15 de maio de 2013

Quem é você, Alasca? (John Green)

Quem é você, Alasca? é o primeiro de John Green, publicado em 2005, e nos traz a história de Miles, um adolescente introspectivo e sem muitos amigos - um wallflower. Ele gosta muito de ler biografias e memorizar as últimas palavras de pessoas importantes. A sua preferida é uma frase dita pelo padre e escritor do Renascimento François Rabelais: "Vou em busca do Grande Talvez". Intrigado, Miles decide ir para um colégio interno longe de casa, à procura de seu Grande Talvez.

No colégio, o protagonista logo faz amizade com seu roomate, Chip - que prefere ser chamado de Coronel -, e por meio dele, conhece Alasca, por quem se apaixona quase a primeira vista. Alasca é aquilo que poderíamos chamar de uma pessoa "de lua"; em alguns momentos é extremamente divertida, extrovertida e comunicativa; em outros, se torna completamente autodestrutiva, introspectiva e se afasta de tudo e de todos. Sempre à procura do significado do Labirinto mencionado por Simón Bolívar antes de morrer, Alasca é um mistério para Miles. Um mistério que ele tenta decifrar durante o livro.

Vale mencionar que a narrativa não foca somente na relação (?) entre Miles e Alasca. O leitor também é convidado a conhecer o cotidiano do colégio. Por meio das aulas com Mr. Hyde, Miles e o leitor passam a levantar questões a respeito de fé e religião - meio no estilo O apanhador no campo de centeio - ; acompanhamos também a vida dos adolescentes fora do colégio, seus conflitos, dúvidas e descobertas.

Quem é você, Alasca? é voltado para um público mais adolescente. Mas isso não quer dizer que não tenha uma certa profundidade. Muito pelo contrário, ao lê-lo muitas vezes me peguei recordando os tempos em que o único que me entendia era Holden Caulfield - do já mencionado O apanhador no campo de centeio - e concluí que assim como As vantagens de ser invisível, esse era mais um livro que gostaria de ter lido quando era mais nova.

Recomendo a leitura de Quem é você, Alasca? para aqueles que gostaram dos livros que falei acima e para aqueles que gostam de histórias de adolescentes com mais profundidade, no estilo The O.C., por exemplo. Acho interessante mencionar que, mesmo que tenha sido escrito por John Green e que os personagens principais sejam adolescentes, Quem é você, Alasca? é bem diferente de A culpa é das estrelas. Claro que a escrita divertida e sarcástica do autor se faz presente em ambas as narrativas, mas, a meu ver, acho bem mais fácil se identificar com os personagens da estreia de John Green.✦

8 de maio de 2013

O Diário de Anne Frank (Anne Frank)

Minha história com O Diário de Anne Frank data desde os tempos do colégio, quando uma mini Michas assistia à aulas de História e, por alguma razão completamente desconhecida, resolveu colocar na cabeça que o diário acima mencionado tratava, na verdade, de relatos horrendos e assustadores do que acontecia em campos de concentração. Por essa concepção errônea, acabei me privando de ler um dos mais influentes livros do século XX.

Caso alguém não saiba, Anne Frank foi uma menina judia alemã que vivia em Amsterdã, na Holanda, junto com seus pais e sua irmã mais velha, Margot. O motivo de ter abandonado a sua terra natal se deu porque, em 1933, o nazismo já estava ascendendo na Alemanha e a família Frank teve que se mudar para a Holanda, onde viveram bem e em segurança até 1942, quando foram obrigados a abandonar a vida que conheciam para viver em um esconderijo atrás de um armazém que, mais tarde passou a ser chamado de Anexo Secreto. O motivo para a brusca mudança se deve à ocupação nazista na Holanda. Além dos quatro integrantes da família Frank, ainda estavam abrigados lá a família Van Dan - pai, mãe e o filho, Peter - e o dentista Albert Dussel (os nomes dos integrantes do Anexo Secreto foram mudados no diário, com exceção da família Frank).

Durante dois anos, essas oito pessoas viveram ali, em situações precárias e, por precárias eu quero dizer, REALMENTE precárias, em que não podiam usar o banheiro durante o dia, o que os obrigava a fazer suas necessidades biológicas em vasos e/ou baldes, que ficariam no local até que alguém pudesse sair para se livrar de tudo; passavam meses comendo apenas batatas e/ou couves, muitas vezes já estragadas; entre outras que prefiro não contar para não estragar a leitura de quem ainda não conheceu o diário. No período de dois anos, Anne Frank relatou em seu diário a situação que estava vivendo no Anexo Secreto, acrescentando informações sobre o que estava acontecendo no mundo, de acordo com o que escutava no rádio.

Além dos relatos da guerra e do cotidiano do Anexo Secreto, o leitor também tem acesso aos pensamentos mais íntimos da garota de 13 anos que amadureceu muito rápido durante um período de dois anos. Em meio a comentários sobre a sua sexualidade, a descoberta do amor e as confissões e desabafos a respeito do que pensava de sua família - especialmente de sua mãe, com quem, claramente, tinha muitos problemas -, fica claro que Anne tinha uma personalidade muito forte e era incompreendida por aqueles que a rodeavam. 

No início de 1944, o primeiro ministro holandês, que estava exilado na Inglaterra, fez um pronunciamento no rádio pedindo a todos os holandeses que mantivessem uma documentação - cartas e diários - do que estava acontecendo no país durante aquele período para que, depois da guerra, pudessem ser recolhidos como material histórico. Ao saber disso, Anne resolveu organizar as anotações em seu diário, acrescentando informações de valor histórico, com a intenção de publicar um livro quando a guerra chegasse ao fim.

Todos sabem o desfecho dessa história: Anne Frank não sobreviveu para ver a sua história publicada, porque em 1944, soldados nazistas encontraram o Anexo Secreto e prenderam as oito pessoas que ali viviam. Posteriormente, Anne e Margot foram separadas dos pais e enviadas para outro campo de concentração, onde acabaram morrendo de tifo em 1945. O Diário de Anne Frank sobreviveu graças à Miep Gies, a esposa de um dos donos do armazém que escondia o Anexo Secreto; ela encontrou o diário de Anne e o escondeu até o final da guerra, quando, só após saber da confirmação da morte de Anne, o entregou a seu pai, Otto Frank, que publicou o diário da filha em 1947. 

Como pude constatar ao fim de minha leitura, O Diário de Anne Frank não é o relato das atrocidades que aconteceram nos campos de concentração. Mas isso não o torna menos triste e, de certa forma, perturbador. Anne era uma menina de 13 anos como muitas outras, cheia de sonhos que jamais se realizaram. Hoje, além de me arrepender profundamente por ter demorado tanto para ler o relato de Anne Frank, compreendo o motivo de o livro ainda vender tanto. As futuras gerações precisam ter consciência do que foi o período em que este livro foi escrito - marcado pela violência das guerras, pela intolerância, pelo nazismo -, para que jamais deixem a humanidade chegar a tal ponto. Precisam entender que hoje sabemos quem é Anne Frank, mas que nas valas comuns dos campos de concentração, muitas e muitos outros Annes Franks foram enterrados, suas vidas findadas e suas histórias jamais conhecidas.

Finalizo este texto recomendando a leitura de O Diário de Anne Frank à todos. Mesmo que não seja o tipo de leitura que vocês gostam, acho que vale a pena sim sair da zona de conforto, porque este diário merece atenção. É o tipo de leitura que incomoda, mas que faz bem.