratamentos e parte em uma viagem pelos Estados Unidos, visitando seus ex-alunos, com quem conversa sobre o tempo que viveram juntos na escola.

Primeiramente, gostei do tom leve do livro. Apesar de trazer o relato de um homem que convive com um câncer em estágio terminal, Minha lista de prioridades não é um livro triste, amargo e que te faz ficar com vontade de chorar a cada virada de página. Muito pelo contrário, David Menasche é uma pessoa bastante otimista. Mesmo quando ele tem todos os motivos do mundo para se revoltar com tudo e com todos, ele mantém a cabeça erguida e um sorriso no rosto. Claro que nem sempre foi assim; ele passou por todo o processo de negação até chegar à aceitação. Mas, uma vez que aceitou, ele optou por ser forte e não desistir da luta.

A narrativa é feita em primeira pessoa pelo próprio David, que conta os acontecimentos de sua vida desde quando soube que tinha câncer até alguns meses após a publicação do livro. Ele faz uso de uma certa ironia e também de bom humor em sua escrita, principalmente quando descreve os momentos mais delicados, como, por exemplo, quando teve que contar aos pais sobre a sua situação antes de um jantar de Ação de Graças. O livro também traz os depoimentos de alguns dos alunos de David, normalmente colocados após a descrição de uma situação que tenha relação com o depoimento ou com a relação do professor com seu aluno, que, para mim, constitui o elemento mais bonito do livro. 

É emocionante perceber o quanto um professor é responsável pelas mudanças e decisões na vida de seus estudantes, principalmente quando estes são adolescentes. Dá para perceber pelos relatos que a relação entre David e seus alunos era de muito respeito e confiança; seus alunos, muitas vezes o procuravam para conversar sobre o futuro e os conselhos que recebiam ajudaram a moldar a vida que eles têm hoje. David, mais do que ensinar inglês e literatura, ensinou seus alunos a serem pessoas melhores. A amizade que se formou entre eles foi tão forte que, ao saberem da viagem de David, muitos alunos disponibilizaram suas casas para recebê-lo.

Por ser um professor de literatura, David faz referência à vários livros, principalmente clássicos, da literatura estadunidense e mundial, o que é um prato cheio para quem gosta desse tipo de coisa e está sempre com um caderninho à mão para anotar as dicas. Alguns exemplos: O sol é para todos, O grande Gatsby, O apanhador no campo de centeio, Laranja Mecânica, A revolução dos bichos, A redoma de vidro e On The Road.

O único aspecto que me causou um certo estranhamento é a forma como David descreve a reação de algumas pessoas próximas dele à sua situação; mais precisamente sua esposa (ou, no caso, ex-esposa) Paula. Sempre que o autor deixava claro que havia uma certa indiferença da parte dela, eu duvidava um pouco da extensão de tal comportamento. Atribuo essa reação ao fato de que estamos lidando com uma narrativa em primeira pessoa, que traz as impressões bastante subjetivas de seu narrador. Prefiro acreditar que há um certo rancor da parte de David, do que aceitar seu relato a respeito da esposa como verdadeiro. É cruel demais.

Concluindo, Minha lista de prioridades é um livro otimista, apesar dos motivos que levaram à sua criação, sobre amizade, aceitação e superação. É uma leitura agradável, leve e inspiradora. Recomendo à todos!

12 de novembro de 2014

A noite dos mortos - vivos (John Russo)

Em 1968, John Russo escreveu o roteiro para um filme sobre zumbis que viria a ser dirigido por George Romero. O filme em questão é A noite dos mortos-vivos,  obra em que pela primeira vez os zumbis são retratados como algo assustador e uma verdadeira ameaça para a humanidade. Ao longo das décadas, muitas outras obras viriam a beber na fonte do filme de Romero.

Anos depois, em 1973, John Russo romanceou o roteiro de A noite dos mortos-vivos e também o roteiro de uma possível sequência para o filme que jamais chegou a ser gravada (A volta dos mortos-vivos, que não deve ter seu enredo confundido com a de um filme com o mesmo título dirigido por Dan O'Bannon). A edição lançada em 2014 pela editora DarkSide traz as duas histórias.

A noite dos mortos-vivos apresenta uma situação limite e sem precedentes para a humanidade: os mortos retornaram, muito diferentes de como eram em vida, e com um desejo irracional por carne humana. A causa para tais acontecimentos é desconhecida e a população vive em estado de emergência. Quando o livro tem início, todas as formas de comunicação nas áreas rurais dos Estados Unidos parecem não estar mais funcionando e as pessoas que vivem por ali precisam se virar como podem para sobreviver enquanto a ajuda das cidades maiores não chega.

Os acontecimentos do primeiro livro se concentram, quase que totalmente, em uma casa cercada por mortos-vivos. O leitor acompanha as tentativas de sobrevivência das pessoas que estão lá dentro, tanto em relação aos zumbis, quanto em relação a si mesmos.

Em A volta dos mortos-vivos, dez anos se passaram desde os acontecimentos do primeiro livro. Ainda sem saber a causa para o fenômeno, a humanidade enfrenta novamente os mortos que ressurgem, porém, já está preparada para lidar com a situação. Aqui, o perigo não fica por conta apenas dos zumbis, mas também de seres humanos que tiram proveito da situação para praticar atos de violência. Há também referências à religião, à fé e ao modo como a morte passa a ser encarada pelas pessoas.

Primeiramente, nunca gostei de histórias de zumbi. Não sei explicar o motivo disso, apenas não acho zumbis interessantes o suficiente, apesar de achá-los bastante assustadores. Assim, resolvi ler A noite dos mortos-vivos com o intuito de compreender a origem dos zumbis como os conhecemos hoje na cultura pop e também com a esperança de gostar um pouquinho deles.

Gostei bastante da forma como os livros tem início, com reflexões sobre a vida e a morte, antes de partir para os acontecimentos propriamente ditos.

Pense em todas as pessoas que já viveram e morreram e que nunca mais verão as árvores, a grama, ou o sol. Tudo parece tão breve, tão...inútil, não é? Viver um pouquinho e depois morrer? Tudo parece resultar em nada. Ainda assim, de certa forma, é fácil invejar os mortos. Eles estão além da vida, além da morte. Têm sorte de estarem mortos, de terem feito as pazes com a morte e não precisarem mais viver. Estão debaixo da terra, alheios...alheios ao sofrimento, alheios ao medo de morrer. Não precisam mais viver, nem morrer, nem sentir dor, nem conquistar nada. Ou saber qual é o próximo passo, e se perguntar como seria enfrentar a morte. (p. 17)

A primeira história tem início em um cemitério e achei a ambientação bastante satisfatória, pois me ajudou a entrar no clima dos acontecimentos e, ao mesmo tempo, me fez pensar em filmes antigos de terror. Bárbara, a primeira personagem que acompanhamos, se mostra bastante corajosa nas primeiras páginas, logo após sobreviver ao ataque de um morto-vivo, porém, assim que entra na casa e somos apresentados aos demais personagens, se torna a personagem mais chata de todo o livro. 

Pouco depois de a chatice de Bárbara começar, a narrativa começou a ficar arrastada e nada parecia acontecer. Durante páginas e mais páginas, lia apenas sobre como aquelas pessoas estavam começado a se detestar e a perder as esperanças de sobrevivência enquanto a casa era rodeada por zumbis. Mais para o final, a história começa a ter mais ação e o final é bastante surpreendente e, de certa forma, revoltante.

Já A volta dos mortos-vivos me interessou bem mais. Ao contrário da primeira história, que se concentra em um único local, aqui há movimentação. Os personagens saem de onde estão e tentam encontrar outros sobreviventes, chegar à cidades maiores. Há também momentos em que desconfiamos de alguns acontecimentos e de reviravoltas. Gostei de como o autor abordou o lado ruim da humanidade, que sempre vem à tona em situações limite, revelando monstros tão, ou até mais, assustadores que os zumbis. 

A narrativa em ambos os livros é feita em terceira pessoa e conta com os diálogos dos personagens. Há também trechos que são, na verdade, transmissões de rádio que funcionam para informar o leitor e os personagens sobre os acontecimentos nas regiões afetadas pelos mortos-vivos. É um recurso interessante pois ajuda na ambientação da história.

De uma forma geral, achei a leitura de A noite dos mortos-vivos/A volta dos mortos-vivos bem mediana, mas essa é a opinião de alguém que não se interessa por histórias de zumbi. Acredito que aqueles que se interessam por essas criaturas e/ou são fãs de The Walking Dead possam aproveitar melhor a experiência.

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A editora DarkSide lançou duas edições do livro, sendo uma delas bastante especial, de colecionador e capa dura. A minha é a mais simples, mas ainda assim, não deixa de ser bastante caprichada. O livro conta com as páginas amareladas, um bom tamanho de fonte e um espaçamento decente entre as linhas, de forma a não cansar a vista e/ou atrapalhar a leitura. Todas as páginas contam com detalhes na diagramação e algumas ainda trazem imagens do filme de 1968. 

27 de outubro de 2014

Voos e sinos e misteriosos destinos (Emma Trevayne)

Voos e sinos e misteriosos destinos, de Emma Trevayne, traz uma história ambientada na Londres vitoriana e apresenta o leitor a Jack Foster, um garoto de 10 anos que sonha com o momento em que viverá suas aventuras.

Com um pais ausentes, sempre ocupados com o trabalho ou jantares para os vizinhos, Jack vive sempre isolado e sob os cuidados da Sra. Pond, a governanta, ou em um colégio interno. Se sentindo muito solitário, Jack tem sempre a impressão de que a mãe não o ama e não tem muita paciência para ele, sempre o castigando quando ele escutava suas conversas escondido.

Um dia, escapando da Sra. Pond, Jack resolve seguir o estranho espiritualista de sua mãe por Londres e acaba descobrindo uma porta mágica no Big Ben. Curioso, o menino atravessa a porta e vai parar em uma Londres alternativa, cheia de engrenagens, fuligem e poluição. Londinum, como é chamada a cidade, é a capital do império da Senhora - uma mulher eterna e temperamental que está sempre à procura de um filho para mimar -, habitada por fadas, pássaros e bonecas mecânicas e pessoas que, para respirar, precisam ter seus corpos transformados com a inserção de metais.

Apesar de não achar o enredo de Voos e sinos e misteriosos destinos muito original, gostei da maneira como a autora conduziu a história. Londinum é um lugar que, mesmo sujo, me despertou o fascínio, tanto por sua peculiaridade, quanto por seus personagens excêntricos. 


Jack Foster é um garotinho esperto e curioso, de fácil identificação por parte do leitor. Apesar de ser o herói da história, não é difícil condená-lo por muitas de suas ações. Jack pode ser teimoso, egoísta e sem ambição. É um personagem bastante humano e, por isso, também muito realista. Seus amigos de Londinum - dr. Cataplasma, a boneca Beth e Xeno - foram responsáveis por me fazer rir durante a leitura, e também por me deixarem interessada pelo cenário steampunk e fantasioso criado por Trevayne. 

Os vilões também tem seu brilho. A Senhora, rainha de Londinum, é uma mulher de temperamento oscilante e cheia de caprichos. Seu império enfrenta uma ameaça de guerra - ou pelo menos é o que ela acredita estar acontecendo -, mas ela vive alienada e desesperada para ter um novo filho. Por ter vivido milhares de anos em um mundo onde as pessoas precisam ser modificadas para sobreviver, a Senhora sempre busca um filho perfeito, 100% humano, vindo do nosso mundo. Quando este cresce, ela o descarta e vai atrás de uma nova criança. Seu principal servente, Sir Lorcan consegue ser ainda mais assustador que ela. Praticante de magias malignas, Lorcan é capaz de tudo para agradar a senhora, seja sequestrar uma criança, seja matar muitos inocentes para conseguir essa criança.

A narrativa da história é feita em terceira pessoa e de uma forma bastante acessível e divertida, com um pouco de humor e ironia. A edição publicada pelo selo Seguinte traz ainda algumas ilustrações feitas por Glenn Thomas que captam a atmosfera da história sem impedir que a imaginação do leitor trabalhe. Elas também me lembraram do trabalho de Wesley Rodrigues na edição de O Circo Mecânico Tresaulti, publicado pela DarkSide.

Como mencionei acima, não achei o enredo do livro muito original, e a criatividade ficou por conta da ambientação. Por se tratar de uma história para crianças, dá para afirmar que o livro tem aspectos mais sombrios e até traz momentos pesados. Nada impossível de ser compreendido por uma criança, claro. A princípio, o leitor é conduzido por uma narrativa de apresentação do universo fantástico, porém, aos poucos, a história começa a tomar um rumo e mistérios começam a surgir, deixando tudo mais interessante.

Mesmo com a previsibilidade, a leitura foi agradável. A única ressalva que faria é a respeito da superficialidade de alguns personagens. Enquanto lia, aguardava para descobrir algo a mais sobre a Senhora, por exemplo, ou a mãe de Jack; mas ao chegar ao final, algumas dúvidas permaneceram. Não acredito que essa superficialidade seja um empecilho e até acho que a autora deixou as coisas assim intencionalmente. Acredito que, por eu não ser mais o público alvo desse tipo de livro, acabo esperando uma profundidade típica de livros mais adultos, o que não faz sentido algum neste caso, porque é um livro infantil e muito deve ser deixado para a imaginação. Ainda assim, acredito que Voos e sinos e misteriosos destinos seja uma ótima leitura para aqueles com idade entre 8 e 12 anos, ou aqueles que gostam de histórias infanto-juvenis. Leitura recomendada!

8 de outubro de 2014

A Máquina do Tempo (H.G. Wells)

Publicado em 1895, A máquina do tempo, de H.G. Wells, é considerado o primeiro romance de ficção-científica a abordar o tema de viagem no tempo. Tendo início em uma residência localizada na Londres vitoriana, a história traz um grupo de homens renomados - médico, jornalista, advogado, etc. - reunidos para um jantar à convite de um conhecido, chamado apenas de "O viajante do tempo".

Após ser indagado sobre os motivos que levaram ao convite para o jantar, o viajante explica que construiu uma máquina capaz de se mover pela quarta dimensão, a dimensão do tempo. Os convidados se mostram incrédulos a respeito do que acabaram de escutar, assim, o viajante resolve provar, viajando para o futuro e voltando para contar o que viveu.

Chegando ao ano 801.702, o viajante no tempo entrará em contato com um novo mundo e com uma nova espécie humana, dividida em duas: os pacíficos Eloi e os temidos Morlocks. Convivendo com os Eloi, ele irá refletir sobre os avanços da ciência e da tecnologia e tentará entender o que levou a humanidade a chegar àquele ponto.


A leitura, de uma forma geral, foi bastante interessante e envolvente. Surpreendentemente, consegui escapar ilesa de spoilers relacionados à história, de forma que pouco sabia sobre o enredo. Logo, fui sendo, aos poucos, conduzida por H.G. Wells em sua história de aventura no futuro.

Gostei da possibilidade de acompanhar um homem da ciência do século XIX entrando em contato com um mundo do futuro e completamente diferente daquele com que estava acostumado. Lendo "A máquina do tempo" percebi que mesmo após dois séculos, ainda vivemos o reflexo do que foi o século XIX; tudo bem que os avanços tecnológicos e científicos já atingiram um outro patamar, mas ainda assim, consigo enxergar o homem do século XXI como uma continuidade do que foi o homem do século XIX. Assim, o livro de H.G. Wells, apesar de antigo, continua bastante atual. E essa é a grande maravilha dos clássicos. 

O livro é pequeno, por isso, não entregarei muito do enredo. Gostei muito das descrições de cenários do futuro, como os locais onde os Eloi e os Morlocks vivem. Através dos olhos do viajante, o autor conseguiu fazer com que eu sentisse um estranhamento em relação ao mundo do futuro, tentando entender essas duas espécies derivadas da humanidade e como viviam. Há uma atmosfera de mistério na história e quando finalmente compreendi o que estava acontecendo, fiquei surpresa e me envolvi ainda mais com a leitura.

A narrativa, feita em primeira pessoa e por dois personagens, é bastante fluida e traz descrições de cenários na medida certa. O único porém que poderia ser feito neste aspecto é a forma superficial com que o autor conta a história. O livro foi o primeiro trabalho de Wells, que foi bastante criticado por - vejam só! - Jules Verne por não ter apresentado uma base científica em sua história. O viajante construiu uma máquina do tempo e ficou por aí mesmo, o leitor que imagine o procedimento que ele utilizou em sua experiência. Para mim, este ponto em particular não incomoda, visto que não sou uma pessoa muito...científica. Ainda assim, gostaria de ter encontrado maiores explicações relacionadas aos Eloi e Morlocks e sua forma de "governo"; gostaria de ter compreendido melhor o que levou a humanidade a chegar até ali.

Mesmo com estes pontos que podem ser considerados negativos para alguns leitores, o livro me proporcionou várias reflexões acerca do ser humano e o seu futuro. Me fez pensar em como estará o planeta daqui a milhares de anos, se os humanos ainda serão a espécie dominante e, se sim, se teremos avançado ainda mais ou regredido à um ponto primitivo. E se não estivermos mais aqui, como seria a espécie dominante? O autor também aproveita para tratar, ainda que de forma sutil, sobre a questão da luta de classes, bastante recorrente desde o século XIX. Ao concluir, percebi que o autor não tinha uma visão muito otimista a respeito da humanidade.

De forma geral, gostei da leitura de A máquina do tempo, uma história de aventura que me fez pensar em algumas questões. É um livro agradável, rápido de ler e recomendado à todos os que gostam de histórias sobre viagem no tempo.

2 de outubro de 2014

O retrato - um romance de obsessão (Charlie Lovett)

O retrato,  escrito pelo estadunidense Charlie Lovett, é ambientado no ano de 1995 e em uma pequena vila no interior da Inglaterra chamada Kingham. Após a precoce morte de sua esposa, Amanda, Peter Byerly deixou os Estados Unidos se mudou para Kinghan com o intuito de se afastar de tudo e de todos os que o faziam lembrar dela. Ele sofre de ansiedade social e desde os tempos da faculdade, quando começou a namorar Amanda, ela se transformou em sua proteção, fazendo com que o ato de se relacionar com outras pessoas se tornasse menos assustador.

Peter é apaixonado por livros, em especial aqueles que são considerados raros, como primeiras edições ou aquelas que pertenceram a pessoas renomadas. Ganha a vida procurando este tipo de livro, com a intenção de restaurá-los e vendê-los a colecionadores ou doá-los à bibliotecas. Antes de conhecer Amanda, os livros eram o seu refúgio e buscava neles uma forma de não precisar interagir com outras pessoas.


Decidido a retomar a sua vida e a seguir os conselhos de seu terapeuta, Peter visita uma pequena livraria de livros usados com a esperança de encontrar alguma raridade. Entre as estantes, ele encontra uma edição antiga de um livro sobre falsificações das obras de William Shakespeare, mas o que realmente o surpreende é uma aquarela que estava escondida dentro do livro. A pintura, claramente datada do período vitoriano, traz uma mulher muito parecida com Amanda.


Surpreso e intrigado, Peter decide descobrir a origem da aquarela e suas pesquisas o levarão mais longe do que ele jamais poderia imaginar. Em sua busca por pistas sobre o paradeiro do enigmático pintor da aquarela, Peter se encontrará no centro de uma investigação histórica: o mistério do "Pandosto", livro de Robert Greene cuja primeira e edição teria inspirado William Shakespeare a escrever a peça "Conto de inverno" e na qual o dramaturgo teria feito diversas anotações nas margens.

Por meio de uma história que mistura mistério, suspense, romance e drama, Charlie Lovett conduz o leitor por uma viagem no tempo, começando pelas décadas de 1980 e 1990, visitando as eras elisabetana e vitoriana e apresentando personagens históricas. O resultado é um romance marcado pela presença dos livros e pela obsessão daqueles que os amam. 

***

Primeiramente, preciso dizer que Charlie Lovett sabe conduzir uma história. A narrativa em terceira pessoa é dividida em três partes que se intercalam, de forma que a cada fim de capítulo um leitor é presenteado com um gancho, o que faz com que seja praticamente impossível largar o livro até chegar ao desfecho.

Além de acompanharmos a vida de Peter Byerly em 1995, tentando superar a perda de sua esposa e tentando compreender a origem da aquarela, somos levados também aos anos 1980, quando Peter ainda estava na faculdade; assim, podemos descobrir como ele e Amanda se conheceram e compreender como ela era importante para ele. É nesta parte da narrativa que somos apresentados à paixão de Peter, os livros raros, e temos acesso a várias informações verdadeiras sobre colecionadores e falsificadores. 

Também acompanhamos uma terceira narrativa que não traz nenhum protagonista em particular, a não ser o "Pandosto". Assim, o leitor acompanha a trajetória do livro desde os anos 1500 e pouco, quando este chega às mãos de Shakespeare, até o período da Era Vitoriana, quando se tem o último registro do paradeiro do livro. A partir desta narrativa, somos apresentados à diferentes figuras históricas, como o próprio Shakespeare e o famoso colecionador Robert Cotton.

O enredo, apesar de envolvente, foi, para mim, um tanto previsível. Antes de chegar ao desfecho, já havia descoberto o mistério da aquarela e o do Pandosto. Mas isso, de forma alguma transformou a leitura em algo enfadonho. Acredito que tenha descoberto o final antes por já estar familiarizada com o gênero de investigações. De qualquer forma, como o livro traz elementos de diferentes gêneros, foi impossível me prender apenas ao mistério, de forma que, antes que me desse conta, já estava apegada à história do protagonista e seus dramas particulares. Ainda no que diz respeito a previsibilidades, preciso avisar que o livro é recheado de clichês que vão desde frases de impacto manjadas até um ~romance~ com uma coadjuvante feminina que surge no meio da trama.

Gostei muito da forma como Peter é apresentado, surgindo como um sujeito introspectivo e com dificuldades de relacionamento, mas que, aos poucos, começa a se transformar. Neste aspecto, posso afirmar que o autor fez um ótimo trabalho de desenvolvimento de personagem, já que ao final do livro Peter não é mais o mesmo do início. Quanto aos demais personagens, não sei se posso dizer o mesmo, já que todos parecem ser meros coadjuvantes na trama. Até o "vilão" da história é meio...nebuloso. A única exceção talvez seja Amanda, que nos é apresentada tanto pelo narrador - nos flashbacks dos anos 1980 - quanto pela perspectiva de Peter, que constantemente conversa com ela e imagina como seriam as suas respostas ou comportamento em relação a suas atitudes. 

Apesar do livro trazer uma trama com mistério e suspense, não diria que o livro tem um desenrolar rápido. Ao contrário do que acontece com os livros de Dan Brown, por exemplo, em que os protagonistas passam por situações extremas e de correria contra o tempo em poucos dias, em O retrato as coisas ocorrem em um ritmo mais normal, sem muito desespero, e a ação propriamente dita só aparece no final. Acredito que ter ambientado a história na década de 1990 contribuiu para esse andamento mais tranquilo da narrativa, afinal, Peter é old school e realiza suas pesquisas em bibliotecas e por meio de ligações telefônicas. Gostei de poder lembrar, ainda que de forma breve, como era a vida antes do Google e dos smartphones. 

No fim, mesmo com alguns aspectos que podem ser considerados um empecilho para alguns leitores, eu gostei de "O retrato". Não acho que Charlie Lovett tivesse qualquer pretensão de escrever a mais nova obra-prima do século XXI, mas sim um livro envolvente, que servisse como um bom entretenimento e que acabasse por deixar o leitor curioso em relação aos universos que ele apresenta: o dos colecionadores de livros raros e o das peças de William Shakespeare. No meu caso, afirmo que o autor foi bem sucedido, principalmente no que diz respeito as obras do Grande Dramaturgo! Já separei algumas de suas peças para leitura nos próximos meses.

Assim, com as devidas ressalvas feitas, fica aqui a minha recomendação de um livro divertido e com cara de filme para assistir em um domingo à tarde, acompanhado por um balde de pipoca e um copão de Cola-cola. 

Em termos físicos, a edição feita pela Novo Conceito está bem caprichada. O livro traz as amadas páginas amarelas que não cansam a vista e um ótimo espaçamento entre as linhas. Ah, as letras estão de bom tamanho também. Como disse, fisicamente falando, tá de parabéns.

O problema ficou mesmo por conta da revisão, que deixou passar alguns errinhos. Não são muitos e, em sua maioria, são erros de digitação - duas vezes a mesma letra ou palavra, travessão fora de lugar, falta de espaçamento entre ponto final e início de frase -; mas fiquei um tanto chocada com o erro de concordância verbal ("Aquelas partes dele estava congeladas;...". - Página 388, quarta linha), que ainda quero acreditar que foi um erro de digitação. Como o livro é um lançamento recente, espero que a Novo Conceito melhore a revisão para uma segunda edição.

26 de setembro de 2014

Tigres em dia vermelho (Lisa Klaussmann)

Ambientado durante as décadas de 1940 e 1960, Tigres em dia vermelho - estreia da estadunidense Liza Klaussmann -, apresenta um drama familiar e traz a história de duas mulheres. Nick e Helena são primas, muito próximas e completamente diferentes. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o futuro parece reservar grandes feitos para as vidas das duas, que estão prestes a se separar pela primeira vez, deixando a gloriosa Tiger House - propriedade da família localizada na ilha Martha's Vineyard e cenário de todos os verões de suas vidas desde quando eram crianças - para o passado.

Nick, dona de um espírito livre, tem todos os motivos para se considerar uma mulher feliz: é rica, mimada e em breve estará na Flórida com Hughes, seu marido e oficial da marinha que acaba de retornar de Londres. Helena, por sua vez, é tímida e nunca se encontrou na situação abastada da prima. Após a morte de seu primeiro marido na guerra, ela vai para Hollywood, onde um novo casamento e uma vida de festas e glamour a aguardam.

Aos poucos, ambas percebem que o futuro não é tão brilhante quanto imaginaram. Em meio a segredos, frustrações e aparências, a relação entre as duas começa a ruir e as visitas à Tiger House que costumavam ser reconfortantes, se transformam em experiências complexas, rotineiras e monótonas. Apenas doze anos depois é que a monotonia é interrompida, quando um acontecimento vivenciado pelos filhos de Nick e Helena abala a estrutura da família e deixa marcas profundas.

A primeira coisa que me atraiu para Tigres em dia vermelho foi a capa; há algo de intrigante nas duas mulheres de maiô vermelho. Mais intrigante ainda é o olhar da moça à direita. Depois de me apaixonar pela capa, li a sinopse (coisa que raramente faço) e decidi que precisava ler.

Os primeiros capítulos são muito envolventes; me deixei levar pela história dessas duas mulheres encantadas com a possibilidade de viver em um mundo livre da guerra e que aparentava trazer um futuro brilhante. Nick é uma mulher de personalidade forte e bastante determinada; por estar acostumada a ter tudo do seu jeito, é mimada e irritante em alguns momentos. É uma personagem bem construída e desenvolvida que foi capaz de me fazer sentir simpatia e ódio em diversos momentos. Gostei da forma como Nick é pura e simplesmente humana: cheia de sonhos, ambições e frustrações.

Helena, apesar de também ter sido bem construída, não foi capaz de gerar em mim a mesma simpatia. Mas talvez essa tenha sido a intenção da autora. Não gostei de como ela lida com as adversidades de sua vida e, principalmente, da falta de amor próprio que ela demonstra. É aquele tipo de personagem que sofre, mas não parece querer sair do sofrimento e/ou aceitar ajuda para fazê-lo. 

Ao longo do livro, a narrativa é dividida em cinco partes que correspondem a cinco perspectivas - Nick, Helena, Hughes, Daisy e Ed (os filhos de Nick e Helena, respectivamente) - o que, a princípio, enriqueceu muito a narrativa, mas que, aos poucos, se transformou em um problema. Enquanto Liza Klaussman fez um excelente trabalho na construção e desenvolvimento de suas personagens femininas, o mesmo não posso dizer a respeito dos personagens masculinos, que em muitos momentos não soaram verdadeiros para mim e suas narrativas foram, em sua maioria, enfadonhas.

Com exceção da última parte, todas as demais são narradas em terceira pessoa. Gostei da forma como a autora elaborou a narrativa, mesclando descrições de ambientes e situações com pensamentos dos personagens. É bastante interessante poder ler duas ou mais perspectivas sobre um mesmo acontecimento e observar como cada personagem tem uma percepção diferente dos fatos e das pessoas envolvidas. Porém, ao mesmo tempo que esse recurso tornou a narrativa rica e interessante, também se tornou enfadonho a partir da quarta parte, pois ficou repetitivo e nada de novo parecia ser acrescentado.

Apesar de ter iniciado a leitura com boas expectativas, com o desenrolar dos acontecimentos as minhas impressões da leitura foram mudando até chegar a um ponto em que comecei a desejar que o livro chegasse logo ao fim para eu saber como a história terminaria. Não vou mentir: não gostei do desfecho do livro. Não por algum acontecimento específico, mas pela forma abrupta como tudo foi acontecendo. A revelação que é feita ao leitor na última parte do livro é bastante previsível - ouso afirmar que desde o início -, mesmo a autora tentando fazê-la parecer surpreendente. Não compreendi a razão para esse trecho ter uma narrativa em primeira pessoa, já que não trouxe explicações mais claras ao leitor, de forma que o desfecho continuou bastante superficial.

Ao concluir a leitura, fiquei com a sensação de ter lido dois livros diferentes. A primeira metade (livro 1) tendo me agradado bastante e me transportado para décadas no passado; a segunda (livro 2), me incomodando por trazer aspectos menos realistas e contrariando tudo o que o livro tinha me apresentado até então. No fim, fiquei com a impressão de que a autora queria causar um impacto, mas como abordou alguns aspectos dos personagens e acontecimentos de forma abrupta e superficial, o desfecho ficou incoerente com o resto da história.

De uma forma geral, Tigres em dia vermelho foi uma leitura envolvente e que começou bem, mas que me decepcionou a partir da metade. Ainda assim, não vou negar que a capa me fascina. E se você ficou intrigado e curioso em relação ao livro, não se deixe levar totalmente pela minha opinião, pois a julgar pelas avaliações no Goodreads e no Skoob, muita gente gostou da leitura, e o único jeito de saber se você vai gostar, é dando uma chance.

22 de setembro de 2014

A vida secreta das abelhas (Sue Monk Kidd)

Ambientado em uma pequena cidade no sul dos Estados Unidos na década de 1960, A vida secreta das abelhas traz a história de Lily Owens, uma adolescente de catorze anos órfã de mãe, maltratada pelo pai e que encontra em Rosaleen, sua babá negra, a única pessoa que lhe demonstra algum tipo de afeto.

Sem conseguir se lembrar do dia da morte de sua mãe e com a certeza de que sua vida foi profundamente marcada pela tragédia, Lily decide fugir para Tiburon, uma cidade vizinha que acredita que lhe trará as respostas para as dúvidas que tem a respeito de sua mãe. Rosaleen, após ser atacada por homens brancos e presa, foge junto com Lily e, juntas, elas irão conhecer as irmãs August, May e June Boatwright, as produtoras do mel da Madona Negra.

Na companhia e com a ajuda dessas três irmãs, Lily irá compreender melhor o contexto em que vive, assim como passará a questioná-lo. Com August irá aprender sobre o mundo das abelhas e do mel e será apresentada à Madona Negra.


Quando comecei a leitura de A vida secreta das abelhas, não sabia muito bem o que iria encontrar. Como evitei ler a sinopse, acabei por me surpreender com a história e a me apaixonar pelos personagens a cada virada de página. A primeira parte do livro, com a fuga de Lily e Rosaleen, me lembrou bastante As aventuras de Huckleberry Finn, clássico de Mark Twain e um dos meus favoritos. 

A narrativa é feita em primeira pessoa por Lily que, ao mesmo tempo em que age como uma adolescente normal, se mostra à frente de sua época e apresenta reflexões bastante maduras. Em um contexto em que as mulheres não tinham voz, Lily é bastante segura sobre o que quer para si: sair de perto de seu pai e ir para a faculdade. Mesmo que seu sonho pareça impossível, é quando ela conhece as irmãs Boatwright que ela começa a acreditar que tudo pode se tornar realidade.

Através dos olhos de Lily, o leitor é transportado para um período e para um local marcados pelo racismo e pelo machismo. É impossível não se revoltar com alguns acontecimentos. Com ela, somos levados também a refletir sobre a vida e a morte, sobre fé e sobre o ser humano.

"A centrífuga separa o mel. Tira a parte ruim e deixa a parte boa. Eu sempre achei que seria ótimo ter centrífugas assim para os seres humanos. Era só jogá-los aí dentro e pôr a máquina para funcionar". (P.62)

As irmãs Boatwright são fascinantes: August com suas palavras calmas e sábias, May com seu jeito meio infantil e June com seu orgulho e personalidade forte. Cada uma desperta no leitor algum tipo de sentimento, seja de paz, de impotência ou de raiva. A forma como elas descrevem a religião da Madona Negra me despertou tanto interesse, quanto estranhamento.

"As histórias devem ser contadas, senão morrem; e, quando morrem, não nos lembramos quem somos nem porque estamos aqui". (P.84)

Gostei de como a autora relaciona os acontecimentos nas vidas de Lily, Rosaleen e das Boatwright com a vida das abelhas e de como estas e o mel desempenham, de certa forma, um papel na história. Sue Monk Kidd apresenta uma história forte e marcada por muita dor, tristeza e injustiça; mas, ao contrário do que imaginei, ela o fez de forma leve. Lily, mesmo com todos os motivos para desistir de tudo, se mostra sempre muito otimista e pronta para enfrentar o que a vida colocar em seu caminho.

Não vou mentir: o livro foi bastante previsível, ainda que em determinado momento eu tenha me surpreendido. Mas mesmo com certa previsibilidade, gostei da leitura e achei a experiência válida. É uma história sobre a vida, o poder do amor, o poder feminino. Sobre aprender a perdoar, a aceitar e seguir em frente. Leitura recomendada!


20 de setembro de 2014

Mentirosos (E. Lockhart) | Mentirosos, #1

Os Sinclair são uma família rica e tradicional dos Estados Unidos que todos os anos, durante o verão, se reúne em uma ilha particular, onde fingem não ver a decadência em que se encontram e passam a viver de aparências. Os adultos constantemente discutem sobre quem deverá herdar a fortuna da família e as crianças e adolescentes tentam se manter sempre afastados de tudo isso.

Cadence, seus primos Johnny e Mirren e seu amigo Gat - que formam um grupo chamado "Mentirosos" - sempre contam os meses até o verão, quando poderão finalmente se reencontrar e viver ótimas experiências na ilha. Cadence admira a visão de mundo de Gat e, aos poucos, conforme os anos se passam e os dois se tornam mais próximos, a amizade entre eles se transforma em um sentimento mais forte. 

Durante o verão de seus quinze anos, quando tudo parecia estar bem entre ela e Gat, Cadence sofre um acidente que resulta em amnésia, fortes dores de cabeça e muitos analgésicos. Após dois anos de tratamento, sem manter contato com os amigos e a família, ela tenta entender o que aconteceu no verão dos quinze. Cansada do tratamento extremamente cuidadoso de sua mãe e de suas tias, Candence resolve retornar à ilha na esperança de que recupere a sua memória.

Já aviso: se você quer ler Mentirosos, quanto menos você souber sobre o livro, melhor. Digo isso porque quando iniciei a leitura não sabia de nada e isso contribuiu muito para que a minha experiência de leitura fosse positiva. Por isso, serei breve nos próximos comentários, ok? 

Não vou mentir, não tinha muito interesse em relação a esse livro. Primeiro porque ando sem muita vontade/paciência de ler romances contemporâneos voltados para o público jovem adulto. Segundo, porque o livro está fazendo muito sucesso lá fora, logo, expectativas muito altas começaram a surgir. E vocês sabem que expectativa alta sempre resulta em frustração. Pelo menos comigo.

Assim, já havia descartado a possibilidade de leitura quando, durante um evento da Companhia das Letras na Bienal, recebi uma cópia antecipada do livro. Como não tinha muitas páginas e a curiosidade acabou falando mais alto - oras, eu estava com o livro nas mãos! -, comecei a ler e não consegui largar até chegar ao fim.

A narrativa, feita em primeira pessoa pela protagonista, é fluida e envolvente. E. Lockhart criou uma atmosfera idílica e misteriosa que faz com que o leitor se sinta parte daquela história. Cadence, tentando recuperar as suas memórias, começa a escrever histórias sobre a sua família e sobre os acontecimentos de que se lembra como se fossem contos de fada; estes contos aparecem entre os capítulos e acho que contribuíram bastante para deixar a narrativa interessante. Gostei também da forma como os personagens foram construídos. Por apresentarem características bem definidas e claras, o leitor consegue compreender quem são e quais são as suas motivações. Em alguns momentos, de tão envolvida que estava, senti raiva de muitos deles.

Durante quase toda a leitura, fiquei me perguntando o porquê de o livro ser tão comentado. Até então, o livro, apesar de agradável, não tinha me mostrado nada de especial. Porém, ao chegar às páginas finais, fui pega de surpresa e compreendi o porquê do sucesso de Mentirosos. O enredo em si, não traz nada de tão inovador, porém acredito que a originalidade do livro está na forma como a autora conta a história. Em momento algum consegui antecipar o desfecho, que fiquei digerindo durante dias e me fez pensar em reler o livro daqui a um tempo.

Gostaria de poder comentar melhor as minhas impressões, mas, como comentei acima: quanto menos você souber da história, melhor. Meu conselho para quem quer ler Mentirosos é: evite ler sinopses muito explicativas, não crie expectativas e não tente adivinhar o desfecho. Deixe-se surpreender pela história. Leitura recomendada! 

15 de setembro de 2014

O Misterioso Caso de Styles (Agatha Christie) | Hercule Poirot, livro #1

Publicado em 1920, O misterioso caso de Styles é o primeiro romance de Agatha Christie. É também o primeiro livro da autora a trazer o famoso detetive belga Hercule Poirot. A história, ambientada alguns anos após a Primeira Guerra Mundial e em uma enorme mansão no interior da Inglaterra, é narrada pelo Capitão Hastings, um amigo de Poirot. Depois da guerra, Hastings se encontra por acaso com John Cavendish, um antigo conhecido que lhe convida para passar alguns dias na casa de campo de sua família: a mansão Styles. Aceitando o convite, Hastings logo é apresentado ao peculiar elenco de personagens que vive na casa.

Emily Inglethorp, a madrasta de John, herdou a mansão Styles e todo o patrimônio da família. Bastante influente na comunidade da qual faz parte, sempre promovendo eventos de caridade, Emily irrita e surpreende sua família após se casar com Alfred Inglethorp, um homem vinte anos mais jovem. Seus enteados, amigos e criados acreditam que Alfred - um homem quieto e com um passado bastante misterioso - só tem interesse na fortuna de Emily.

Durante a temporada de Hastings na mansão, toda a família está reunida e a tensão é aparente. A situação se torna ainda mais delicada quando Emily é encontrada morta em seu quarto e todas as evidências indicam que a morte teria sido causada por envenenamento. A partir deste ponto, todos os moradores se tornam suspeitos, pois todos tinham motivos para querer Emily morta.

Para solucionar o caso, que apresenta características bastante peculiares na cena do crime, a Scotland Yard irá contar com a ajuda de Hercule Poirot, que se utilizará de métodos únicos e teorias miraboolantes para descobrir a identidade do assassino.

O misterioso caso de Styles é o livro certo para aqueles que querem conhecer Agatha Christie. Digo isso porque, além de ser o primeiro romance da autora, o livro reúne todas as características mais comuns nos trabalhos dela, então acredito que seja uma ótima amostra.

A leitura, envolvente do início ao fim, fluiu muito bem. Os livros de Agatha Christie tem essa característica de prender o leitor até que ele chegue à última página e descubra quem é o autor do crime. Ao longo da leitura, criei várias teorias e comecei a investigar junto com Poirot e, tantas descobertas foram feitas e tantas reviravoltas surgiram que, ao chegar ao fim, foi impossível não ficar surpresa com o final.

Confesso que, para mim, não foi um final excelente. Na verdade, acho que foi até um tanto frustrante; mas não sei se essa sensação foi causada por não ter compreendido as pistas deixadas pela autora ou por ter me deixado levar pelas ideias de Hastings. Aliás, não sei bem se gosto ou não deste narrador. Como personagem, Hastings é bem semelhante à John Watson (de Sir Arthur Conan Doyle e amigo de Sherlock Holmes), apesar de ser bem pior na hora de criar teorias, o que acaba por deixar a sua narrativa bastante tendenciosa. De certa forma, este é um elemento interessante em um romance policial, já que contribui ainda mais para estimular o leitor a investigar também.

Por um outro lado, a narrativa de Hastings funciona muito bem na hora de apresentar Poirot aos leitores, mostrando o detetive belga como um sujeito excêntrico e um tanto presunçoso. É bem divertido ver como o capitão duvida de seu amigo e acha seus métodos investigativos bastante estranhos. De uma forma geral, o mistério e a investigação foram bem construídos e Agatha deixou pistas falsas para confundir o leitor, de forma a incluí-lo na história e mostrar que seus livros vão além das páginas. 

Mesmo sem ter considerado O misterioso caso de Styles o melhor livro da autora, achei que foi uma leitura válida por ser um clássico da literatura policial e também por ser o primeiro trabalho da Rainha do Crime. Leitura recomendada para quem tem interesse em conhecer o trabalho da autora, para quem já admira o seu trabalho e também para quem gosta de um bom romance policial.

As novas edições publicadas pela Globo Livros estão muito bonitas e com um ótimo acabamento. As capas, além de modernas, são um ótimos atrativos para novos leitores. A edição traz orelhas, páginas amareladas (papel soft pólen) e fonte Fairfield com um bom tamanho (creio que seja 12). A diagramação também está satisfatória, com um bom espaçamento.

O livro traz ainda uma apresentação escrita por John Curran que explica os motivos para Agatha ter alterado o final do livro antes de sua publicação. A edição da Globo Livros traz tanto o final publicado em 1920, quanto o final original escrito pela autora.


PS: sem perceber, publiquei esta resenha no dia do aniversário da Agatha, que nasceu em 15 de setembro de 1890! Gostaria de registrar aqui os meus parabéns e agradecê-la por nos divertir com seus mistérios, investigações e personagens! Agatha, muito obrigada por ser a Rainha do Crime <3


1 de setembro de 2014

Her Dark Curiosity (Megan Shepherd) | A Filha do Louco, livro #2

Retomando a história apenas alguns meses após os acontecimentos de A filha do louco, Her Dark Curiosity (ainda sem título em português) mostra Juliet Moreau de volta à Londres e tentando superar tudo o que viveu na exótica ilha em que seu pai realizava experimentos científicos. Após enfrentar a prisão - resultado de seu último encontro com o repugnante professor da universidade em que trabalhava como faxineira -, Juliet encontra um benfeitor em um antigo amigo de seu pai e volta a fazer parte da elite londrina, participando de eventos como chás no fim da tarde e bailes.

Porém, nem de longe é possível dizer que sua vida se transformou em um conto de fadas. Mesmo cercada de luxo e riqueza, Juliet ainda luta contra a sua "doença"; o composto químico desenvolvido por seu pai para que sobrevivesse com um coração de animal não está mais funcionando. Portanto, é apenas uma questão de meses até que ela encontre o mesmo destino das criações do dr. Moreau. À procura de uma cura para o seu problema, e com o coração partido pela estranha despedida de Montgomery, Juliet começa a suspeitar de que tem alguma relação com uma série de assassinatos que atormentam Londres. Aparentemente, os crimes são cometidos pela mesma pessoa e todas as vítimas já lhe fizeram algum tipo de mal.

Enquanto luta pela própria sobrevivência, Juliet descobre que seu pai não era o único cientista sem escrúpulos. Novos e perigosos inimigos surgem, fantasmas do passado retornam e ela percebe que não poderá confiar em ninguém.

Primeiramente, preciso parabenizar Megan Shepherd que conseguiu me prender a cada palavra do livro, me tirando de uma ressaca literária monstruosa. Com os agradecimentos devidamente conferidos, preciso dizer que Her Dark Curiosity foi, para mim, uma experiência de leitura superior que a do primeiro livro. Não quis esperar a tradução e li o e-book em inglês; se puder, faça o mesmo e leia no original. Não que tenha achado a tradução ruim, mas realmente preferi em inglês.

Aqui, o diálogo ocorre com O médico e o monstro (também conhecido como O estranho caso do Dr. Jekyll e do Sr. Hyde), de Robert Louis Stevenson. Porém, ao contrário do que ocorreu com A filha do loucoHer Dark Curiosity não me pareceu uma recontagem de um livro clássico, mas sim uma história original que faz referência à uma obra clássica. É uma história completamente diferente e a principal semelhança que encontrei com o clássico foi a questão da dualidade que podemos encontrar no homem, ou melhor dizendo, em nós mesmos.

A narrativa, também feita em primeira pessoa por Juliet, flui bem e, felizmente, não é tão detalhada de forma a se tornar cansativa. Sinto que neste livro, a autora acertou a mão e manteve um bom ritmo. Em nenhum momento fiquei com a sensação de que a história estava parada e que nada iria acontecer; muito pelo contrário, a cada virada de página queria saber o que viria depois. Juliet também me agradou bem mais nesta sequência. Apesar de sua incoerência em alguns momentos do primeiro livro, a considero uma boa protagonista e neste segundo livro pude perceber que não estou enganada. Aqui, apesar de todo o drama que é a sua vida, ela se mostra menos confusa e/ou insegura e quando assim age, não é de forma completamente aleatória e incoerente.

Outro ponto bastante positivo é a atmosfera de mistério que predomina durante a leitura. A forma como os assassinatos em série são apresentados - em conversas no açougue ou em notícias de jornal - me fizeram pensar na possibilidade de que a autora tenha se inspirado na história/lenda de Jack, the Ripper, tão característica da Londres Vitoriana. Ainda que a identidade do serial killer seja revelada antes da metade do livro, reviravoltas acontecem e mais mistérios surgem, de forma que a leitura continua envolvente.

Assim como ocorreu com A filha do loucoHer Dark Curiosity termina com um cliffhanger e me deixou muito ansiosa pelo próximo livro, A Cold Legacy, que foi inspirado por Frankenstein e deve ser lançado no exterior em janeiro. Para concluir, gostei muito da leitura e recomendo bastante a sequência para quem já leu o primeiro livro. Aliás, recomendo a leitura da série para todos que gostam de YA, mas que estão sem paciência para o gênero.

22 de agosto de 2014

Sobre mudança de perspectiva e gostar de adquirir livros | Vida de Leitora #07



Há alguns meses escrevi um post falando sobre ter mais livros do que podia ler e do quanto aquilo estava me incomodando. Pelos comentários recebidos, pude perceber que não sou a única a passar pela situação e que, aparentemente, o acúmulo de livros é um fato recorrente na vida dos apaixonados por livros.

Também me dei conta de que alguns dos livros na minha pilha de não lidos já não me despertam o mesmo interesse de quando os adquiri. Não são muitos e, em sua maioria, são livros que comprei por impulso, sem parar para pensar se realmente iria apreciar a leitura. Obviamente, me senti mal por isso, afinal de contas, investi dinheiro naqueles livros, certo? E agora, não tenho a mínima vontade de lê-los. Por outro lado, muitos dos livros esquecidos continuam a me atrair e me pergunto constantemente o motivo de não os ter lido ainda.

Meio desesperada e sufocada pelos livros não lidos da estante, em março resolvi me impor um book buying ban - uma proibição de comprar livros (ou um certo número de livros) - até o mês de agosto, quando deveria repensar a ideia e ver se tinha funcionado. Até junho as coisas funcionaram muito bem, mas é claro que depois disso tudo ficou um tanto "complicado", principalmente com o número absurdo de promoções que começaram a rolar desde julho. Logo, percebi que essa história de proibição não funciona para mim. Ainda assim, não foi uma experiência inútil; pude aprender bastante e modificar alguns dos meus hábitos como compradora de livros

Com o book buying ban - que não foi total, pois me permitia a compra de apenas um livro por mês - aprendi a ser um pouco mais criteriosa com o que iria adquirir, priorizando os clássicos ou livros de autores que já conhecia e sabia que não iria me decepcionar com a leitura. Passei a comprar livros que sabia que iria ler em algum momento da minha vida e que, mesmo que não gostasse de algum aspecto neles, a experiência continuaria a ser válida e enriquecedora. Dessa forma, priorizando a qualidade ao invés da quantidade, ficou claro que mesmo que um livro fique um ano parado na estante, ele ainda vai continuar me despertando o interesse.

Acredito muito que há um momento certo para cada leitura e que se um livro for lido na hora errada, a experiência pode ser arruinada. Logo, não vejo mal em comprar um livro que me interessa e que esteja com um preço bom mesmo que não vá lê-lo imediatamente. Gosto de saber que, na hora certa, ele já estará me esperando. A Tary, do canal LiteraTour, fez um vídeo muito interessante sobre o assunto e em determinado momento diz algo que acho muito bonito: os livros não lidos na estante são promessas. Ou seja, ao adquirir um novo exemplar sem a pretensão de iniciar a leitura imediatamente, estamos fazendo uma promessa de que algum dia o faremos.

Com essa mudança de perspectiva, parei de me desesperar com a pilha de não lidos, pois sei que vamos nos encontrar em algum momento. E quanto aos livros comprados por impulso, ainda não sei o que fazer. Provavelmente, trocarei em algum sebo ou doarei para alguma biblioteca. Assim, deixo espaço para as novas e desejadas aquisições.

Não sei se as minhas reflexões fizeram algum sentido para vocês, mas espero que seja de utilidade para aqueles que, de vez em quando, se assustam com a quantidade de livros parados na estante. Espero que ajude também aqueles que estão com medo de como irão reagir na Bienal. Penso que, desde que você não esteja se prejudicando financeiramente, não há problema em querer colecionar seus livros. Então, que tal encarar a situação dos livros não lidos na estante por uma perspectiva diferente e, quem sabe, até mais consciente e responsável? 

Texto publicado originalmente na coluna Literalmente Falando, do blog Literature-se.