20 de agosto de 2013

Convite para um homicídio (Agatha Christie) | Miss Marple, livro #5 (primeira leitura)

Em Convite para um homicídio, Agatha Christie nos apresenta uma típica manhã no pequeno vilarejo de Chipping Cleghorn, nos apresentando o cotidiano de seus moradores e alguns de seus hábitos, como o de religiosamente ler o caderno de classificados no Chipping Cleghorn Gazette. A narrativa inicia com o que poderia ser um dia corriqueiro, como qualquer outro, não fosse um anúncio peculiar no jornal: um homicídio iria acontecer às 18h30 na residência de Letty Paddock e todos estavam convidados.

Como era de se esperar o anúncio obteve bastante repercussão. Uns acharam que se tratava de uma brincadeira de mal gosto planejada por Patrick, sobrinho de Letty Paddock; outros resolveram acreditar que se tratava de um convite para jogar detetive. A suposta anfitriã não poderia estar mais surpresa com o convite, já que ela não sabia de nada, e, ao perceber que não teria escapatória, resolve fazer uns breves preparativos para receber os "convidados". No fim da tarde, um grupo de pessoas decide comparecer ao evento. Alguns para, de fato, brincar de detetive; outros apenas para saber do que se trata; e tem aqueles que só vão para saber das últimas fofocas da região.

Os comes e bebes foram preparados, os convidados foram pontuais e chegou a hora de começar a brincadeira... as luzes se apagaram. Um homem mascarado abre a porta da frente. É possível escutar o som de dois disparos. O homem cai, morto, no chão da sala de visitas. E assim, mais uma vez, Agatha Christie consegue nos prender a mais um mistério. Dessa vez, acompanharemos a investigação do inspetor Craddock, que contará com a ajuda de ninguém mais, ninguém menos que a adorável Miss Jane Marple, uma velhinha que, por trás dos cabelos brancos e das agulhas de tricô, esconde muita inteligência e sagacidade. 

Ainda não conhecia Miss Marple e não consigo pensar em uma apresentação melhor. Quanto ao mistério em questão, apenas direi que foi um dos melhores que li da autora até agora. Não consegui, de forma alguma, descobrir quem era o assassino e vocês não tem ideia de como fiquei surpresa quando o mistério foi revelado. 

A coerência com que Agatha liga cada um dos pontos e pistas da investigação me deixou bastante irritada com a minha falta de capacidade para perceber o que estava bem na minha cara, rs. Gente, sério, tudo faz sentido e a solução é bastante satisfatória. A narrativa dispensa comentários extensos: é Agatha em sua melhor forma. Para concluir, direi apenas que Convite para um homicídio é sim uma leitura recomendada e que pode funcionar muito bem como porta de entrada para aqueles que ainda não estão familiarizados com os romances da autora.✦

7 de agosto de 2013

O Mistério do Trem Azul (Agatha Christie) | Hercule Poirot, livro #6 (primeira leitura)

O mistério do Trem Azul
, publicado em 1928, nos apresenta a Riviera Francesa, local onde os ricos britânicos costumavam passar o inverno e que servirá como cenário para a narrativa de Agatha Christie. Ruth Kettering faz parte da alta sociedade britânica e é bastante infeliz em seu casamento com Derek, que só se casou pela fortuna do pai da moça e a trai com uma dançarina. Determinado a convencer a filha a pedir um divórcio, Rufus Van Aldin, um milionário norte-americano, resolve presenteá-la com um mimo: um colar de rubis conhecido como Coração de Fogo, famoso e cobiçado por ter pertencido a muitos reis, imperadores e czares, além de ter uma história recheada de tragédias e mortes.

Dias após garantir ao pai que irá se divorciar de Derek, Ruth embarca no Trem Azul, rumo à Riviera Francesa. O motivo que a levava até lá era desconhecido. Durante a primeira noite no trem, Ruth é assassinada de forma bastante brutal e seus rubis são roubados. Ninguém observou nada de estranho durante a noite e o crime só foi descoberto no dia seguinte. Para sorte da polícia francesa e para a alegria do leitor, Hercule Poirot estava à bordo do Trem Azul e resolve investigar o crime que, aparentemente, não deixou nenhuma pista.

Ao longo da investigação vamos descobrindo como era a vida de Ruth e, consequentemente, os suspeitos começam a surgir, como, por exemplo, um possível amante do passado. Além de acompanharmos Poirot em sua investigação, conhecemos Katherine Grey, uma dama de companhia que herdou uma grande fortuna e que também estava à bordo do Trem Azul, sendo a última pessoa que viu a vitima com vida.
Sinceramente, não entendi muito bem qual foi a utilidade de Katherine Grey na história. No começo, até compreendi, já que ela havia sido a última pessoa a conversar com Ruth Kettering, mas ainda não entendi qual foi a necessidade de contar toda a história da personagem. Não que ela fosse desinteressante, muito pelo contrário, durante a leitura eu fiquei mais preocupada com a vida de Katherine do que com a solução do crime, que diga-se de passagem parece ter sido esquecido durante parte do livro.

De uma forma geral, esperava mais de O mistério do Trem Azul. Não que seja um livro ruim, mas de modo algum pode ser considerado um dos melhores da autora. A sensação que tive foi que, em algum momento, Agatha se perdeu; se esqueceu do crime. Não sei. O fato é que tudo fica muito solto, a narrativa para de focar na investigação e começa a mostrar a vida cotidiana dos personagens. No fim das contas, não gostei nem um pouco da solução do crime, porque a meu ver, ao contrário do que ocorreu com outros livros da autora, as pistas deixadas não foram muito explicadas e não consegui ligar muitos pontos. Ficou faltando algo. Nem o brilhantismo de Hercule Poirot me ajudou.✦

Avaliação: 

6 de agosto de 2013

O oceano no fim do caminho (Neil Gaiman)

O oceano no fim do caminho nos traz a história de...um homem/menino. Sim, vou me referir ao protagonista dessa maneira porque ele não tem nome e se o tem, o mesmo não é mencionado no livro. Tudo começa quando o protagonista, já adulto, retorna à cidade em que viveu a sua infância por conta do velório de um parente. Ao chegar, talvez por angústia, talvez por não saber como reagir aos comentários dos convidados, ele resolve sair do local do velório, entrar no carro e dirigir até o fim da rua. A intenção inicial era poder rever a casa em que viveu tantos momentos marcantes de sua infância, mas, a casa foi demolida há anos. Dessa forma, o protagonista resolve continuar dirigindo até chegar à Fazenda Hempstock, onde vivia Lettie - uma amiga de infância -, na companhia da mãe e da avó.

Ele entra na casa e é recebido por uma senhora, que o reconhece. Ainda abalado por conta do velório, ele pede para entrar na casa e ver o lago que fica no quintal. Lago que, anos atrás, Lettie o havia convencido que era um oceano. Após sentar em um banco na beira do lago e começar a observar a água, o protagonista conduz o leitor durante a narrativa de suas memórias, apresentando fatos que marcaram parte de sua infância - fatos esquecidos, ou talvez recordados de forma diferente.

Só posso contar isso porque qualquer coisa a mais pode estragar a leitura. Parte da graça de O oceano no fim do caminho é ir descobrindo as coisas conforme elas vão sendo contadas. Mesmo que a história seja narrada por um homem adulto, acompanhamos as aventuras de uma criança de sete anos e observamos tudo a partir de seu ponto de vista inocente, que não entende muito bem porque a vida é do jeito que é.

É o tipo de leitura que cada um vai interpretar de uma maneira diferente. E isso se deve ao fato de Neil Gaiman remeter à infância. Fica difícil não se identificar com a inocência do protagonista, com os questionamentos que ele faz. Durante a leitura, muitas vezes, me peguei lembrando de quando eu tinha sete anos e da forma como eu costumava encarar o mundo. Quando terminei, não sabia explicar - e ainda não sei - o que sentia. Era um misto de nostalgia, angustia e melancolia. Mas sabe quando é possível enxergar beleza nesses estados? Então, foi justamente o que aconteceu! Neil Gaiman é famoso por inserir elementos fantásticos em suas histórias e com O oceano no fim do caminho não poderia ser diferente. Mas, ao contrário do que aconteceu em Lugar nenhum, a fantasia não é foco principal do livro novo. Pelo menos não a meu ver.

Em linhas gerais, querem saber se recomendo a leitura de O oceano no fim do caminho? Sim, mas talvez não seja a melhor opção para quem não conhece nada do autor. Não porque seja um livro ruim - longe disso! - mas porque estamos falando de um livro mais introspectivo, mais reflexivo, que mexe com o emocional. Tem aventura, fantasia e imaginação? Claro que tem, afinal de contas, a vida de uma criança de sete anos é cheia desses elementos, mas é como eu disse, eles não são o foco principal na narrativa.✦

1 de agosto de 2013

Lugar Nenhum (Neil Gaiman)

Lugar Nenhum - primeiro romance de Neil Gaiman, publicado em 1996 - vai nos trazer a história de Richard Mayhew, um escocês que vive em Londres e leva uma vida aparentemente normal: trabalha em um escritório e está prestes a se casar com Jessica, uma bela e chata mulher. Em uma noite, enquanto se dirigia para um jantar com o chefe de Jessica, Richard é surpreendido ao encontrar uma garota bastante ferida - que parece ter brotado do nada, diga-se de passagem - caída no chão. Ele decide ajudá-la e, mesmo achando curioso o fato de ela pedir para não ser levada para um hospital, a leva para casa.

É a partir daí que a vida de Richard para de fazer sentido. Ainda em seu apartamento, Richard descobre que o nome da garota é Door e que ela estava fugindo do Senhor Croup e do Senhor Vandemar, duas pessoas (?) que receberam ordens para matá-la. Se não fosse por Richard, Door poderia estar morta. E por causa disso, ele sofreria as consequências.

No dia seguinte, após se despedir de Door, Richard percebe que se tornou invisível para aqueles que antes faziam parte de sua vida. Não é mais reconhecido no escritório, seu melhor amigo não sabe quem ele é, Jessica nunca o conheceu, seu apartamento foi vendido. Richard se tornou invisível. Pior que isso, é como ele nunca tivesse existido. Por mais peculiar que seja a sua situação, Richard não demora a perceber que não é o único em tal condição. Descobre também a existência da Londres - de - Baixo (situada no subsolo da Londres - de - Cima), um enorme labirinto nos esgotos, povoado por toda sorte de gente e criaturas, como monstros, monges, nobres do passado e ratos, claro. E é óbvio que Door só poderia vir dali.

Mas quais foram os motivos que a levaram a fugir? Por que queriam matá-la? E por que apenas Richard parecia ser capaz de enxergá-la naquela noite em que estava ferida? Essas são algumas das perguntas que o leitor faz enquanto mergulha na narrativa construída por Gaiman, que faz uso de muita criatividade ao nos apresentar esse mundo novo que é a Londres - de - Baixo, um lugar sem noções claras de tempo e espaço.

É lá que Richard irá conhecer o Marquês de Carabas, um homem meio obscuro e difícil de decifrar, pois sua personalidade é cheia de enigmas. O Marquês se une a Richard e Door em uma missão - que eu não vou contar, para não estragar a graça - e, no meio do caminho eles irão conhecer personagens bastante inusitados, como a caçadora Hunter e o anjo Islington. Ah, e ainda terão que lutar contra o tempo, pois os Senhores Croup e Vandemar não desistiram da ideia de matar Door.

Não fazia ideia do que esperar desse livro e morria de medo de não gostar, porque se isso acontecesse, iria ficar com um pé atrás antes de resolver ler qualquer outra coisa escrita por Neil Gaiman. Fiquei feliz por ter escolhido começar com Lugar Nenhum que, pelo que pude perceber, não figura na lista das obras - primas do autor, como Deuses Americanos e Sandman. O que mais me encantou durante a leitura é que, de alguma forma, a história tem algum elemento não identificado que me fez lembrar dos desenhos animados que eu gostava de assistir quando era criança - aqueles produzidos nos anos 1980 que envolviam jovens e magia.

Eu sei que pareci meio vaga na última frase, mas é que eu realmente não sei qual é o elemento que me fez gostar tanto de Lugar Nenhum. Só sei que gostei! E o único motivo de ter tirado uma estrelinha na minha avaliação final (4 estrelas) é que, quando terminei a leitura, fiquei com a sensação de que algo ficou faltando. Mas nem isso foi capaz de estragar a experiência. Muito pelo contrário, do começo ao fim, a narrativa de Gaiman me prendeu, me deixou curiosa para descobrir qual seria a nova descoberta de Richard naquele mundo subterrâneo esquisitíssimo. 

Justamente por essa capacidade incrível ao contar uma história que considero Lugar Nenhum uma leitura super recomendada, que pode, inclusive, ser uma porta de entrada para aqueles que, com eu, não conheciam o trabalho do autor. Dessa forma, recomendo sim a leitura!✦